Capítulo 6- Diaba

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Natan

Acordo sentindo minha cabeça literalmente latejar por causa da iluminação. Olho pra cama ao lado, vendo Pedro desmaiado em cima de uma garota aleatória que ele achou no Paraty 33 ontem, acho que fiquei tão bêbado e tão cansado que não reclamei dele foder ela na cama ao lado, até porque eu já tinha fodido uma no banheiro do bar também- como esquecer aquela diaba né? COMO.-, então esta noventa por cento mais calmo que o normal.

Me sento na cama gemendo de dor. Meu Deus Natan, porque beber tanto assim na sua ultima noite em Paraty? E alias, que noite...

Mordisco o lábio inferior me lembrando do cheiro de perfume adocicado que ela tinha, antes de eu fazer ela gozar maravilhosamente no banheiro. Me lembro de beijar seu pescoço depois dela já estar vestida, e o cheiro doce estar misturado com o de sexo, aiai Lorena...

Eu sempre lembro o nome das garotas que eu transo, porque a maioria das vezes elas me ligam e eu preciso lembrar o nome, não é porque eu taquei o pau na menina que agora eu simplesmente ignoro o fato dela existir.

Pra ser bem sincero, que mulher meus amigos... que mulher, eu nunca mais vou conseguir voltar pra Paraty e ir no Paraty 33 sem lembrar dela e olha que eu vou todo ano pra Paraty, é um dos meus lugares favoritos e com essa memória eu vou querer vir pra cá sempre. Mas infelizmente hoje eu volto pro Rio.

Ignoro completamente os dois apagados do meu lado e me levanto, com a sensação que a minha cabeça vai explodir, assim que eu saio do quarto e ouço barulho de malas sendo arrastadas. Chego na cozinha e vejo uma pilha de malas, todas prontas e fechadas. Levanto um pouco o olhar e encontro Kevin estirado no sofá sem camisa e com uma maçã na mão.

- Eai irmão.- O rapaz diz assim que me encara.- Bom dia, suas coisas ja estão prontas?

Dou risada e caminha até a cozinha, pego um copo de água e reviro todos os armários até achar uma aspirina, o que felizmente não demora muito. Assim que me viro, Kevin está encostado na bancada me analisando.

- Bebeu muito né?- Ele pergunta com um sorriso irônico no rosto.- Lembra de alguma coisa?

- Se está se referindo a minha foda no banheiro, eu posso não lembrar.- Aponto pro meu short samba canção.- Mas ele lembra.

Nós dois caímos na risada, mas obviamente eu paro antes por causa da dor de cabeça. Pego uma maçã verde de fruteira, só pra não ficar de estômago vazio e volto ao quarto, encontrando Pedro e a garota já vestidos e a janela aberta.

Kevin é engenheiro de uma empresa de engenharia e eu e Pedro somos corretores de imóveis, sócios claro e temos parceria com a empresa de engenharia para a qual o Kevin trabalha. Já os outros caras, não temos nenhuma relação profissional. Rafael é professor de história e Caio é policial.

- Bom dia!- Digo em alto e bom som.

Evito trocar olhares com a garota, sei que ela está envergonhada por estar acordando numa casa repleta de homens, então não quero piorar a situação dela e a deixar mais constrangida. Arrumo a minha cama rapidamente e separo a roupa que vou usar depois do banho pra viagem de volta, prefiro deixar pra arrumar minha mala depois que eu sair do banho, ninguém vai sair daqui sem mim mesmo, o carro é meu e só eu dirijo o meu Honda CRV.

Saio do quarto segurando minhas roupas, desodorante e uma toalha no ombro e vou direto para o banheiro. Não me apresso tanto no banho, a minha vontade é apenas dissipar toda essa ressaca, pra poder voltar pra casa bem e não matar ninguém no meio do caminho. Inspiro fundo olhando as marcas da unha da Lorena no meu braço, sorrio fraco e fecho o registro, se eu pensar mais nessa garota eu vou ser obrigado a acionar o FBI pra procurar ela, só pra poder transar com ela de novo.

