Capítulo 10

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Capítulo 10

Não poderia ter sido mais incrível nosso primeiro beijo, assim que ele passou de calmo e intenso, ele se tornou rápido e selvagem e percebendo o quanto isso ia além das nossas expectativas, com muito sacrifício nos afastamos um do outro, ambos sem fôlego e com um riso cúmplice para o outro.

Afastei uma mecha de cabelo de seu rosto, acariciei sua bochecha e disse:

— Agora você sabe que não te farei nenhum mal. Deixe-me te levar embora, por favor?

— Tudo bem Guilherme, eu deixo – ela disse num tom de derrota. Eu faria de tudo para convencê-la do que seria melhor para ela, e creio que nesse exato momento o melhor sou eu!

Entramos em meu carro e ela me disse onde estava morando, relativamente era próximo de meu bairro, então segui o meu caminho.

Percebi que ela estava um pouco desconfortável então liguei o rádio e em meu arquivo de músicas, procurei uma que se adequava exatamente àquilo que estávamos sentindo, mas que não conseguíamos verbalizar.

A guitarra começou bem baixinha ao fundo e de repente a voz de Nando Reis completou o silêncio, Sei dizia como me sentia em relação ao que aconteceu.

Sabe, quando a felicidade invade
Quando pensa na imagem da pessoa
Quando lembra que seus lábios encontraram
Outros lábios de uma pessoa
E o beijo esperado ainda está molhado
E guardado ali...

 

Percebi que ela cantava acompanhando a música e não deixei de me sentir aliviado em saber que de alguma forma ela também sentia o que a música descrevia.  Resolvi quebrar o gelo e falar sobre como ela pretendia arrumar um emprego em sua área. Ela me disse que tinha alguns contatos aqui em São Paulo e que amanhã iria ao encontro de alguns deles, para apresentar os seus trabalhos que realizou enquanto estava no estágio em um jornal de sua cidade.

Ana parecia ser batalhadora, apesar de conhecê-la tão pouco, ela tinha uma determinação maior que ela, parecia ser daquelas que não fugia da luta.

De repente ela me fez uma pergunta que me deixou desconcertado:

— E o seu irmão?

— O que tem ele? – perguntei desconfiado

— Hoje à tarde ele solicitou que eu o adicionasse no Facebook.

— E você aceitou? – estava ficando nervoso

— Sim, algum problema?

— Não, nenhum  - disse tentando disfarçar

— Guilherme, eu quero que você saiba que eu percebi que o Gustavo é mais extrovertido e que durante a nossa conversa você se sentiu isolado, gostei muito do seu irmão, mas quero que me ajude a fazer com que ele não crie expectativas sobre mim  - ela disse sincera.

Antes de falar sobre o Gustavo, resolvi tocar em um assunto delicado

— E eu Ana? Devo criar expectativas em relação a você ou não? – tentei parecer calmo, mas estava suando frio já.

— Guilherme, não quero dizer que quero um relacionamento tão já, mas gostei muito de você, e acho que valeria a pena continuar lhe conhecendo. E não fique se achando por isso, e nem pense que estou me jogando em seus braços, sou apenas sendo sincera com você – ela disse convicta de suas palavras.

— Eu também gostei de você minha pequena, e penso exatamente igual a você, vale muito a pena ter a sua companhia e se puder seguir de beijos como esse que demos hoje, não estará nada mal – brinquei com ela.

— Em relação ao meu irmão – fiz uma pausa e analisei nossa situação — Ninguém melhor que você para esclarecer as coisas com o Gustavo, não vou mentir dizendo que meu irmão aceitará fácil sua decisão, conheço bem a peça, quando ele encana com uma coisa, não desiste até conseguir – E ao falar isso, me dei conta que o que ele quer, é o que eu também quero, mas não posso magoar o Gustavo, mas será que ele entenderia o que eu e Ana temos?

Como? Como ele entenderia, se nem eu ao certo entendo o que acontece comigo quando eu olho para ela, Ana em menos de 24 horas havia me levado ao céu e feito com que desde que eu a encontrei naquela estação não parava de pensar em seu olhar e seu sorriso.

Estava tão concentrado em minha discussão interna que mal pude ouvi-la dizer que já estávamos na rua de sua casa.

— Ali, naquele prédio azul – ela disse

Balancei a cabeça retornando ao mundo real, estacionei em frente a um prédio simples de 6 andares, ele  tinha uma construção antiga , mas muito charmosa, acredito que tenha sido construído na década de 30, a varanda que ele trazia era de um gradil antigo e estava enferrujado, o prédio na verdade precisava de uma boa reforma.

— Pronto! Está entregue sã e salva – pisquei para ela

— Obrigada pela noite super agradável, quem diria que o cara chato da estação, poderia ser tão boa companhia? – ela brincou comigo

— De nada e eu sabia que por trás da mala sem alça que você era, tinha uma garota incrível.

As músicas do rádio preencheram novamente aquele vazio que se formou dentro do carro, soltei meu cinto de segurança e a puxei para perto de mim, novamente seu olhar me autorizava e sem pensar a beijei, os segundos, minutos, horas, dias poderiam se passar lá fora, mas ali dentro do carro, junto com ela eu percebia que a eternidade era pouco para o que eu queria ao seu lado.

Assim que fomos tomados pela falta de ar, nos desprendemos e com um sorriso lindo ela se despediu de mim.

Esperei que ela entrasse em seu prédio e assim que a vi cruzando a porta do hall, saí com meu carro, e durante todo o trajeto para casa, eu só pensava que Ana tinha algo dentro dela que me movia a querer tê-la ao meu lado, mas ainda sim me preocupava com outra pessoa que talvez desejasse o mesmo que eu.

Dona Dos Meus OlhosWhere stories live. Discover now