Capítulo 11

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Rowlan

Na manhã seguinte, Judy não tomou café conosco.
Alan e eu estávamos tirando uma folga das nossas tarefas.

O dia inteiro só com meu irmão por companhia, o que pode dar errado ?

Comemos na rua e mesmo depois do almoço ainda jogávamos em todos os lugares possíveis.
— Irmão, vamos lá, você deve gostar de alguma coisa.
— Eu já disse que já fomos no que eu gostava Alan.
— Então escolhe algo que você nunca foi, mas escolhe alguma coisa !

Eu dou um suspiro.
— Aquela – apontei – nunca fui lá.
Entramos na cabine.
Estávamos numa casa de jogos, tínhamos jogado a maioria: Cartas, dardos, dados, adivinhação...
Faltava só a cabine das bebidas, estava de dia, e eu queria evitar, mas ele me encheu tanto o saco para escolher uma que eu acabei falando aquela.

— Olá rapazes ! – nos cumprimentou o senhor que ficava na cabine – Já sabem as regras. Qualquer jogo tem que envolver bebida.
— Qual jogo em dupla você recomenda ?
Alan como sempre, não se importa de beber às 14:00 da tarde.

— Ah, todos são bons.
Ficamos um tempo jogando, Alan perdia um pouco mais do que eu, então quando saímos de lá - às 19:00 - ele estava pior do que eu.

Voltando para casa, bêbado, completamente irritado com Alan, eu estava quase puto da vida.
Não sei como não morremos antes de chegar em casa.

Dormimos ambos no meu quarto, espalhados por aí.
Acordei no meio da noite com muita dor de cabeça, Alan já não estava mais comigo e eu fazia uma oração aos deuses, dizendo que se eles me livrassem da dor de cabeça eu nunca mais beberia de novo.

Fui a cozinha onde uma criada ainda estava limpando e pedi um pouco de café.
Olhei as horas, 22:30.

Parecia meia-noite para mim, eu estava cansado e quase dormia sentado mesmo.
Depois de tomar o café, fui dormir, pensei que a noite não podia ficar pior, mas ficou.

Era tudo escuro, muito frio, não sabia onde estava e nem como tinha ido parar ali.
Olhei ao redor e não vi ninguém, senti algo quente em meu colo, abaixei o olhar me deparando com Judy.

Ela dizia coisas desconexas e baixas, eu me abaixei para ouvir e sua voz fraca e rouca dizia:
— Cuide do Tefhy e da Phyn.

Olhei mais uma vez ao redor e nada, ninguém estava ali.
— Não ! Você vai voltar viva ! Alguém me ajuda ? – gritei.

Peguei ela e saí andando, tentando não machuca-la.
Ela põe a mão no meu rosto, me fazendo parar de andar e olhar para ela.
— Parece que vou ficar devendo uma visita para Terrasen.

Eu acordo.
Não conseguia entender, algo não estava certo.

Olhei ao redor e vi que amanheceria em uma hora.

Me sento na cama ainda me perguntando o que aconteceu, como eu posso ter visto algo impossível como aquilo.
A família dela é poderosa de mais para deixar algo assim acontecer.
Tenho certeza de que ela é poderosa o suficiente para não deixar que a peguem.

Não entendo como esse sonho se infiltrou em minha mente.
Não volto a dormir, fico remoendo o que pode significar, e por que eu fiquei tão abalado.

Não é como se eu devesse ficar tão desconfortável com isso.
De manhã, quase não consigo sair dos meus pensamentos, fico com aquele maldito pesadelo na cabeça.

— Rowlan ?
Por que diabos eu estava chorando ?

— Rowlan ?
— Hm ?
— Você está bem ? – minha mãe me olha preocupada – parece perturbado, filho.
— Eu não dormi muito bem.

Ela olha para meu pai e depois de volta para mim.
— Talvez devesse descansar um pouco.
Eu pisco um pouco cansado realmente.
— Sim – digo – com licença. – me levanto e volto para o quarto.
Talvez dormir um pouco seja bom.

Judy 

No café da manhã ele não parecia bem, mas não acho que descanso possa resolver.
Após o café, vou a cozinha, peço para esquentarem um pouco de água e arrumo um jogo de chá numa bandeja.
Peço a um criado para dizer onde fica o quarto de Rowlan.

Apoio a bandeja na cintura e bato na porta.
Depois de alguns segundos ele abre a porta ainda sonolento e com o cabelo todo bagunçado.
Eu rio pela situação dele.

— Posso entrar ?
Ele abre espaço para que eu passe.
— Você parecia bem tenso hoje. Fiz um chá.
Ele me olha de um jeito estranho.
Acho que sei o que é.

— Olha, eu ainda quero conquistar sua confiança. Ganho pontos com isso ?

O olhar dele suaviza um pouco.
Mas ele ainda parece meio tenso e um pouco aéreo.
— Ei, vem comigo.
Abri um portal para um lugar que descobri enquanto voava com meu irmão.
Ele me olha ainda hesitante.

— Eu não conheço esse lugar tão bem, mas acho que é um bom lugar para relaxar.
Ele se levanta e me segue para dentro do portal.

Rowlan

É estranho.
Entro num portal, dentro dele é uma mistura de luz e escuridão em tons de vermelho e roxo.
O túnel acaba em um terreno irregular.

Quando saímos, em uma montanha cercada por um vale ao lado direito de nós.
Era bonito, um pouco frio, bem claro e muito barulhento por causa do vento.
— Olha, pode falar o que quiser, o vento vai carregar seu segredo – diz gritando para que eu possa ouvir acima do uivo do vento.

Fico por um tempo em silêncio, só tentando me acalmar e entender o que eu preciso pôr para fora.
Ela se distancia um pouco para me dar privacidade.

— Eu tenho medo. Um medo novo que surgiu agora. Não sei o que é, mas envolve você.

Eu disse sem gritar, eu realmente não sabia o que sentir.
— Tive um sonho e tenho medo que seja um mal presságio ou um alerta dos deuses.

Era isso, mesmo que eu não soubesse antes, era isso o que me assombrava.
Era bom poder falar em voz alta, me aliviava um pouco.
Parece que o frio me fez ter uma noção do que era tudo o que estava preso dentro de mim.

Quando vê que eu não falo mais nada ela se aproxima.
— Eu disse que era bom – diz com um sorriso e tentando se aquecer. – podemos ir ? Está um gelo aqui.

Eu rio e aceno em sinal positivo.

Entre mundos - primeiro volume - Triologia Entre MundosWhere stories live. Discover now