A parte ruim de dividir a casa com um bando de macho é não poder sair por aí de toalha na cintura, é a única coisa que eu odeio nas viagens, porque eu faço isso literalmente todos os dias em casa. Puxo a toalha do toalheiro, e me seco rapidamente antes de por a calça jeans e a camisa vinho, passo o desodorante e saio do banheiro, novamente dando de cara com a menina esperando pra usar. Volto pro quarto pra procurar meus tênis e encontro com o Pedro guardando as roupas dele na mala.

- Foi boa a noite?- Pergunto arrumando minhas coisas.- Nem ouvi nada.

- Foi ótima...- Pedro diz rindo.- Mas é uma pena que ela more em São Paulo.

Balanço a cabeça negativamente rindo, enquanto encaixo tudo no espaço da mala.

- E a menina que você pegou ontem no banheiro?

Sim, eu sou um babaca e falei pra todos eles que eu transei com uma puta de uma gostosa no banheiro do Paraty 33, e faria de novo. Me julguem, eu mereço.

- Sei lá mano...- Dou de ombros.- Meu celular não tocou?

- Nem sinal de vida Natan, aliás, ele ta com bateria?- Pedro me encara.

- Ce acredita que nem eu sei?- Digo rindo.

- Acredito!

Depois de organizar tudo e calçar meus tenis, finalmente encontro meu iphone e o carregador dele, entre as bagunças de roupa. O coloco pra carregar e levo a mala pra sala, encontrando os outros rapazes, estirados pelo sofá.

- Natan, pelo amor de Deus, vá devagar com esse carro se não quiser ver ele vomitado!- Rafael diz com o braço sobre o olho.- Eu não to bem não cara.

Esse é o tipo de gente que eu topo ir pro bar, e no dia seguinte não aguenta nem com ele mesmo.

- A gente para na farmácia e compra um Dramin pra você!

Sim, de cinco homens, eu sou o mais responsável e o que mais sabe tomar as decisões certas no momento certo. Porque enquanto ninguém aguenta ouvir o som da respiração um do outro, eu sou o que pensa em dopar todo mundo só pra poder dirigir em paz.

Com muita lentidão, conseguimos por todas as malas no carro, o dono da casa não demorou muito pra chegar e pegar as chaves e em poucos minutos eu já estava levando esse povo pra casa, e os quatro já estavam capotados de novo no banco de trás.

A menina que dormiu com o Pedro foi embora pouco antes de terminarmos de por as coisas no carro, tentei oferecer carona, mas ela insistiu que ia pegar um uber.

No primeiro posto de gasolina que eu paro pra abastecer aproveito pra ver as mensagens no meu celular.

"Mãe
Oi meu filho
Você ja pegou a estrada de volta pro Rio?
Boa viagem meu principe"

Dou risada, eu tenho vinte e nove anos e ela insiste em me chamar de principe. Pra ela eu vou ser sempre o moleque abusado que passava o dia soltando pipa no meio da rua sem medo nenhum e se ralava todinho. Acho que até hoje ela não acredita que eu tenho cadastro no CRECI e sou dono da minha propria imobiliária com o Pedro. E olha que nem faz sentido eu ser o bebe dela, porque ainda tem a Ana Clara, que é a caçula e ela trata literalmente do mesmo jeito, Ana Clara odeia isso por sinal,a garota tem dezessete anos e se sente a maior adulta, sendo que ainda chora assistindo Rei Leão, enfim adulta.

E falando no diabo...

"Clarinha

O cabeção
Ta trazendo lembrancinha pra mim?

Na próxima eu quero ir hein."

Ilusão dela achar que eu vou ser capaz de trazer ela pra uma viagem com mais quatro homens, nunca. Ana Clara é destrambelhada, ia tropeçar e cair na pica de algum deles, prefiro que ela caia na pica de algum adolescente de dezessete ou dezoito, do que na de uma marmanjo de quase trinta anos, porque essa é quase a idade de absolutamente todo mundo nesse carro. Ninguém se salva. Então jamais que eu vou trazer a minha irmãzinha pra uma viagem com eles, se ela quiser que faça dona Vânia e seu José Carlos pagar uma viagem pra ela e pras amigas.

É ótimo saber que eu estou na minha cidade, mas é péssimo saber que amanhã eu já tenho que pegar no batente de novo e voltar as atividades do CRECI, pelo menos meus quatro dias de paz foram marcantes, bem marcantes...

ParatyWhere stories live. Discover now