Capítulo28

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CAMILA

— Tudo bem? Foi apenas de raspão, fizemos um curativo, mas não foi nada grave, pode ficar relaxado — a enfermeira disse diretamente para Daniel, enquanto finalizava o trabalho em seu braço esquerdo.

Eu estava sentada ao seu lado, segurando sua mão com toda a força que conseguia, com medo.

Assim que saí do quarto, desci as escadas às pressas, querendo levar Lara longe ao máximo de toda aquela confusão, e ouvi o disparo. O barulho me travou, mas a policia não tardou a chegar, entrando na casa, mas logo saindo e levando Roberto algemado. Quando vi o homem saindo ileso, meu coração se apertou em meu peito, tentando entender o que poderia ter acontecido, e pensar em perder Daniel, quase fez meu coração parar no peito.

Isso tudo para logo depois respirar aliviada, vendo-o sair da casa andando enquanto conversava com um dos policiais, mas segurando um dos braços apertados.

Por sorte o tiro pegara de raspão, mas nada do que ele dissesse acabaria com a angústia e sensação de perda que se apossara no meu coração.

Naquele momento eu o acompanhava ao hospital – que eu mesma tive que insistir com a ajuda de Natália para que viesse – enquanto as outras duas mulheres tomavam conta da minha filha.

— Viu, eu disse que tinha sido de raspão e não precisava de um hospital — ele disse com uma expressão leve no rosto.

Como poderia estar assim depois de tudo o que havia acontecido? Sua família havia sido colocada em risco. E tudo por minha causa.

— Desculpa, Daniel. Eu não queria ter trazido tanto problema — pedi mais uma vez. Havia perdido as contas de quantas vezes tinha pedido perdão em todo o caminho até ali.

— Já disse para não fazer isso. Você não tem culpa de nada. Não foi você quem disparou a arma. — Ele levou nossas mãos à boca, dando um beijo no dorso da minha.

— Mas ainda assim, Daniel. Roberto estava lá por minha culpa. Ele ameaçara a sua família.

Ele ficou em silêncio por um tempo, parecendo pensar em alguma coisa, e quando voltou a falar estava muito sério.

— Camila, no momento em que entrei naquele quarto e vi que minha mãe e irmã estavam lá, eu fiquei arrasado, claro. Buscava maneiras de tirá-las de lá sãs e salvas. — Fiz que sim com a cabeça. Já sentia as lágrimas se avolumarem em meus olhos. — Mas na mesma proporção que eu pensava nelas, eu pensava em você e na Lara. Vocês eram minhas prioridades ali também.

— Mas ainda assim... — tentei começar a falar, mas ele me interrompeu, colocando um dedo sobre meus lábios.

— Nada de mas. Eu senti um medo terrível de perdê-las, Camila. A você e a Lara. Quando minha mãe e Natália já estavam fora do quarto, eu continuei igualmente tenso. Eu relaxei somente quando você cruzou aquela porta levando a criança em seus braços.

A lágrima que eu tentava impedir de escorrer, acabou rolando por meu rosto mesmo sem permissão.

— Ei, porque está chorando? — Daniel levou os dedos, passando-os por meu rosto delicadamente, secando-o.

— Eu tive tanto medo também. De te perder. De ser a causadora de uma tragédia. De me odiarem por causar tudo isso.

— Isso passou por minha cabeça também. — Ele se levantou, pegando minha mão e nos encaminhando para fora da sala onde havíamos sido atendidos. — A culpa.

Eu sabia que Daniel carregava a culpa dentro de si, pelo acidente da mulher e tudo o que aconteceu. Mas ele nunca tinha me falado abertamente sobre o assunto.

Olhei para ele, que encarava o caminho à sua frente, sem desviar o foco e esperei que continuasse.

— Eu senti por muito tempo a responsabilidade por algo que não dependia de mim. Eu me privei de sentimentos por isso.

Ele saiu do hospital, caminhando até um canto separado, tipo um canteiro onde tinha algumas flores. A noite estava fresca, mas muito agradável. Ele sentou em uma mureta me puxando para fazer o mesmo.

— No momento em que o desgraçado do Roberto insinuou que sairia com vocês duas. — Ele estava de frente para mim, segurando minhas duas mãos e olhando em meus olhos. Pela parca luz que nos alcançava, dava para ver seus olhos reluzindo. Tinha medo e esperança ao mesmo tempo. — Uma vontade de lutar me apossou. Não luta fisicamente, mas de correr atrás do que eu quero e posso fazer. O que me fez refletir sobre tudo naqueles instantes em que eu pensei em agir. A culpa que eu carrego até hoje pelo acidente da minha mulher, não é algo que eu poderia ter impedido, ou agido no momento. Eu... — Os olhos dele também se inundaram, fazendo escorrerem lágrimas. Mas Daniel não se apressou em limpá-las, não se incomodou. Ele estava se permitindo chorar. — Eu não tive culpa pelo acidente que aconteceu.

— Claro que não teve. — Levei uma das mãos ao seu rosto, acariciando-o. — Você não é o culpado. Foi uma tragédia o que aconteceu. Mas não precisa levar isso com você para sempre.

— Eu preciso visitá-la — ele falou de repente olhando para o nada.

— Visitar quem?

— Barbara. Eu... preciso. Nunca fui ao local em que ela está enterrada.

— Eu vou com você se quiser — falei.

Finalmente Daniel voltou a focar os olhos em mim. E assim que o fez, abriu um sorriso.

— Eu adoraria te ter comigo neste momento. — Ele levou minhas mãos à boca, beijando cada uma delas e depois depositou um em minha boca. — Obrigada. Por tudo.

Daniel levantou-se, voltando a caminhar, desta vez em direção ao carro.

— Vamos voltar para a nossa família, que está nos esperando.

Com o maior sorriso de todo o fim de semana, levantei-me, acompanhando-o e pegando sua mão.

Nossa família. Era uma frase curta de duas palavras, mas que soava tão linda.

Nossa família. Eu estava com vontade de soltar a frase em voz alta, só para ver como ficaria a sonoridade em minha voz.

E não é que era realmente uma frase maravilhosa. Assim que falei, Daniel apertou minha mão com um pouco mais de força, sem machucá-la, como se corroborasse e entendesse minha necessidade de pronunciar.

Estávamos seguindo pelo caminho certo. E a construção estava apenas começando.

Ainda naquela noite teríamos que tratar de assuntos burocráticos, prestar queixas e tudo o que envolvia em denunciar Roberto. Mas como ele havia sido pego em flagrante, estaria bem mais ferrado.

E eu começava a me deslumbrar com uma vida maravilhosa pela frente.

Um CEO ConquistadoWhere stories live. Discover now