seis

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Bonnie

Bonnie estava com frio.

Não faziam nem vinte minutos que ela chegou acompanhada de Ana naquela festa e ela já estava repensando a decisão de ter ido. Talvez aquele lapso de realidade - ou fantasia? -  que abateu sobre si naquela tarde tivesse sido apenas isso: um lapso.

- Bebe isso! - Ana pegou uma taça de Martini transparente com duas azeitonas no fundo e entregou para Bonnie que aceitou de bom grado. A própria já devia estar na terceira.

Ana estava linda. Era uma mulher de longos cabelos pretos escorrendo em grossas camadas até a cintura, olhos escuros e sobrancelhas grossas e arqueadas e sempre estava usando algum tom de vermelho na boca. Estava com uma saia mínima branca, combinando com a blusa frente única. Um espetáculo de mulher.

Já Bonnie parecia o oposto da animação da amiga. Se enfiou em um vestido apertado de veludo na cor verde escura e colocou um salto que tinha comprado há meses e não tivera oportunidade de estreá-lo. Estava com o cabelo solto e um brinco de strass tão comprido que chegava quase em seu ombro. Nem de longe parecia deslocada naquele lugar, de certo tinha se vestido a altura, mas não era algo que ela estava acostumada.

A casa era gigante, em frente ao mar. Era uma das mansões que tinham na parte chique da cidade, daquelas com direito ao pedaço de praia exclusivo para si. Era inteira feita de vidro, desde as portas e as janelas e o chão era de mármore polido. Logo na entrada, havia uma fogueira quadrada no chão, subindo labaredas azuis e laranjas de fogo, lambendo o ar em volta. Mas não era calor o suficiente para espantar o vento frio que a maresia trazia consigo. Bonnie desejou profundamente que não estivesse usando sandália e um vestido tão curto.

- De quem é essa casa? - perguntou a Ana.

- De um cliente da minha mãe - ela respondeu - ou investidor? Não sei ao certo. Sei que o cara nada no dinheiro e costuma dar essas festas todo começo de ano - ela respondeu.

Ana era a filha da dona da Agência  que Bonnie trabalhava. Também nadava no dinheiro, não que parecesse se dar conta disso. A agência era especificamente de publicidade e Bonnie trabalhava no setor de moda, principalmente a íntima feminina. No momento estavam trabalhando em uma campanha nova e Bonnie estava encarregada de achar a modelo principal, então naquela festa de gente rica, Bonnie esperava encontrar o que estava procurando e já que estava ali - mesmo que arrependida - poderia muito bem juntar o útil ao agradável. No momento, estava de olho em algumas sub celebridades do Instagram que estavam presentes, algumas que ela mesma costumava acompanhar. Apenas o decoro e o profissionalismo a impedia de pedir para tirar foto com aquelas pessoas. O fato de estarem vestidas de grife da cabeça a pés também foi o que fez ela permanecer quase encolhida no canto, seguindo Ana como uma sombra.

- Sua mãe sempre perde esse tipo de festa - Bonnie observou.

- Ela não gosta muito... quando era mais nova, ia bastante, mas agora que está mais madura, acho que prefere outros tipos de eventos - Ana deu de ombros, mas Bonnie achou engraçadinho a forma como ela chamou a própria mãe de velha - então agora ela deixa a parte de socialização para mim, sempre que tem algum evento desses eu que tenho que ir. Você poderia me acompanhar mais vezes.

- Poderia.

Bonnie já tinha sido chamada para inúmeras festas como aquela, mas nunca tinha cogitado ir. Sempre estava ocupada demais ou estressada demais para poder perder horas na frente do espelho se tornando apresentável para aquelas pessoas. Sempre teriam fofocas e onde tinham fofocas, tinha a imprensa sensacionalista. Ela não estava disposta a ser conhecida dessa forma, apreciava demais o anonimato, apesar da profissão que escolheu. Tinha pouco mais de dois mil seguidores no Instagram e sendo bem sincera, a maioria era sobre o trabalho mesmo.

na ponta da língua (Bubbline)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora