quatorze

2.3K 221 167
                                    

Marceline

- Tem certeza que está bem? - Marceline perguntou.

Estavam sentadas de frente uma para a outra dentro de uma cafeteria pequena; o lugar era pouco iluminado com lâmpadas amareladas, fazendo com que a madeira que compunha os móveis ficasse com um aspecto aconchegante. Haviam algumas poltronas com almofadas no canto da loja, de frente ao vidro transparente, onde tinha a vista do interior descoberto do shopping, cujo centro tinha uma fonte no chão em formato de lago de carpas, iluminada por varais de luzes pisca-pisca, que absolutamente não estavam piscando naquele momento. Pareciam congeladas em tons de branco e lilás.

Marceline teria preferido se sentar ali, mas quando entraram na loja, Bonnie se apressou em direção ao fundo, para se sentar em uma das pequenas mesas quadradas que havia lá. Como ela estava quieta demais, longe de seu habitual tagarela e com os ombros caídos, a vocalista preferiu apenas acompanhar a loira naquela direção, sem nada dizer.

Bonnie ainda estava com o rosto avermelhado devido as poucas lágrimas que havia derramado minutos atrás. Ela balançou a cabeça em afirmação, mas respondeu logo em seguida, com a voz baixa:

- Estou bem.

Marceline definitivamente não acreditou, mas antes que pudesse dizer qualquer coisa, o nome da loira foi chamado no balcão para pegar as bebidas prontas que elas haviam comprado.

- Bonnie? - O barista perguntou com os olhos brilhando, assim que ela se aproximou.

Marceline confirmou, mas antes que pudesse pegar os copos, o barista arregalou os olhos e sorriu.

- Desculpe... Você é Marceline? - Ele perguntou - digo, a cantora?

Marceline deu uma risadinha pela forma entusiasmada quase contida do outro, como se ele estivesse com vergonha.

- Deve estar se confundindo, moço - sorriu, antes de enfim pegar os copos com as bebidas.

- Entendo - ele respondeu - desculpe o engano.

Mas ele ainda estava sorrindo, quase incrédulo. Sem dúvidas não acreditou que fosse um engano, mas parecia ter entendido que a vocalista não queria causar um alvoroço naquele momento e respeitou. Marceline sorriu de novo e piscou um olho para ele, em agradecimento, antes de virar as costas rebolando em direção à mesa.

Quando chegou na sua cadeira, Bonnie estava pouco melhor do que momentos antes. Entretanto, já era uma melhora visível, sendo que agora seu olhar não estava mais tão desfocado e perdido.

- Aqui está sua dose de insônia de gente grande... - disse Marceline, colocando o copo grande de plástico fumegante de café preto em frente a loira.

Bonnie sorriu, pela primeira vez na noite.

- E a sua dose de insônia é de criança, suponho? - Ainda sorrindo, ela fez um gesto com a sobrancelha, indicando o copo que a outra tinha em mãos.

- Ei, isso aqui é muito gostoso! - Marceline se fingiu de ofendida, mas estava sorrindo com uma pontada de alívio.

- Imagino que sim, com o tanto de açúcar que você está jogando aí dentro - Bonnie deu uma risadinha e bebericou de seu copo.

De fato, a mesa agora estava com três saquinhos de açúcar abertos, sem mencionar a forma atrapalhada que a vocalista adoçou seu chocolate quente, com chantilly extra, mais canela e baunilha em pó. Haviam resquícios do pó doce e branco espalhado ao redor do copo.

- Você devia adoçar o seu - Marceline disse, provocando - café amargo ninguém merece. Por acaso você é uma senhora de oitenta e dois anos presa num corpo de vinte e dois? Não me diga que acorda cedo para varrer a calçada...

na ponta da língua (Bubbline)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora