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BOSTON, USAMETADE DO OUTONO

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BOSTON, USA
METADE DO OUTONO

O cheiro de alvejante impregna minhas narinas, irritando sua pele, amargando minhas papilas gustativas. Sabe quando um cheiro fica associado a algum fato em sua mente? Como quando você sente cheiro de bolo de chocolate e lembra da sua avó. Ou como o aroma de um churrasco a faz salivar. Ou aquele perfume de uma pessoa que nunca saiu da sua mente e jamais parou de inquietar seu coração.

Era assim que me sentia com aquele misto de alvejante e medicamentos, minha mente não conseguia evitar em trazer lembranças da minha mãe, Eleonor, e seus últimos dias de vida.

Ninguém deveria passar seus últimos dias como ela passou, afastada da família, da sua casa, presa a uma cama hospitalar, apenas esperando a dor passar. E para no final deixar que o maldito câncer a consumisse, como uma folha jogada na fogueira.

Com meus braços repousados na confortável cadeira, observo a figura do homem magro, cabelos grisalhos, pálido e com olheiras amareladas. Por seu braço passava um fino cano que injetava soro e outros medicamentos em sua corrente sanguínea, e em seu peito uma fita colada a uma máquina que fazia um barulho repetitivo, igual ao do seu coração.

Ele parecia confortável, como se tivesse em um sono profundo. Michael Clarke era tudo para mim, um pai fantástico, amigo para qualquer hora, desde que tinha saído de Boston, passávamos horas no telefone conversando sobre nada, sobre tudo, ou simplesmente ele me ligava para perguntar alguma receita em especial.

Felizmente quando cheguei ele estava acordado, falante, elogiando as jovens enfermeiras. Foi terrível quando Isobel me ligou e despejou a notícia que nosso pai tinha sofrido um enfarto, o chão sumiu sob meus pés. E antes que pudesse me recuperar o avião já estava aterrissando em solo americano.

Finos dedos afagam meu ombro, instintivamente reclino a cabeça encontrando uma figura feminina de pele clara e sardenta, cabeleira ruiva presa em um rabo, olhos castanhos e sorriso familiar.

Definitivamente ela tinha o sorriso do papai.

— Finalmente ele dormiu — ela observa com os olhos no homem repousando sobre a cama alta.

— Dormiu — murmuro em um sussurro — Tem certeza que não quer que eu fique? — insisto em uma decisão que havíamos discutido a mais ou menos duas horas atrás.

Izzie maneia negativamente a cabeça. Enquanto apoio minhas mãos no apoio da cadeira, impulsionando meu corpo a empertigar meus joelhos. Em passos calculados e delicados caminhamos em direção a porta.

— Eu fico — Isobel insiste — Você deve estar cansada, ainda tem as chaves de casa? — questiona curiosa.

Maneio positivamente a cabeça. Felizmente ou não, carregava mais chaves do que deveria, de casas que não eram mais minha. Uma chave em especial deveria ter sido jogada fora, mas ainda não o tinha feito, como uma âncora para o passado.

Sempre sua Garota [✓]Where stories live. Discover now