três

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Bonnie

A noite estava fria e foi um choque térmico intenso depois que elas saíram do bar. Apesar do barulho da música abafada que vinha de lá de dentro, a rua em si parecia calma, serena até. Mais típico da cidade do que aquela bolha jovem em que estava antes, coisa que ela não estava acostumada.

A chuva que teve naquela manhã ainda estava com resquícios nas folhas das árvores da rua, de modo que vez ou outra uma gota caía com o movimento do vento, dando a impressão de uma garoa. Ou será que estava de fato garoando? A previsão que ela tinha visto hoje mais cedo tinha dito que choveria? Ela deu uma risadinha porque não conseguia se lembrar, mas no fundo estava torcendo para que sim.

- Nós vamos chamar um carro de aplicativo? - Bonnie perguntou. Ainda podia sentir o corpo meio embriagado, mas nada tão forte quanto antes. Se era uma benção ela ser extremamente forte para bebida ao ponto de já estar quase sóbria ela não sabia, mas apreciou isso naquele momento. As gotículas de chuva que caiam em seu rosto eram muito agradáveis.

- Nós vamos na minha moto. - a vocalista respondeu simplesmente.

- E você tem dois capacetes? - Bonnie questionou com a mão na cintura. Não sabia o que iria fazer se a resposta fosse negativa, porque realmente depois de muito tempo ela estava afim de alguém. E aparentemente não era qualquer uma. 

A mulher estava carregando apenas um capacete e mesmo bêbada, a parte medrosa dela ainda tinha voz. Ela não subia em cima de uma moto há anos, então como estaria seu equilíbrio, adicionado ao teor alcoólico no sangue?

- Não - ela sorriu em resposta - pelo menos não aqui comigo. Relaxa, eu vou pôr o que eu tenho em você.

- E se sofrermos um acidente? - Bonnie não pôde deixar de perguntar, com um toque de perplexidade na voz. Sua mão estava na cintura e sua expressão parecia prestes a dar uma bronca na outra, correndo o risco de acabar com a noite.

A vocalista riu em resposta, chegando mais perto da menor. Colocou a mão em sua cintura, tirando a mão que já estava ali e respondeu bem próxima ao seu rosto:

- Minha casa não é tão longe e eu sou muito boa.

Bonnie sentiu um arrepio percorrer a espinha e não conseguiu elaborar uma resposta. Era óbvio que aquela frase estava carregada de duplos sentidos. Bem, pelo menos ela estaria com o capacete, né? E não faria mal um pouquinho de aventura e quebrar as regras, para variar.

Se limitou a sorrir de volta e soltou uma risada quando a maior a puxou pela mão até a rua lateral onde sua moto estava estacionada.

A moto era linda, preta e alta mas Bonnie não saberia dizer o modelo nem que sua vida dependesse disso.

- Ainda não me disse seu nome – Bonnie murmurou, tentando pegar o capacete que ela estava lhe estendendo.

- É Marceline – ela finalmente respondeu – Quer ajuda para pôr isso?

Bonnie balançou a cabeça e esperou sentir os dedos frios da maior em seu pescoço, mas a sensação não veio. Ela não teve tempo sequer de se frustrar com a expectativa porque sentiu seu rosto ser puxado para cima com a ponta do dedo com mais suavidade do que fora feito a noite toda; sentiu o hálito de álcool de Marceline próximo ao rosto e não pode evitar um sorrisinho repuxar seu lábio para cima.

Aparentemente, Bonnie não era a única que não conseguia pensar em outra coisa senão naquele toque.

O beijo durou pouco, porque realmente parecia estar garoando de novo e se elas não quisessem pegar uma chuva forte deveriam se apressar. Então Bonnie deixou que ela colocasse o capacete em sua cabeça.

na ponta da língua (Bubbline)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora