19 | antes | não estou bem

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BOSTON, USAFIM DO VERÃO

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BOSTON, USA
FIM DO VERÃO

Meus olhos passam pela enorme parede branca diante dos meus olhos, analisando cada diploma sem realmente dar a devida atenção. Jamais havia dado a atenção a aqueles títulos, conhecia a doutora Nora, ela tinha feito meu parto e o da Isobel, isso bastava.

Meus dedos ansiosos batucam sem ritmo no braço da confortável cadeira de courino, assim como as pontas dos meus pés que hora tocam o chão quando descruzo minhas pernas, somente para voltar a ter uma das minhas pernas suspensas assim que volto a cruza-las.

A cadeira ao meu lado, um convite para um acompanhante estava vazia. Preferi que Izzie esperasse do lado de fora. Da mesma forma que preferi omitir alguns fatos de Avery, tudo o que tinha acontecido comigo nos últimos cinco dias não era para ser contado por telefone.

Tampouco iria fazê-lo voltar por algo que nem sabíamos que existia. E já não existia mais.

Curioso como não pensamos no que queremos até perder. Jamais havia pensado em ter filhos, sabia que era uma consequência lógica do casamento, desde que havia me tornado noiva de Todd tinha isso em mente. Mas a ideia de filhos nunca havia se feito presente na minha vida, não até aquela fatídica manhã.

Até a concretização daquela ideia.

— Lennon? — aquele chamado rouba meus pensamentos.

Minhas pálpebras abrem e fecham incontáveis vezes, vislumbrando a figura da mulher na casa dos cinquenta anos, cabelos negros amarrados em um rabo, pele clara, com uma estrutura magra, sentada do outro lado da mesa.

— Sim — balbucio confusa, tendo a certeza de que havia perdido algo.

E os lábios da mulher curvam-se com uma gentileza acolhedora, enquanto seus dedos sustentam algumas folhas de papéis, resultados do meu exame de sangue. Além de um invasivo e desagradável ultrassom. Algo necessário para constatar que nada havia restado do que nem sabia que existia.

Uma criança. Um bebê em desenvolvimento, sem força, sexo, cor ou qualquer outra característica que o pudesse torna-lo marcante. Porém mesmo assim não conseguia torna-lo insignificante no meu interior. Queria não sentir nada, mas o vazio continuava lá, dentro de mim. Fazendo minha mente questionar-se:

E por que sentir algo por alguém que nem sabia que existia?

Um pedaço de mim.

— Andei analisando os resultados dos seus exames — seus lábios balbuciam as palavras sem emoção, em uma postura profissional que não transparece muita coisa que pudesse ler — E os resultados são claros.

Seus olhos negros encontram os meus com facilidade. Suas mãos repousam as folhas sobre o tampo de vidro que separava nossos corpos. Não sei porque, mas quando suas mãos repousam uma sobre a outra, meu corpo se incomoda e remexe-se sobre o assento.

Sempre sua Garota [✓]Where stories live. Discover now