dezenove

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Bonnie

Bonnie se sentia entorpecida. Tinha a consciência de que estava deitada em algum lugar macio que tinha cheiro de amaciante misturado a alguma outra coisa, mas suas pálpebras estavam muito pesadas para que ela conseguisse abrir os olhos.

A única coisa que ela sabia com certeza era que estava em algum lugar claro, provavelmente inundado com a luz do sol, já que enxergava uma luz rosa e meio alaranjada sob suas pálpebras fechadas. Talvez fosse mais um dos motivos para ela não conseguir despertar de vez, já que toda aquela claridade fazia arder.

Tentou se mexer, espreguiçar principalmente as pernas, porque elas pareciam duas pedras de chumbo pesadas. Tentou mudar de posição, alguma que a deixasse menos desconfortável. Céus, ela nem sabia por que estava tão desconfortável assim. É sábado, não é? Era talvez o único dia da semana que ela se permitia descansar um pouquinho mais, antes de ter que se levantar e voltar a se preocupar com absolutamente tudo.

Claro, ela nunca dormia até tão tarde, já que sua mente não permitia que ela se desligasse, mas o fato de estar tão incomodada com a luz da manhã fosse talvez porque ela tinha se esquecido de fechar as cortinas da janela de seu quarto antes de dormir. E isso foi motivo suficiente para ela resmungar alguns palavrões que faria sua avó católica arregalar os olhos e brigar com ela.

Quando ela finalmente conseguiu virar de bruços e agarrar o travesseiro, suspirou irritada. Simplesmente porque seu cabelo estava todo jogado em seu rosto, meio grudado de suor de verão pós chuva, fazendo cócegas. Nem esfregar o nariz no braço aliviava e isso significava que ela teria que abrir os olhos mais cedo do que esperava, mesmo que ela soubesse que eventualmente teria de fazê-lo.

E então, tão rápido quanto sua irritação veio, ela abriu os olhos.

Demorou alguns segundos para ela se lembrar onde estava, já que ainda estava extremamente sonolenta. Na verdade, demorou um pouco mais do que esses segundos para ela entender como havia chegado naquela cama, sendo que em sua última lembrança estava deitada no sofá. Gemendo muito alto. Obscenamente alto, na verdade.

Ela sorriu com a lembrança, sentindo por um momento ainda aquela sensação de alívio que o orgasmo trouxe, seguida pelo desespero quase doído e depois alivio novamente, duas vezes mais. Se espreguiçou preguiçosamente, se dando conta de que estava completamente nua na cama de Marceline, embolada em um grosso edredom branco como se estivesse dentro de um casulo – ou que tenha se mexido igual um ponteiro de relógio durante a noite, o que era mais provável - sendo confirmação de onde vinha todo aquele suor grudado em seu corpo. Se deu conta de que o cabelo não estava apenas bagunçado e suado pós chuva de verão, como também bagunçado pelo pós sexo. Seu sorriso abriu mais ainda.

Um cheiro familiar entrou por suas narinas enquanto ela se sentava na cama, procurando com os olhos onde estavam suas roupas, pelo menos a calcinha. Infelizmente, nada à vista. Assim como nem sinal de Marceline.

O cheiro do café fresco fez seu estomago roncar e sua boca salivar. Aliás, estava completamente sedenta, precisando colocar nem que fosse uma única gota de água no organismo. Beber drinks, comer pipoca, tomar suco de limão e transar com certeza desidrataria qualquer ser humano.

Desistindo de buscar por alguma roupa, na ponta dos pés foi até o banheiro da suíte porque além de desidratada sentia sua bexiga cheia demais. Foi se segurando para não fazer xixi pelo caminho e mal notou nada até estar sentada no vaso sanitário, de olhos fechados e suspirando aliviada.

O banheiro era lindo, embora simples. Como em qualquer apartamento, tinha um tamanho pouco maior do que seria considerado minúsculo. Bonnie achou que Marceline teria uma banheira luxuosa, levando em conta seu poder aquisitivo – e de sua família – mas tinha apenas um chuveiro dentro de um box de vidro do chão ao teto. Estava meio embaçado, prova de que a dona tinha tomado um banho em algum momento dessa manhã e estava recheado de produtos de beleza tanto para pele quanto para o cabelo. Ela ficou embasbacada com as marcas caras e importadas que estavam organizadas em um nicho retangular horizontal que pegava quase toda a ponta de uma parede até a outra.

na ponta da língua (Bubbline)Onde as histórias ganham vida. Descobre agora