Capítulo 16

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"Oi", ele disse em um tom tão diferente que Bianca não sabia quem tinha falado até levantar seu olhar. Diogo estava em sua frente, as mãos enterradas nos bolsos da calça. Ele deixou que seu olhar percorresse o Aterro antes de olhar de volta para Bianca. "É meio perigoso ficar sozinha aqui."

O vento soprou forte no momento, fazendo que uma garrafa de água vazia rolasse pelo chão.

Bianca assistiu a cena em silêncio, brevemente irritada com a pessoa que jogou a garrafa no chão. Em circunstâncias normais, ela se levantaria e jogaria a garrafa no lixo. Mas ao invés disso, ela segurou as páginas do seu caderno enquanto o vento soprava de novo. "Estou tranquila." Ela disse.

"Você gostou das flores?"

Bianca olhou para baixo, se sentindo cansada. Ela queria que ele fosse embora. "O que você quer, Diogo?"

Ele se sentou ao seu lado sem pedir permissão. Ele provavelmente sabia que ela não daria se ele pedisse. "Eu quero me desculpar."

Bianca o encarou tentando não parecer tão surpresa quanto realmente estava. Diogo? Se desculpando?

"Não foi sua culpa que eu..." Diogo hesitou e começou de novo. "Meus pais estavam fazendo uma pressão absurda para eu ficar com outra pessoa." Ele falou olhando para ela rapidamente. "Não é que eles não gostavam de você, mas é só que você não é... você não é..."

Bianca tentou ignorar a sensação de nojo que ela sentia cada vez que pensava nos pais de Diogo. É claro que ela sabia que não era da classe alta. Claro que ela sabia que os pais dele não aprovavam ela, sua família e o seu relacionamento com Diogo. É claro que ela sabia que eles haviam ameaçado deserdar o Diogo se ele não terminasse com ela. Eles haviam deixado claro que ela não era boa o suficiente para ele.

Diogo se virou de lado para poder encará-la. "As coisas ficaram muito feias, e eu tive que dizer pra eles que nós havíamos terminado."

Bianca engoliu em seco, odiando o fato daquilo a ter machucado. "Quando?"

"Faz seis meses." Ele disse. "Me desculpe, Bianca. Foi a única forma de fazê-los me deixarem em paz. A única forma de fazê-los nos deixarem em paz. Mas, não foi o suficiente." Ele fez uma pausa e respirou fundo, indicando que o que viria a seguir seria muito pior. "Eles arranjaram uma menina para mim. A filha de um amigo do trabalho do meu pai. Ela vai fazer intercâmbio também e a gente... a gente se acertou. É por isso que eu andei tão distante. Eu... Eu estive com ela."

Bianca olhou para ele incapaz de formular palavras.

"Eu estava falando a verdade quando disse que te amava. É por isso que eu achei que você poderia fazer intercâmbio comigo. Eu achei que quando a gente noivasse, a gente acertaria as coisas. Eu queria achar que as coisas entre eu e a Fernanda eram apenas temporárias..."

"Fernanda," Bianca disse calmamente, esperando que o nome a fizesse sentir alguma coisa. Raiva, ou amargura, qualquer coisa. Mas ela não sentiu nada além do vazio. "Você transou com ela enquanto nós estávamos juntos?"

Diogo distanciou o olhar. "Me desculpe."

Bianca assentiu. "Obrigada por me contar." Ela disse se levantando.

"Bianca..."

"Tá tudo bem." Ela disse, sem ter certeza se era mesmo verdade ou mentira. Estava ficando tarde e ela sentiu a necessidade de andar pra ir embora. Talvez se ela andasse, o vazio que a dominava desaparecesse. "Pare de me ligar."

"Você me odeia?"

"Não." E isso ela sabia que era verdade. "Mas eu não quero te ver de novo. Nem tão cedo. Talvez um dia, em dez anos ou mais, a gente vai se esbarrar pela rua por acidente, e a gente consiga rir um para o outro e lembrar desse momento sem se sentir triste ou amargurado. Talvez aí eu fique feliz em te ver. Mas agora, se eu te ver de novo, se eu encontrar com você e ver você rindo ou gargalhando com um grupo de amigos, se você me chamar e dizer um 'oi', eu acho que eu vou te odiar. E talvez eu comece a te odiar no momento em que eu sair daqui, não posso te prometer que não vou. Mas agora, nesse exato momento, eu me sinto aliviada. Aliviada disso tudo ter acabado. Aliviada de não ser mais sua. Mande um abraço para a Fernanda. Eu desejo o melhor para você dois. Adeus, Diogo."

The Blind Side of Love (Rabia version)Where stories live. Discover now