Capítulo 6
Os minutos foram se passando e Gustavo foi se apresentando à Ana Clara, ela com toda a educação que não teve de início comigo, agora estava toda ouvidos pelo meu irmão. Cacete, to ficando com ciúmes de uma mulher que acabei de conhecer? E ainda por cima ciúmes do meu próprio irmão? Pensei enquanto ouvia Gustavo falando que havia acabado de chegar de um mochilão pelo Sul do Brasil.
Interrompendo a conversa dos dois, voltei a nossa realidade:
— Bem, pelo jeito vocês dois já estão bem familiarizados, mas sinto informar que eu e o Gu temos um almoço na casa de nossos pais e se chegarmos mais atrasados do que já estamos, nossa mãe nos mata.
— Caralho Guizão, esqueci, o papo estava bom não é Ana? Gustavo respondeu olhando para ela de uma forma que me fazia querer matá-lo.
— Sinto muito por atrapalhar vocês, realmente o papo estava bom, ela respondeu de forma tímida
O que porra está acontecendo comigo? Pensei perdido naquele olhar chateado.
— Ana, você não gostaria de almoçar conosco na casa de nossos pais? – Gustavo perguntou.
Mano de Deus, posso dar uma surra nesse fedelho agora? Pensei enquanto olhava para o meu irmão com certo ódio. Poxa, será que ele não percebeu que ele estragou o meu momento com a Ana Clara? Será que não se tocou que talvez, só talvez eu estivesse interessado em conhecê-la melhor, e agora estou aqui jogado pra escanteio, assistindo de camarote meu irmão jogar todo o seu charme de espírito livre em cima dela?
— Acho melhor não Gustavo – Ana Clara respondeu — Vou para a casa da minha prima daqui a pouco, só estou esperando dar o horário que combinamos para eu chegar em sua casa.
— Tem certeza? – Gustavo perguntou
— Absoluta! – ela respondeu.
E assim com as devidas finalizações nos despedimos de Ana Clara, eu ouvi ela passando seu perfil no Facebook para o meu irmão, na verdade foi para nós dois, mas quem tinha pedido tinha sido o Gustavo e ao me afastar dela, sabia que pelo menos isso dela eu carregava, seu nome: Ana Clara Cardoso, fiz uma anotação gigante em meu pensamento com esse nome, para ter certeza que não esqueceria.
O celular de Gustavo tocou e ele se afastou um pouco de mim para atender e sem que eu percebesse, Ana estava ao meu lado, meio esbaforida, tinha corrido até nós.
— Aqui, esse é o meu telefone, para o caso de quiser marcar o tal almoço, jantar ou chopp – ela me entregou um papel com seu número de celular e me deu também uma piscadinha e retornou à cafeteria sem me dar a chance de falar nada.
Ah como foi bom essa sensação, apesar de todos os esforços de Gustavo, era para mim que ela entregou seu número, peguei o papel e já passei o número para o meu celular, não queria ter o azar de perder seu número, quando eu fui dobrá-lo e guardá-lo em meu bolso havia uma pequena mensagem no verso.
Eu estava em paz quando você chegou
A.C
Por alguns minutos fiquei extremamente confuso com aquela frase, ela estava dizendo que eu a incomodei? Que tirei sua paz? Mas num rápido estalo a frase começou a ter sonoridade em minha mente e a encaixei nos acordes de Relicário do Nando Reis que ficava maravilhosa na voz de Cássia Eller, naquele dueto incrível que foi realizado em seu acústico, a música que sempre me fez imaginar um amor puro e que transcendia qualquer entendimento.
Naquele momento deixei que um sorriso invadisse meu rosto, sim, ela havia me dado uma pequena pista que o que senti ao vê-la, ela também sentiu a me ver. Agora sem perceber havíamos começado a trilha sonora que embalaria nossa história. Mas a pergunta era: Será que tínhamos uma história?
Olhei em direção à cafeteria, mas ela não estava mais lá, devia ter ido ao banheiro ou pegar o táxi, só sei que naquele momento, já senti que alguma coisa faltava em meu mundo.
Meu irmão se aproximou de mim, estava com cara de poucos amigos e perguntei o que havia acontecido.
— Conheci uma garota nesse mochilão, nem rolou nada entre a gente, mas a danada grudou no meu sapato, ela é do Nordeste e antes de voltar para casa quer me ver novamente – Gustavo disse.
— E qual é o problema? Você adora ter a mulherada jogada a seus pés – brinquei com ele.
— Sim, gosto, mas queria tentar uma chance com a Ana - ele me respondeu sério
— Mas você acabou de conhecê-la – tentei justificar, quando na verdade eu queria dizer: sai da frente que eu a vi primeiro.
— É, mano eu sei, mas gostei do jeito dela – ele me falou com um olhar perdido
É, mano, eu também. Também gostei do jeito dela, pensei.
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Dona Dos Meus Olhos
Romance[ OBRA REGISTRADA NA BIBLIOTECA NACIONAL] A rodoviária para todos é o lugar de embarques e desembarques, beijos de despedidas, abraços para matar a saudades, todos com a certeza que ao subirem no ônibus a única coisa que lhes aguarda é o destino fin...