Plataforma 9¾

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Pela próxima semana restante antes da partida para Hogwarts, Helena se empenhou em ler todos os livros comprados. Se sentia uma expert no assunto àquela altura. Sua rotina diária era baseada em acordar, passar a tarde toda fora de casa junto com Jughead, almoçar em algum restaurante barato, esperar anoitecer para voltar e ler os livros da escola até dormir.

Sua tia veio visitar no último dia antes das aulas começarem, e acabaram por sair para dar uma volta nos campos. Georgia Blythe era uma mulher negra, alta e muito espirituosa. Tinha 32 anos, mas parecia que sua alma nunca tinha crescido.

— Como é, tia? — perguntou Elle, no passeio que fizeram nos campos. Estavam sentadas na grama, admirando o pôr do Sol. Uma mania que Helena pegou da tia; gostar tanto do pôr do Sol e de astronomia.

— O que, meu anjo? — perguntou a mais velha, enquanto arrancava a grama do chão.

— Hogwarts. — respondeu Elle, se jogando para trás e deitando no chão. Georgia repetiu o ato.

— É incrível. Tenho certeza que você vai amar. — estendeu uma mão e começou a fazer carinho nos cabelos ruivos da afilhada. — Não precisa se preocupar com isso. Só seja quem você sempre foi, e tudo vai dar certo. Eu conheci pessoas incríveis lá. Tenho certeza que você também vai.

— Que pessoas? — questionou Elle, virando o rosto para a mulher. Agora, o sol já havia se posto por completo, e estrelas eram visíveis por todo o céu noturno — uma das vantagens de morar em uma cidade pequena, de interior. Georgia, que antes tinha o rosto virado para a afilhada, se virou para o céu e fechou os olhos, com uma atmosfera nostálgica. Ficou em silêncio por um tempo. Elle até achou que ela não ia responder, quando começou a falar:

— Seu pai, Lily, James, Dorcas, Marlene, Peter, Mary, Alice, Frank, Sirius — disse o último nome com um pouco de amargor.

— Você nunca me contou deles antes. Vocês ainda se falam? — perguntou Elle, que agora mapeava as estrelas com os dedos, enquanto escutava a tia falar.

— Ah, não. Só com o Remus. A maioria deles já foram embora para outro plano, dois não se lembram nem do próprio nome, uma nunca mais deu sinal de vida, e o outro, bem, fez coisas erradas e está onde deveria estar. Mas com certeza você vai ter mais sorte que eu quando for fazer amigos — respondeu Georgia, com um sorrisinho de canto.

Ficaram em silêncio por um tempo. Não havia muito o que dizer. E, na verdade, Helena apreciava momentos assim. Sua tia era sua maior inspiração, e elas não passavam muito tempo juntas. Foi ela quem ensinou Elle a maioria das coisas que ela sabe sobre astronomia, a pintar, fazer artesanato, costurar e andar de skate.

— Você sabia, Elle, que o universo foi feito só pra ser visto pelos seus olhos? — Georgia quebrou o silêncio, e Elle olhou para ela. Claro que sabia; ela sempre dizia isso. Mas ela não se importava de escutar isso mais vezes. — Olhe as estrelas lá em cima! Vejam como elas brilham por você.

— Eu gostaria de poder escrever esses momentos que nós passamos juntas, ou as coisas que você me fala. Sabe, pra eu poder lembrar quando sentir saudade.

— É melhor deixar assim, querida. Os melhores momentos são aqueles que não temos recordações físicas, como fotos, para nos lembrarmos. São aqueles que deixam suas memórias no coração. — sorriu docemente para a afilhada.

Não passaram muito tempo mais ali depois disso, porquê começou a chover. Mas, como uma tradição que as duas tinham, Georgia levou Helena para dançar na chuva, como faziam quando Elle era menor. Chegaram em casa totalmente ensopadas, e Remus até mesmo exclamou:

— Por Deus, mulher! Será mesmo que você tem 32 anos?

Georgia não se deu ao trabalho de responder, e só soltou uma gargalhada alta.

𝘛𝘪𝘭𝘭 𝘍𝘰𝘳𝘦𝘷𝘦𝘳 𝘍𝘢𝘭𝘭𝘴 𝘈𝘱𝘢𝘳𝘵 [1]Where stories live. Discover now