Capítulo 44

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As luzes acima da porta do elevador se iluminavam a cada andar que passava e Bianca estava tentando focar nos números que apareciam. Ela não se lembrava de chegar ali. Ela não se lembrava de comprar os dois copos de café que agora estava segurando. Ela se lembrava de estar em seu quarto. Se lembrava de não estar conseguindo dormir. Se lembrava de ensaiar o que diria para Rafaella, tentando organizar as palavras, esperando que a combinação certa se revelasse.

O elevador apitou suavemente, outro andar se passou e ela ainda não sabia o que iria dizer. Ela podia voltar atrás, ainda havia tempo para mudar de ideia. Mas e depois? Será que ela iria querer passar seus dias engolindo seus sentimentos? Não era melhor colocá-los para fora logo e seguir em frente? Ela não sabia.

Ela observou os números e desejou que seu coração se acalmasse. Ela faria isso. Ela iria admitir seus sentimentos e enfrentar o constrangimento que viria a seguir. Ela garantiria a Rafaella que nada mudaria; que elas poderiam continuar a ser amigas. Eventualmente, Rafaella voltaria para São Paulo e elas poderiam retomar os e-mails - ou, mais provavelmente, perder o contato por completo - e em algum momento, esses sentimentos desapareceriam ou, melhor ainda, seriam transferidos para outra pessoa. Mas ela teria sempre este dia para se recordar; o dia em que ela colocou seus medos de lado e assumiu o controle de sua vida.

As portas do elevador se abriram e ela saiu, colidindo quase que imediatamente com a pessoa que estava lá. Ela conseguiu, de alguma forma, evitar que o café derramasse enquanto tentava recuperar o equilíbrio. "Eu sinto muito, eu..." Ela congelou quando olhou pra cima. Demorou um momento para registrar que era Marcela ali de pé na frente dela, vestida com roupas amassadas e cheirando a álcool.

O olhar de Bianca desviou rapidamente para porta de Rafaella e uma sensação que ela não reconhecia cresceu dentro dela, de forma obscura e avassaladora.

"Bianca!" Marcela parecia tão surpresa quanto Bianca. "Oi! Eu, hm..." Ela parecia estar à procura de uma desculpa do porque ela estava lá a essa hora.

Elas passaram a noite juntas. Isso era tudo o que Bianca conseguia pensar enquanto olhava pra Marcela. Elas passaram a noite juntas. Bianca de repente se sentiu doente. Qual era a coisa certa a se fazer agora? Voltar para o elevador e descer com Marcela? Não, isso seria muito estranho. "Oi! Eu só queria fazer uma pergunta rápida para Rafaella sobre este projeto de arte que ela me contratou pra fazer..." disse ela. "Ela está em casa?"

Pronto. Isso foi casual. Não gritava: 'eu vim aqui para dizer à garota que você acabou de ficar que eu a quero'.

"Eu acho que ela estava no banho quando eu saí, mas ela está em casa." Marcela se moveu para evitar que as portas do elevador se fechassem.

Bianca tentou não pensar no fato de que Marcela estava no apartamento de Rafaella, porque isso só servia para confirmar suas suspeitas. Ela não podia pensar nisso agora. Ela preferiu se concentrar em quão ridícula era a sensação de estar lá com dois copos de café; o quão óbvia e transparente isso a fazia se sentir. "Hm, você gostaria de um café? Eles me deram um copo extra por engano."

"Sim?" Marcela aceitou o copo com uma expressão aliviada. "Obrigada. Isso é muito gentil." Ela suspirou. "Eu bebi demais ontem à noite e estou com uma ressaca horrível, eu tenho que ir logo pro estúdio e... desculpa, você não precisa ouvir nada disso. Foi muito bom esbarrar em você de novo. Literalmente." Ela riu quando se afastou para dentro do elevador.

"Sim, foi." Muito bom.

"Obrigada mais uma vez!"

Bianca forçou um sorriso que desapareceu assim que o elevador fechou. Ela olhou para seu reflexo nas portas metálicas do elevador e balançou a cabeça. E agora? Admitir tudo para Rafaella estava fora de questão. Marcela já sabia que ela esteve lá, sendo assim, ir embora também estava fora de questão.

The Blind Side of Love (Rabia version)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora