Capítulo 18

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Capítulo 18

Tomamos banho juntos, mas Ana não me olhava, senti que ela estava envergonhada com tudo que tinha acontecido e tentei mostrar para ela que eu estaria ao seu lado e cuidaria dela. E em certo momento ela me abraçou, era como se a água levasse embora os seus medos e fizesse com que ela se sentisse restaurada para continuar sua caminhada.

Após sairmos do banheiro, ela estava enrolada em uma toalha me olhando enquanto eu me vestia, senti que seus olhos carregavam uma tristeza que até então estava escondida na imagem de garota feliz e positiva que ela me mostrava. Peguei uma camiseta em meu guarda-roupa e lhe ofereci, ela pegou e por alguns instantes ficou me olhando com o que me parecia ser recato, entendi que eu deveria sair do quarto. Era como se durante o banho ela ainda estivesse em transe e ao terminá-lo ela retornasse ao presente, então apenas beijei sua testa e parti em direção à cozinha.

Encostado a pia, um flashback das cenas anteriores se passou em minha mente. Não conseguia entender porque tanto ódio vindo da prima de Ana. Estava tão concentrado em encaixar as peças que nem percebi quando ela estava no mesmo cômodo que eu vestida com uma camiseta preta sem nenhuma estampa. Achei um pouco mórbida a sua aparência, não condizia com a luz que ela carregava.

— Está melhor? – perguntei a ela

— Sim, obrigada! – ela disse quase num sussurro.

— Quer comer alguma coisa? – estava preocupado com ela, acho que ela não deveria ter comido nada o dia todo.

— Não, obrigada!

Ok, essa conversa monossilábica dela estava me deixando louco. Assenti e abri a geladeira, peguei duas garrafas de água e uma fruta e ofereci a ela. Acho que ela percebeu que eu estava começando a ficar nervoso, então pegou a maçã e deu uma mordida, em seguida lhe entreguei a água e ficamos ali na cozinha um tempo, eu não iria perguntar nada a ela, ia dar o tempo estipulado para finalmente me explicar toda aquela confusão, eu mal podia esperar para que chegasse o outro dia.

Quando ela terminou de comer a maçã e tomou sua água a levei até meu quarto, iríamos dormir e quando acordássemos estaríamos recompostos e eu pronto para saber de tudo.

***

O dia clareou, e eu obviamente não havia dormido quase nada, me remexi a noite toda e aposto que Ana também mal dormiu. Olhei para o outro lado da cama e ele estava vazio e eu já sabia onde ela estaria.

Fui até a sacada e Ana estava sentada no chão fazendo seu ritual de cumprimentar o Sol, sentei ao seu lado beijei sua cabeça e esperei alguma atitude sua. Ela respirou profundamente e sem olhar pra mim começou a falar:

— Eu tinha 18 anos quando entrei na faculdade de Jornalismo, eu tinha acabado de me formar no Ensino Médio e estava convicta de qual carreira seguir, passei no vestibular de uma grande universidade lá de Minas e meus pais estavam orgulhosos de mim.

Ela suspirou mais uma vez e prosseguiu:

— Resolvi que moraria numa república de meninas que ficava ao lado da universidade, de inicio meu pai foi contra, mas depois de muita conversa ele se deu por vencido, afinal eu sempre fui madura o suficiente para não deixar me levar pelos outros. Eu estava radiante, fiz amizade com todas as meninas da república e tinha uma vida que só se baseava em estudar, meus pais conseguiram arrumar um dinheiro que me permitia esse luxo, e por alguns meses eu poderia me dedicar somente aos estudos. Alguns meses se passaram e uma menina que morava comigo me chamou para ir com ela em uma festa que a republica mista do campus ia oferecer, não achei o convite tentador, mas eu precisava me distrair um pouco então eu fui.

Uma lágrima descia pelo seu rosto.

— A festa estava legal e lá conheci várias pessoas que até hoje converso, fiz boas amizades naquele tempo. Então conheci o Caíque, ele era da turma de Ciências Contábeis e tinha 22 anos, um amigo dele que nos apresentou e ficamos conversando a noite toda. Ele era um príncipe, me tratou super bem e resumindo um pouco, começamos a namorar, nós éramos o casal invejado entre os nossos amigos, éramos companheiros, ajudávamos um ao outro e sempre nos diziam que juntos nós éramos lindos, ele era moreno, cabelos pretos, olhos castanho e alto, assim como você – ela me olhou.

Dona Dos Meus OlhosWhere stories live. Discover now