Capítulo 14

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Capítulo 14

Chegamos ao meu prédio e assim que estacionei, senti que Ana estava um pouco hesitante, tentei acalmá-la, novamente dizendo que não aconteceria nada demais (apenas se ela quisesse, mas não disse isso) queria que as coisas acontecessem naturalmente sem nenhum tipo de cobrança ou expectativas, não vou mentir e dizer que não queria que as coisas avançassem, mas respeitaria o tempo dela.

Seguimos até o elevador e junto conosco subiu um casal de idosos que viviam no andar de cima do meu. Eles apenas nos cumprimentaram e Ana e eu ficamos de mãos dadas sem dizer nada. Quando o elevador parou em meu andar e nós saímos, a direcionei  até o apartamento 403, peguei as chaves no bolso e abri a porta para que ela entrasse primeiro, acendi as luzes e ela ficou confusa, me olhou um pouco e voltou sua atenção para o apartamento e disse:

— Cadê seus móveis? – e riu depois

— Pois é, uma longa história, quer tomar alguma coisa? – ofereci, não sei por que, mas estava preparado para contar a história da minha vida.

— Tem água?

— Sim, vou buscar- deixei Ana parada na sala, pior é que eu nem podia falar para ela se sentar ou sentir-se à vontade, pois não havia nada naquele apartamento que pudesse fazer alguém se sentir à vontade, nem mesmo eu, porém me contentava do jeito que estava.

Voltei da cozinha, com duas garrafas de água, entreguei a dela e esperei por algum comentário seu, ela abriu a garrafa e após um longo gole, sentou-se no chão e disse:

— Pronto, estou bem agora, que tal começar a me contar a longa história?

Ana não existia, se fosse qualquer outra mulher, ela ia com certeza querer dar opinião em meu apê, ela somente o observou, aposto que estava mais interessada na história do que nas paredes brancas de minha casa.

Sentei-me ao seu lado no chão, tomei um gole de água, senti que a minha garganta ainda estava seca, mas não era de sede, após um ano eu ia voltar a mexer em uma ferida.

— Comprei esse apartamento quando eu ainda era noivo de Cristina – comecei a falar, sem dar tempo para ela se manifestar, se depois de tudo ela quisesse ir embora, eu não a impediria, afinal deve ser estressante ouvir a história de um pé na bunda. — Na verdade quando iniciamos essa história de noivado, nós dois procurávamos um lugar legal para morar, mas nossas condições nos fizeram comprar esse aqui mesmo. Logo depois começamos a traçar os planos para o nosso casamento, eu já havia me formado e ela estava em seu último ano de faculdade, iria ser no ano seguinte a sua formatura, estávamos felizes, porém com o passar dos dias percebemos que estávamos caindo em uma rotina, já tínhamos pagado algumas parcelas do Buffet e do salão de festas.

Parei um pouco para respirar e continuei

— Depois que a Cris se formou, ela não era mais a mesma, vivia falando que gostaria de fazer um curso em Milão, ela era estilista, e eu já não tinha mais certeza se era o que eu realmente queria sabe? Casar-me com ela. O nosso noivado estava cada vez mais à beira do precipício, acho até que nos víamos mais como amigos do que noivos se é que você me entende. Até que um dia em uma reunião em sua casa, um amigo do irmão dela havia acabado de chegar da Itália e você já pode imaginar o final da história né? Cris se encantou com o cara, me deixou de lado a noite inteira e no dia seguinte veio me dizer que não queria mais, que para ela o nosso noivado não daria em nada, ela disse que havia conversado com o tal amigo do irmão dela e que ele a levaria para Itália, para que ela realizasse o sonho dela.

Mais uma pausa para respirar.

— É claro que na hora senti uma raiva gigante dela, como eu iria me virar sozinho com as contas do casamento e com esse apartamento eu pensava. Ela entrou em contato com os fornecedores e conseguiu cancelar os contratos, alguns cobraram multas e outros acabaram entendendo e me livrando do resto da dívida, só ficou esse apartamento. E resolvi que ficaria com ele, já que foi um bem adquirido antes do casamento e, portanto ele estava em meu nome e seria apenas meu. Ela estava tão entusiasmada em ir para Itália que nem ligou para isso, e após algumas semanas ela havia embarcado junto com o tal rapaz.

Dona Dos Meus OlhosWhere stories live. Discover now