Capítulo 17

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Capítulo 17

— Quem é que está aí? – falou uma voz esganiçada e em seguida parou atrás de Ana.

Ela me olhou de cima embaixo e continuou:

— Então quer dizer que a vadiazinha agora vai trazer seus homens para dentro de minha casa?

A mulher deveria ter mais ou menos uns 35 anos, porém tinha uma cara de acabada, estava toda descabelada e a forma como ela tratou a Ana me deixou enjoado. Olhei para minha pequena e percebi que seus olhos estavam cheios d’água. Por alguns momentos um silêncio reinou naquele apartamento eu não sabia ao certo o que fazer e acredito que Ana muito menos. E a voz continuou:

— Vai ficar aí parada? Eu não quero que você traga ninguém para cá entendeu Ana? Era só o que me faltava, já não basta sua companhia insuportável em minha casa, terei que aguentar você trazendo qualquer pra cá? Mas o que eu podia esperar não é? Uma vez vadia sempre vadia!

Ana chorou. E naquele momento a única coisa que pude fazer foi tirá-la daquele apartamento, sem dizer nenhuma palavra eu peguei em sua mão e a levei até o elevador.

Sua prima veio atrás de nós.

— Onde é que você pensa que vai? – ela disse em um tom de ameaça

Soltei Ana e voei na direção de sua prima

— Não é da sua conta sua miserável, e da próxima vez que chamar Ana de vadia eu não responderei por mim – disse entre dentes, sentindo meu sangue ferver em minhas veias.

— Isso, vai achando que ela é essa santa toda, vou ter muito prazer em vê-la ser enxotada quando você descobrir que ela não é tão boa assim.

E virou-se de costas e voltou ao seu apartamento, o elevador chegou e eu puxei Ana para dentro dele, ela chorava baixinho e aquilo cortava o meu coração, ela estava vestida apenas com um vestido de malha e nem percebi que ela estava descalça. A abracei e fiquei ninando-a em meus braços, chegamos ao térreo e me despedi do porteiro, ele nos olhou confuso, abriu o portão e segui com Ana até meu carro, nem lembrava mais das flores que havia deixado jogadas no chão do andar de sua prima.

Assim que ela entrou no carro, percebi que estava no piloto automático, ela apenas estava fazendo o que eu queria, se eu não a tivesse tirado da casa daquela louca, provavelmente ainda estaria na porta chorando. Não falei nada, apenas liguei o carro e fui para a minha casa, daria o tempo que Ana precisasse para assimilar tudo e quem sabe me contar o que realmente aconteceu. Sim, porque eu estava mais perdido nessa história do que cachorro em dia de mudança.

Chegamos ao meu prédio, estacionei em minha garagem e peguei em sua mão, ela tomou um susto, como se todo esse tempo estivesse dormindo, percebi que me olhou confusa, saí do carro e dei a volta nele e abri a porta do passageiro, Ana desceu e caminhamos até o elevador, ao chegarmos em meu apartamento, percebi que ela suspirou e novamente voltou a chorar, imediatamente a peguei no colo e a levei até minha cama, lá ela chorava, eu apenas deitei ao seu lado e a abracei, senti que seu choro era de uma dor que eu jamais senti. Os minutos foram se passando e ela finalmente se acalmou, quando percebi que ela já não chorava mais, pedi que se virasse para mim.

Minha Ana estava com os olhos vermelhos e neles eu podia ver o quanto estava sofrendo, dei um beijo em sua testa e disse:

— Você pode me contar a hora que quiser. Não importa o que aquela louca disse, eu acredito em você.

Ana assentiu e deu um sorriso somente para me deixar menos preocupado, mas o que ela não sabia é que a cada minuto que passava eu me sentia um nada, sem poder ajudar a mulher por quem eu estava apaixonado.

Percebi que já havia escurecido e ainda estávamos deitados, Ana dormia, mas eu não conseguia, estava muito agitado e curioso para saber o porquê daquelas palavras tão baixas que a prima de Ana se referia à ela.

Vadia? Minha pequena? Não pode ser. Eu pensava enquanto olhava pela janela e via a lua no céu. Ana carregava consigo uma aura tão cristalina, em seu olhar a gente percebia o quanto ela era especial e o quanto ela tinha de nobreza dentro dela.

Será que ela me enganou? Não Guilherme! Não ouse a pensar nisso, repreendi meus pensamentos, haveria uma explicação e eu sei que em breve Ana me daria as respostas que eu procuro.

Ela se movimentou na cama, parecia que estava presa e tentava se soltar de alguma coisa, ela se debateu e em seguida começou a falar frases desconexas:

— Não... Não... Por que ele fez isso comigo? Pai, não! Por favor, me entenda...

Fiquei aterrorizado em vê-la daquele jeito, em suas falas Ana carregava dor e mesmo dormindo ela estava chorando, tentei acordá-la e quando o fiz ela gritou:

— NÃO!!!

Ela olhou em volta e assim que me viu se encolheu, era como se ela estivesse com vergonha de mim.

A puxei para os meus braços e aninhei-a contra o meu peito, sequei suas lágrimas e em voz calma e sussurrada disse:

— Está tudo bem meu amor, estou aqui e nada de mal irá lhe acontecer.

Senti que sua respiração se estabilizou e logo ela levantou o seu olhar e me encarou. Era como se ela travasse uma luta interna, eu via isso em seu olhar e justamente por isso eu não poderia acreditar nas palavras daquela imbecil que era prima dela.

— Amanhã – ela disse em um sussurro

E eu entendi, amanhã eu descobriria o que de fato aconteceu no passado dela.

Dona Dos Meus OlhosOnde histórias criam vida. Descubra agora