Capítulo 14

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DANIEL

A forma como ele a segurava estava me deixando mais irritado ainda. Por isso o passo que dei, e o soco em seguida, foram no impulso do momento.

Não que eu precisasse pensar muito para agir daquela forma.

Para defender uma mulher que estava sendo agredida.

Mas me arrependi assim que fiz.

O homem que a segurava, empurrou-a, fazendo com que Camila perdesse o equilíbrio.

Não pude prestar muita atenção no que aconteceu com ela, já que o cara partiu para cima de mim.

Mas ele estava totalmente despreparado. Veio afobado e cheio de vontade de bater.

Eu não era nenhum lutador profissional, e nem praticava constantemente, mas quando mais novo tive algumas aulas e sabia pelo menos me defender.

Assim que ele chegou perto de mim, convicto de que me acertaria, desviei de seu primeiro soco e atingi suas costelas, o que o fez perder o equilíbrio e bandear as pernas.

O sujeito estava agitado e sem concentração, o que denunciava que se encontrava sob efeito de algum alucinógeno.

Deixei que se recuperasse, e aproveitei este tempo para olhar Camila.

Ela estava desacordada, caída no chão, próxima a um poste.

Mas enquanto estava com minha atenção focada nela, o sujeito se recuperou e partiu para cima de mim. Mas ele estava alterado, e apenas pulou literalmente em mim.

Com alguns movimentos ágeis consegui me desvencilhar e segurei-o pela gola da camisa.

Sem esperar que ele tivesse alguma reação, desferi alguns socos. Quando o soltei, ele cambaleou e caiu.

Se não fosse por Camila estar no chão, desacordada e provavelmente com algum ferimento, eu teria batido mais naquele filho da puta.

Mas minha atenção deveria ser dirigida ao que era certo no momento, então deixei o homem quase desmaiado e corri para perto dela.

Ela estava com um corte acima do supercílio, que não parecia muito fundo.

Sem muito esforço, ajeitei-a nos braços e a ergui do chão, não deixando de pegar sua bolsa, que estava jogada próxima a ela e saí caminhando até meu carro.

Coloquei-a o mais confortável possível e entrei no banco do motorista.

Apesar de aparentar não ser grave, ela havia desmaiado, então optei por levá-la a um hospital.

No meio do caminho ela começou a resmungar, indicando que estava acordando.

— Camila, presta atenção — chamei — sou eu, Daniel. Você bateu com a cabeça e eu estou te levando ao hospital, tudo bem?

Ela apenas resmungou em concordância e voltou a ficar quieta, o resto do trajeto foi feito assim, em total silêncio.

Quando chegamos, Camila despertou de vez e entrou andando no hospital.

Bom sinal, não é?

Tive que aguardar na sala de espera enquanto ela fazia alguns exames.

Quando saiu, estava com um semblante muito melhor, e sorriu assim que me viu.

— Você ficou me esperando?

Mas que pergunta.

— Claro, não podia te deixar sozinha.

Ela deu outro sorriso, um pouco mais largo. E eu me surpreendia como ela conseguia se manter tão feliz depois de tudo o que havia vivido naquele dia. Mas eu sabia que algumas pessoas eram boas em mascarar a dor que sentiam.

— Agradeço. Se não fosse você hoje... Bem, eu nem sei o que poderia ter acontecido.

— Você tem que denunciar, Camila. Eu não sei o que estava acontecendo, mas você foi agredida, saiu ferida.

Ela abaixou a cabeça, parecendo envergonhada, então resolvi não focar naquele assunto. Não naquele momento.

— E o que deu nos exames? Vai ter que passar a noite aqui? Aliás, Lara está com quem? — fui jogando as perguntas na medida em que elas vinham á minha cabeça, sem dar espaço para que ela respondesse uma por vez.

— Tudo certo, apenas um ferimento superficial. O desmaio foi mais pelo susto, segundo o médico. E liguei para Maria, a nova babá, contando por alto o que tinha ocorrido, e ela está me esperando.

— Ótimo — eu disse apenas.

Alguns segundos de silêncio até que ela o quebrou.

— Obrigada por tudo que fez hoje. Eu não sei nem como agradecer. — Ela ajeitou a bolsa no ombro e uniu as mãos, esfregando-as. — Então, nos vemos amanhã. Certo?

— Amanhã? Como assim?

Por que ela já estava se despedindo?

— Sim, na empresa. — Um vinco se formou em sua testa.

— E você vai embora como?

— Vou chamar um táxi, não se preocupe.

— E por que você faria isso se eu fiquei aqui te esperando? — Eu realmente não estava entendendo.

— Eu já te dei muito trabalho, Daniel, não quero que se preocupe.

— Isso não é trabalho nenhum para mim, por favor. Vamos lá.

Dando passagem para ela, esperei que começasse a andar e me coloquei ao seu lado.

Seguimos até o carro, onde eu abri a porta para que entrasse e segui para a minha.

Desta vez, a viagem não foi em nenhum momento silenciosa. Camila estava tão falante quando a primeira vez que a levei para a casa.

Até que em um momento ela ficou calada, pensativa.

— Está tudo bem? — perguntei.

— Está sim. — Ela estava com a voz falhando, como se estivesse segurando um choro, então deixei que tomasse seu tempo. — Ele é o pai da Lara, sabe? Não... pai. Ele não é o pai dela, é apenas o progenitor, o doador de esperma. Ela nem registrada com o nome dele é. Apenas com o meu.

Aquilo já dizia muito. O cara não teve nem a coragem de assumir a própria filha.

Fiquei ainda mais decepcionado comigo por não ter socado mais e com mais força.

— Tenho certeza que ela está muito melhor sem ele. E tem você que me parece compensar a falta que um pai faz na vida dela.

Finalmente ela desviou os olhos da janela e os focou em mim.

Estávamos em um sinal vermelho, então eu pude observá-la por um tempo. Seus olhos estavam brilhando, dando mais certeza à minha teoria de que segurava o choro.

— Você é muito gentil. Eu gosto da sua versão casual.

— Acho que eu posso estar gostando também.

O resto do caminho até o prédio foi feito novamente com conversas casuais.

Estacionei o carro o mais próximo que era permitido, e desci com ela, novamente abrindo a porta para que descesse.

— Desta vez eu te acompanho.

— Vai aceitar subir?

Olhei para o alto do prédio e novamente para a mulher ao meu lado, ponderando a ideia.

— Se não for te atrapalhar muito, eu poderia aceitar.

— Então vamos subir, conhecer minha residência e rever Lara. Espero que ela esteja acordada.

Tomando a dianteira, ela seguiu em direção ao prédio.

E eu segui logo atrás dela.

Um CEO ConquistadoWhere stories live. Discover now