Capítulo 2- Pendencias

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O dia mal começou e eu já to me fodendo. O brasileiro não tem um minuto de paz.

- Senhora, se você não por ordem na sua cachorrinha, teremos que te expulsar do prédio.- A sindica diz tranquilamente.- Ela faz muito barulho.

- Eu vou por é minha mão na tua cara sua abusada.- Respondo indignada.- Quando que a Shelby latiu alto aqui sua imunda?

Varias vezes na verdade, mas só eu posso falar mal da minha bebê.

- Olha senhora, temos reclamações de vários moradores aqui.

- Um bando de mal amado que fica inventando mentira.- Eu sei que o que eles falam é tudo verdade.- Eu tenho câmeras nessa merda inteira e sei bem quando a Shelby ta latindo.- Mentira, ou eu pago os mimos dela ou coloco câmera pra monitorar ela.- Então manda esses mal comidos criarem desculpas melhores pra tentar me tirar daqui, e se você me multar eu faço questão de ir no Procom, enfia essa merda no seu cu.

Finalizo batendo a porta na cara dela. Vamos lá, se antes eu não precisava achar outro apartamento pra morar, agora eu tenho certeza absoluta que preciso, não vai demorar muito até a ordem de despejo do prédio chegar pra mim. Bando de pau no cu.

Olho pra Shelby, me encarando com aqueles olhos pretos e grandes, a cabeça deitada sobre as patinhas e as orelhas baixas como quem diz "perdão mamãe, mas eu não me arrependo de fazer todos os seus vizinhos de odiarem.".

- Vai precisar fazer menos barulho Shelby.- Digo voltando a cozinha.

Todo os dias faço uma porção daqueles brinquedos recheados e deixo escondidos pela casa pra ela ir procurando, pra entreter ela e evitar que essa puta fique latindo, aparentemente não ta funcionando, já que eu to á dois passos de ser expulsa do apartamento.

Inspiro fundo, e aproveito que ela ta como sempre no sofá pra ir escondendo os brinquedinhos, deixo o meu quarto por ultimo, já que eu tenho que me arrumar pra ir no banco com o meu ex e depois pra clinica.

Eu sou a própria loira gine, só falta o privilegio e o HB.20, mas o que sempre vai nos diferir é que não entrei pra UFRJ usando cota racial. Até porque eu nem estudei na UFRJ, e não foi por falta de tentativa, nunca vou perdoar o ENEM e o SISU por isso. 

Depois de um banho quente e demorado, eu que lute pra pagar essa merda no fim do mês, e uns dez minutos procurando uma roupa que seja minimamente descente para o trabalho- um vestido três dedos acima do joelho cor creme, certeza que era de dona Malu e eu roubei-, já estou pronta. Sempre deixo minha bolsa de trabalho pronta e o jaleco faço questão de deixar lá na clinica. Já pronta e maquiada pra não assustar nenhum dos meus pacientes e dar o gostinho do Felipe saber pela minha cara que eu chorei 80% do fim de semana. Chego na sala com as minhas coisas, peço meu uber e me inclino um pouco pra frente para olhar a Shelby nos olhos.

- Minha filha, se você fizer barulho hoje, amanhã nós não teremos lugar pra morar, pense nisso antes de sair latindo pelo apartamento.

Confiro se estou levando tudo o que é necessario pra ir pro centro, porque além de trabalhar estou indo fechar uma conta bancaria. Saio do apartamento rápido, dando de cara com um dos vizinhos que não gostam de mim e nem da minha princesa, o senhor me olha dos pés a cabeça enquanto entro no elevador que ele acaba de sair.

Senhor, não permita que nenhum filho do capeta tente me roubar, amém. Eu to no Rio de Janeiro, tenho que lembrar que o risco de ser roubada é extremamente alto independente do lugar.

Assim que passo pelo seu João, o porteiro, apenas acenando pra ele, por conta da pressa, ele é um homem muito bom e eu costumo perder alguns bons minutos numa conversa com ele, ja avisto o Nissan Sedan Versa prateado do outro lado da rua. Me aproximo dele e abro a porta perguntando se é o motorista do app.

ParatyWhere stories live. Discover now