Capítulo 27

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Alan

Era tudo muito bonito, eu estava bem acordado e ansioso para amanhã.
Eu imaginava como a festa seria, Judy disse que teria uma festa e estou animado para ir.

De tanto pensar começo a ter fome.

Caminho pela casa sem fazer a menor ideia de onde poderia ser a cozinha.
Desço as escadas que dão em uma antecâmara, atravesso o cômodo e entro num corredor escuro.
O corredor tem algumas portas e me pego um pouco perdido em meio a tantas portas.
Abro a primeira da esquerda e dou de cara com Tefhy, sem camisa, lavando ela numa pia.

— O que aconteceu ?
Ele dá um sorriso sem graça.
— Eu, assaltei a cozinha e acabei sujando a camisa.
— Pode mostrar onde é a cozinha ? Estou morrendo de fome.

Ele ri anasalado e joga a camisa sobre um dos ombros.
Sigo ele até a cozinha que mesmo vazia e sem nada cozinhando, tinha cheiro de pão fresco e bolo recém assado.

Eu e Tefhy continuamos q conversar enquanto comemos.
Ele estava contando de como foi a visita dele e como gostou daqui.
Isso só me deixava com mais expectativa de ver tudo.

— Eu comprei algumas coisas aqui, é tudo de boa qualidade, minha mãe amou as jóias que eu dei para ela.

Ele gesticula com as mãos enquanto fala.
Passamos de um assunto a outro bem rápido.

— As montanhas são enormes. – diz abrindo os braços e derramando molho branco em mim.
— Ah droga ! Desculpa. – diz atrapalhado.
— Não se preocupe.

Eu realmente não me importo com a calça suja, posso me trocar depois.
Mas ele não parece pensar desse jeito.

Tefhy

Primeiro derramo o molho na minha camisa e depois na calça dele.

Eu sou um imbecil !
Sempre atrapalhado.

O incrível é que é só na frente dele !

Eu não entendo o que acontece, sempre que estamos juntos: nos treinos, enquanto andamos na rua, ENQUANTO COMEMOS !

Sempre, sem exceções eu faço alguma coisa estúpida.
Ele diz que não tem problema, mas aquela mancha me incomoda e muito.

Depois de um tempo eu não aguento mais.
— Me dá a sua calça.
Ele me olha perplexo.

— O quê ?
— Eu não consigo olhar para essa mancha e não querer limpar.

Ele começa a rir.
— Você realmente fica incomodando ? – pergunta ele.
— Muito – suspiro – desculpe.
Ele balança a cabeça descrente.

— Eu não sei o que é isso, mas provavelmente deve te deixar louco. Vem, é melhor eu não andar sem calças por aí.

Andamos até o andar de cima e entramos no quarto em que ela estava.
Ele tira as calças e me entrega.

Apesar já termos tomado banho juntos, nunca tinha reparado nele direito.

Era estranho e constrangedor, mas eu realmente me incomodava muito.

Me viro em direção ao banheiro e começo a lavar a calça manchada de branco.
Parando para pensar, a mancha branca parecia ser outra coisa e sozinho com meus pensamentos começo a rir.

— Do que está rindo ?
Levo um susto com Alan bem do meu lado me perguntando tão abruptamente.

— Ah... Não é nada.
— Eu daria uma fortuna para saber o que está pensando, está todo vermelho.

Continuo a lavar em silêncio, já era esquisito de mais que ele estivesse sem calça, e o pior, que eu tivesse pedido que ele tirasse.

Apesar de ele não ter se incomodado em tirar a calça, nem mesmo em ficar no mesmo cômodo que outro macho estando semi-nu
—  Alan ?
— Diga.
— Você... Já dormiu com alguém do mesmo sexo ?

Ele olha para mim e eu quase automaticamente peço desculpas.

— Como você soube ?
Surpreso apenas termino de lavar e me viro para ele.
— Sério ?
Ele ri e reafirma com a cabeça.

— Como chegou a essa conclusão ?
— Você não parecia incomodado com... a situação.

Ele dá de ombros e se vira andando até o quarto.
Eu nunca senti atração por ninguém do sexo masculino, mas admito que Alan me confundia e muito.
Sigo ele até o quarto.
— E você ? – pergunta ele.
— Não, eu nunca tive vontade.

Um silêncio constrangedor se instala.
Eu queria perguntar mais.
Tomei coragem e por mais idiota que fosse, perguntei.
— É bom ?

Ele ri muito mais do que o esperado.
— É bom dormir com mulheres ?
Aceno.
— Dormir com homens também. Embora eu prefira machos à homens.

— Você não dorme com mulheres ?
— Durmo, e com fêmeas também.

Eu devo ter parecido tão surpreso quanto me sentia.
— Nunca conheceu alguém como eu ?
Balanço a cabeça.
— Não é isso. É que eu nunca pensei que você fosse diferente.

— Defina diferente.
— Singular, único, diferente.
— Se essa for a definição então todos somos diferentes.
"Cada um de nós é um ser individual e único." Isso te lembra algo ?
— Judy ? – arrisco.
— Judy. – diz ele confirmando. – Não há ninguém igual a você, tanto física quanto mentalmente.

Reflito por um tempo.
— Eu nunca tinha visto dessa maneira.

Ele acena com a cabeça.
— Quase ninguém vê.
Por um instante fico em silêncio e ele também, mas é um silêncio agradável.
— Judy veio falar com você ? – pergunta ele.
Aceno.
— Que festa é essa ?
— É uma festa de agradecimento.
— Vai andar com a gente amanhã ?
— Vou.

Ele sorri minimamente.
Alan é muito bonito, tem o cabelo igual ao da mãe, embora bem cortado.
Eu nunca havia reparado nele com tanta atenção.
A imagem que eu tinha dele: um príncipe sério e responsável, ganha agora um outro lado: alguém que pensa de um jeito interessante e além de brincalhão é muito alegre.

Aos poucos algo em mim também muda, sem que eu sinta tão forte, algo bem lento e muito significativo.
Algo que eu ainda não compreendo.

Já pronto para dormir, as palavras de Alan ainda resoam em minha mente.
Dormir com as constatações dele em meus ouvidos é melhor do que deveria ser.

Votem e comentem.
Sábado vai ter maratona, fiquem ligados

Entre mundos - primeiro volume - Triologia Entre MundosWhere stories live. Discover now