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BOSTON, USAMETADE DO OUTONO

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BOSTON, USA
METADE DO OUTONO

Não quero abrir os olhos

Comprimo minhas pálpebras. Cada centelha do meu corpo reclama. Dentro da minha cabeça parece ter uma banda de rock. Enquanto em meu interior uma sensação permeia.

Um sentimento de nostalgia, com aconchego se aloja em meu peito, como se tivesse tido um sonho perfeito e não quisesse despertar. Definitivamente não queria abrir minhas pálpebras e encarar a realidade. Uma realidade em que não encontraria ela, não encontraria Lennon.

— Lennon — aquele nome queima em meus lábios secos.

A menção a aquele nome desperta algo em minha mente que é invadida por flashes aleatórios: ela parada na porta, seu inconfundível cheiro de rosas, seu quarto e uma colcha rosa ridícula, seu corpo ocupando a mesma cama que o meu.

Trago o ar, ainda conseguindo sentir o mesmo cheiro, aquele cheiro de rosas que em outra época vivia impregnado em minhas roupas e na nossa cama. Meus dedos preguiçosos tateiam o tecido sob meu corpo, estranhando o material.

— Lennon — não sei se é um chamado, uma fagulha de esperança, ou apenas uma memória reprimida.

O que eu fiz ontem?

O questionamento é aguçado em meu interior, despertando minha mente preguiçosa que começa a recordar de alguns outros elementos: bar Maurice's, Bufton babaca, jogo de pôquer, Lennon. Droga o que tem a Lennon?

— Lennon — minhas pálpebras se abrem, encarando uma realidade ignorada.

Minhas pupilas se contraem com a forte luz que incomoda meus olhos. Pisco várias vezes, tentando me livrar das bolinhas reluzentes que não saiam do meu campo de visão. Giro meu corpo, dou as costas para a janela com as cortinas abertas e para os raios solares que aumentavam a dor na minha cabeça.

Meus olhos embaçados esbarram com uma figura parada ao meu lado, parecia uma mulher, de cabelos castanhos.

Lennon

Relutando contra cada dor muscular e cerebral do meu corpo, o inclino para frente, rangendo as molas, pisco repetidas vezes, sentindo o musculo no meu peito galopar.

Esfrego meus olhos com as pontas dos meus dedos. Voltando a encarar a figura feminina parada ao meu lado, foco em sua direção, deixando a decepção percorrer minhas veias.

— Isobel? — decepcionado sopro por entre meus lábios o nome daquela figura conhecida.

Atentamente meus olhos analisam o ambiente ao redor. Encarando aquela horrenda colcha rosa. As paredes brancas, as cortinas cinzas, a escrivaninha na minha frente, o painel de fotos – giro o cabeça – para encontrar um criado mudo que não me era estranho, com um porta retrato com uma foto de uma família que um dia eu tinha feito parte.

Sempre sua Garota [✓]Where stories live. Discover now