Capítulo 9

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Era um dia chuvoso quando Bianca decidiu visitar seu meio-irmão, e ela quase desistiu da ideia. Ela parou na entrada de seu apartamento, segurando um guarda-chuva sobre sua cabeça, observando os buracos na rua se encherem de água suja. Ela considerou a possibilidade de voltar para casa, colocar um pijama e passar o dia fazendo nada, mas então se lembrou do olhar de Miguel no dia que ele saiu do apartamento de seus pais, e ela sabia que não podia adiar mais um dia na conversa que queria ter com ele. Ele já tinha esperado demais.

Durante o caminho até Botafogo, ela desenhou o mendigo que estava dormindo em um assento na frente dela. Antes de sair do metrô ela colocou um pacote de biscoitos embaixo do braço do homem, sentindo-se culpada por não ter mais nada para lhe dar.

O vento ficou mais forte durante sua caminhada até o apartamento de Miguel, fazendo com que o guarda-chuva a puxasse para trás. Tentando se distrair da chuva, ela tentou pensar no que diria a Miguel quando chegasse na casa dele. Ela não conseguia pensar em nada que não fosse: 'Me desculpe.' A possibilidade de que ele poderia não estar em casa só passou pela sua cabeça quando ela estava a apenas um quarteirão de distância.

Ela poderia ter ligado, ela sabia. Ela poderia ter ligado e falado tudo o que ela queria por telefone.

Ela poderia ter evitado pegar o metrô e ter que caminhar na chuva, poderia ter evitado o constrangimento de encarar o seu irmão de criação quase duas semanas depois de sua revelação, mas ela lhe devia mais do que uma conversa por telefone. Ela o devia, pelo menos, um abraço.

Uma mulher e três crianças estavam saindo do prédio quando Bianca chegou, e uma das crianças era educada o suficiente para segurar a porta para que Bianca pudesse entrar. Ela agradeceu o menino com um sorriso, e expressou seu agradecimento à mãe, que parecia mais irritada do que satisfeita com o cavalheirismo do seu filho. Bianca culpou o mau-tempo.

O guarda-chuva deixou um caminho de gotas no corredor enquanto ela andava, e formou uma pequena poça no seu pé enquanto ela encarava nervosamente a porta do apartamento de Miguel. Ela conseguia ouvir uma música vindo de dentro.

Depois de um tempo, Bianca finalmente bateu na porta.

A música pareceu ficar mais alta quando a porta foi aberta, e Bianca encarou o rapaz bonito que a encarava de volta, sem saber o que dizer. "Sim?" Disse o cara que Bianca não reconhecia.

"Oi. Desculpe. Eu estou procurando pelo Miguel." Ela disse se perguntando se por algum motivo ela tinha batido na porta errada ou se Miguel havia se mudado sem contar para ninguém.

"E você é....?"

"Bianca Andrade," ela disse. "Eu sou—"

"Ai meu Deus!" Ele gritou, sua voz subindo e seu comportamento mudando para uma agradável surpresa. "Você é Bianca? A Bianca?" Ele deixou a porta se abrir por completo e encarou Bianca de cima abaixo. "Você é mais linda do que aparentava nas fotos." Ele sorriu e estendeu a mão para ela. "Eu sou Eusébio."

Bianca tinha certeza que não estava entendendo nada, mas apertou a mão dele.

"Eu sei que você não tem ideia de quem eu sou," ele disse. "Mas eu sei tudo sobre você. Entre, entre."

Ele deu um passo para o lado. "Miguel não está em casa agora, mas você é bem-vinda para esperar por ele. Você tá ensopada. Quer uma toalha?" Ele desapareceu pelo apartamento e a música parou abruptamente.

"Ah, não precisa. Eu tô de boa." Bianca disse, quando Eusébio reapareceu.

"Um pouco de café? Chá?" Eusébio foi em direção ao balcão, que era à esquerda da porta de entrada. Ele limpou um banquinho que estava junto ao balcão e fez menção para que Bianca se sentasse. "Ele vai ficar muito feliz de te ver. Ele tem sido um chato desde que voltou da casa dos seus pais, e eu tento falar 'Querido, você precisa ter paciência. Eles vão te procurar.' E olha só, você veio. Só para provar que eu estou certo." Ele arqueou as sobrancelhas parecendo confuso. "Você quer café?"

The Blind Side of Love (Rabia version)Where stories live. Discover now