Capítulo 26

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CAMILA

O final de semana passara rápido demais. E eu estava dividida em duas. Uma que queria mais dias com Daniel naquela casa, desfrutando da praia e tudo mais e outra que estava morrendo de saudades de Lara.

Eu nunca tinha ficado tanto tempo longe da minha filha, mas Augusta e Natália prometeram cuidar dela muito bem, e eu confiava nelas, então resolvi aproveitar a oportunidade, já que sabia que ela estaria em boas mãos.

Eu me surpreendia cada vez mais com Daniel. Ele escondia por trás daquela carapuça e jeito marrento, um homem gentil, delicado e amoroso.

O trauma o havia mudado. A culpa ou qualquer outro ressentimento que ele trazia no coração fazia com que ele se fechasse para qualquer outra coisa ao seu redor.

Mas Daniel estava começando a mudar. A forma como olhava para mim, para minha filha... a luz que brilhava em seus olhos denunciava que outro Daniel, que estava se mostrando aos poucos, ainda estava ali, aguardando ser resgatado e conquistado novamente.

Estávamos sentados na sala depois do almoço – Daniel havia preparado uma carne assada com batatas que estavam divinas – sentados no sofá, eu praticamente deitada em seu colo enquanto ele acariciava meus cabelos.

— Estou com saudade da Lara — falei com os olhos fechados enquanto apreciava seu contato.

— Tenho certeza que ela também está. — Ele ficou em silêncio por alguns segundos, mas logo retornou. — Você é uma boa mãe, sabia?

Aquilo me pegou de surpresa.

Permaneci com os olhos fechados, absorvendo tudo o que eu podia do elogio.

Eu tentava ser uma boa mãe. Amava minha pequena tanto que chegava a doer. Mas eu não tinha como saber se estava no caminho certo. Não havia uma certeza de nada. Minhas ações eram feitas por escolhas minhas, que eu julgava serem certas. Mas nada me dava a certeza de estar fazendo o certo.

Respirei fundo tentando me recompor.

— Tenho medo de não estar sendo — confessei. — Já errei no começo, na escolha de um pai... bom, ou de um não pai.

— Lara não é registrada?

— Apenas no meu nome. Não consta nome do pai em registro.

— Minha sincera opinião? — Abri os olhos e olhei para ele que continuava me acariciando e esperei que continuasse. — Ainda bem que aquele babaca não registrou a Lara. Já pensou nele com poder paterno por escrito?

Pensei em Roberto, no quanto ele me decepcionara, abandonara-me grávida. Como ele havia invadido minha casa. O dia em que Daniel me ajudou, como Roberto parecia estar sob efeito de alguma droga.

— Você tem razão, nisso a Lara ganhou.

— E você faz um papel de mãe duplamente, e é perfeita. Você luta pelo que acha melhor e a ama com todo o coração. É isso que uma boa mãe faz.

— Fico feliz em ouvir isso.

Ele parou de movimentar a mão e a pousou na minha cabeça, encarando-me fixamente nos olhos.

— Você é perfeita.

Fiquei calada, fitando seus olhos azuis que pareciam brilhar em uma nova forma. Era um olhar diferente, mais... calmo talvez.

Abri um sorriso singelo, agradecendo em silêncio, e... Daniel retribuiu.

Não um como os que vinha dando, singelo, de lado, ou forçado. Ele realmente abriu um sorriso me mostrando todos os dentes perfeitamente brancos.

Um sorriso de verdade, para mim. Aquilo fez meus olhos marejarem. Engoli em seco, fazendo o máximo possível para não deixar nenhuma lágrima escapar.

Ele se abaixou, levando a boca até meus lábios, dando-me um beijo rápido e passou por minha testa, também depositando um ali.

— Eu tive uma ideia e gostaria de compartilhar com você. — Ele voltou à posição original e recomeçou a acariciar meus cabelos. — Precisamos colocar uma creche à disposição na empresa.

Ok, aquele era o dia oficial de fazer meu coração parar.

Para a minha sorte, não estava de TPM, se-não, já estaria em prantos há mais de meia hora.

Claro que ele ter uma idéia não era para tanto, eu sabia disso. Mas uma relacionada a uma creche na empresa, era... não tinha nem palavras para o quão grandioso era aquilo.

Poderia não significar nada para muitas pessoas, mas para uma mãe era quase noventa por cento de um grande problema ao achar um emprego.

Para mães solteiras? Sem apoio? Aquilo seria como um sonho se realizando.

Meu Deus, sem contar no quanto de emprego a mais que geraria.

— Isso é incrível — falei, não escondendo a emoção na minha voz.

— Você é incrível. Essa ideia veio de você.

— De mim? — questionei.

— Sim. Desde o dia em que levou Lara para a empresa por não ter ninguém com quem deixá-la, eu venho pensando nisso. Quantas mulheres não desistem de empregos por não terem uma pessoa ou local de segurança para deixarem os filhos. — Ele pareceu frustrado por isso. — É errado.

— É sim. E quando se pensa que nem todas as mulheres de família têm condições de pagar uma pessoa... a situação é complicada em diversos sentidos e condições sociais.

— Então, naquele mesmo dia, após a reunião que tive, estava com um amigo e a ideia surgiu. Não seria uma instituição de ensino, nem nada. Entrei em contato com algumas pessoas e me informei. Teríamos idade mínima e máxima de início. Mas acredito que isso seria algo a estudar e analisar. Poderia se tornar um projeto maior.

— Isso é tão lindo. — Levantei-me, sentando ao lado de Daniel. — Ajudaria tantas pessoas e empregaria tantas outras.

— Eu espero que sim. A ideia é que facilite a vida de muitas mulheres.

Não resisti aquele homem falando aquelas coisas e o puxei para mim, roubando um beijo. Era para ser rápido, apenas um encostar de lábios, mas acabei aprofundando o ato.

Já vinha beijando Daniel há um bom tempo, e cada um deles era diferente. Havia os beijos mais intensos que esquentavam o momento, os de despedida que eram rápidos e singelos, os selinhos trocados rapidamente, os lentos e sensuais ao mesmo tempo. Mas aquele era o mais diferente de todos até aquele momento.

Daniel me segurava com calma, delicadeza, seus movimentos eram comedidos, mas precisos. Eu poderia jurar que seu gosto estava mais adocicado. O momento em que sua língua encostou na minha, eu poderia jurar que senti uma faísca, não de choque, nada físico, mas algo havia mudado.

Era como se algo tivesse dado um start e alguma coisa nova houvesse acendido em nós dois.

Talvez eu pudesse classificar aquele beijo como um apaixonado.

Passamos o resto da tarde ali, falando sobre o novo projeto, e coisas banais.

Quando a tarde começou a cair, pegamos o caminho para casa. Eu estava mais feliz do que quando cheguei, se é que isso era possível.

Estava indo de volta para os braços da minha filha, ao lado de um homem maravilhoso.

As coisas estavam mesmo indo muito bem. Amém por isso.

E que continuasse por muito tempo assim.


Um CEO ConquistadoWhere stories live. Discover now