doze

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Marceline

Marceline não estaria infinitamente entediada se hoje ela tivesse ensaio com a banda. Também não estaria de mau humor se tivesse aceitado o convite de Letícia, muito embora fosse pouco provável, já que a companhia que ela desejava de verdade a evitava a todo custo.

Para quem seriam aquelas flores que Bonnie comprou? Para a mãe, talvez a irmã? Quem sabe não seria para alguma amiga ou alguma mulher que tinha muito mais do que apenas sua amizade. Ela se lembrava vagamente de ver algumas coisas no Instagram da moça, e do nome Alice, então ela só poderia supor que Alice fosse realmente sua irmã.

Ela detestava esses pensamentos intrusos, atropelado cada pequeno discernimento que poderia ter. A última vez que sentiu algo parecido lhe rendeu uma medida protetiva, já que fez a estupidez de se envolver com uma fã.

Cecília era uma conhecida da época da escola, esteve poucas vezes nos mesmos lugares que Marceline ao longo do ensino médio, já que era alguns anos mais velha. Parecia uma menina gentil, educada e muito responsável, era a representante da turma e raramente seu nome era falado nas típicas fofocas dos adolescentes.

Completamente o oposto da vocalista, já que começou a carreira com mídias sociais no primeiro ano. A banda veio logo em seguida, mesmo que na época era como um segundo plano, já que as pessoas nessa idade tendem a ser muito indecisas em relação ao futuro. Ela sempre soube que queria viver de arte e da própria imagem, simplesmente amava ser o centro das atenções desde que era pequena. Abandonou a natação e as competições assim que subiu num palco pela primeira vez e se descobriu apaixonada pela música e pelo próprio som da voz, sem mencionar o efeito que isso causava nas mulheres. E por falar em mulheres, Marceline teve uma longa lista, tanto com as experiências boas quanto as ruins... E Cecília era uma delas.

Ela se lembrava perfeitamente o momento que se viu cativa da loira - talvez esse tipo seja seu ponto fraco, afinal - dois anos atrás. Se esbarraram em uma festa social que um amigo em comum estava dando e logo começaram a conversar, saber como andava a vida depois da escola, sobre como a moça a acompanhava já algum tempo e como gostava da música da Scream Queens.

Cecília tinha o riso fácil, olhos verdes que seguiam cada movimento que a vocalista dava. Falava sobre a residência que estava fazendo no hospital com o mesmo nome de uma das faculdades mais prestigiadas do país, que conseguiu depois de um concurso muito intenso. Tinha um brilho no olhar que só quem é muito apaixonado pela profissão que escolheu tinha, com uma certeza quase gritante. Ela queria pediatria e Marceline se maravilhou com os relatos que a mulher deu sobre suas experiências médicas com crianças.

Aconteceu de forma simples, na verdade.

Trocaram telefone, se encontraram cada vez com mais frequência, Cecília ia em alguns shows e chegaram até mesmo fazer uma viagem juntas, durante um fim de semana.

Marceline não era o tipo de pessoa que demonstrava afeto em público, então o máximo que tinha em seu Instagram sobre a namorada eram algumas fotos, sem legendas. Fazia tanto para preservar o relacionamento quanto para manter sua postura profissional, já que finalmente sua banda estava encaminhando para o país, tomando forma e identidade.

Cecília não gostava disso. Dizia que Marceline queria esconder que estava com ela apenas porque queria ter um leque de mulheres à sua disposição. Sempre arrumava motivos para discussões, sendo o principal deles um ciúme tão doentio, que uma das brigas chegou a ser física.

"Você é minha, minha!" Cecília gritava a plenos pulmões.

"Relaxa, querida. Respira. Olha só como você está...!" Mesmo sentindo raiva, Marceline fazia questão de acalmar a situação. Sempre evitou se envolver em brigas, mesmo quando era uma adolescente rebelde sem motivo aparente. Seu estilo descontraído a levava a não se importar muito com nada, e ela preferia virar as costas para qualquer tipo de atrito sempre que possível.

na ponta da língua (Bubbline)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora