Capitulo 11- Natan

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Eu moro sozinho? Moro. Sou independente? Demais. Sei cozinhar? O basico e é por isso que eu venho todos os dias jantar na casa dos meus pais. Eles sabem que é pra comer mas amam, dizem que sentiam minha falta no começo. Ana Clara diz que o começo da minha independencia foi a melhor parte da vida dela, porque eu ficava uma semana sem vir aqui, e agora eu venho todos os dias.

Dona Vânia da um sorriso ao me ver entrar na sala de estar, os olhos antes focados no William Bonner (paixão dela, que seu José Carlos não saiba), se focam em mim. A mulher rapidamente se levanta e vem me abraçar, aquele abraço de mãe sabe?  

- Demorou hoje meu filho!- Ela diz me soltando.- Estavamos te esperando pra comer.

- Tava terminando de atender um cliente.- Respondo.- Mas to aqui.

Dona Vânia da um sorriso de alegria e se aproxima.

- É aquela menina que você conheceu em Paraty? 

Sim, eu contei pra ela da Lorena, não os detalhes sordidos, na verdade eu menti em tudo. Eu falei que eu e Lorena nos conhecemos, bebemos juntos e conversamos muito a ponto de eu falar do meu trabalho e por isso ela quis me contratar. Mas eu me arrependo profundamente de ter falado da Lorena pra ela, porque agora a mulher acha que ela é a minha cliente e que eu só dou atenção pra ela.

- Não dona Vânia.- Digo rindo.

- Eu tenho que parar de fazer aquele negocio que a Clarinha diz que eu faço muito.- Ela vai na frente, pensativa.- Fanfi...car? 

Me seguro pra não rir, tenho que respeitar minha mãe, tadinha, ela ta conhecendo essas coisas da atualidade agora e é a pior pessoa do mundo que ta apresentando pra ela, a Clarinha. A Clarinha tinha que estar estudando ao invés de ensinar minha mãe a ser uma fanfiqueira, e pior, da minha vida. 

Entro na sala de jantar, seu José Carlos como sempre sentado a ponta da mesa, esperando ansiosamente pelo jantar. 

- ANA CLARA VEM COMER.- Ele grita assim que me vê entrar.- Ta atrasado hoje hein Natan, eu tava quase comendo a mesa.

- Eai meu velho.- Digo me sentando a esquerda dele.- Tudo certo? 

- Tu não me chame de velho, seu abusado.- Meu pai solta um riso cansado.- Eu te dei a vida e eu posso tirar.
- Beleza, cheguei.- Ana Clara se senta do meu lado.- Eai cabeção.

A mesma autoridade que meu pai tem comigo, eu tenho com a Clarinha. Lindo, 0 respeito.

- Aproveitando a familia reunida.- La vem merda, é a Ana Clara falando.- Eu vim anunciar que to namorando e domingo ele vem aqui pra vocês conhecerem ele.

Todo mundo se engasga com a propria saliva.

A minha diferença de idade com a Clarinha é bem grande, apesar dela tirar minha paz, eu vejo ela ainda como a garotinha que vinha me acordar pra ir pra escola, como a menina que ficava me esperando chegar na sala e a pré adolescente que roubava todas as minhas camisas pra ir pra escola. Nunca imaginei ela chegando assim e dizendo tranquilamente que ta namorando, eu até compreendo, ela tem dezessete anos, ta na idade e tal mas puta merda, é a minha irmãzinha caçula. Sempre soube que eu tinha que ter prendido ela num internado só pra meninas pra isso não acontecer, merda.

- Clarinha?- Meu pai pergunta se recuperando.- Como assim namorando minha filha? Você não me pediu nada.

A garota o encara, confusa.

- Namorando pai.- Da de ombros.- E esse negocio de pedir permissão pra namorar é muito antiga, hoje em dia as mulheres são livres.

Meu deus, a garota que não sabia falar nem Natan sem tirar o N, agora tem uma opinião propria sobre o feminismo, concordo, mas ela foi alfabetizada a quatro anos atrás mano, NÃO.

Me mantenho quietinho no meu canto. Quem sou eu pra julgar a minha irmã? Eu transei num banheiro com uma desconhecida. 

Enquanto eu tiro minha comida, meus pais fazem todos os tipos de questionamentos a Ana Clara, acho até certo. O mundo é maldoso com mulheres, e eles querem manter ela segura, não há nada de errado nisso. Eu não suportaria a dor de saber que a minha irmazinha foi manipulada por algum babaca, ou ser agredida e viver um relacionamento abusivo, eu chego a sentir calafrios só de pensar. 

O assunto acaba, meus pais ainda surpresos e Clarinha super tranquila, como se dizer para os pais que ta namorando não fosse nada. Eles tiram comida pra eles e eu levo meu prato pra pia, bem tranquilo. Eu tenho um puta de um medo dessa mesa silenciosa, porque a gente come tagarelando.

- O Natan.- Clarinha me chama.- Eu vou trazer meu namorado aqui domingo, e você com vinte e nove anos na cara nunca trouxe uma alma viva.

A audacia dessa filha da puta. 

Eu poderia responder alguma coisa muito boa pra ela, mas meus pais não merecem ouvir tal obssenidade, os coitados ficariam traumatizados e não conseguiriam me olhar com os mesmos olhos. 

Caminho em silencio até a sala, tirando meu celular do bolso e ouvindo a voz dos personagens da novela do fundo. Aproveitar que ta geral ocupado pra falar com alguns clientes, confirmar algumas coisas. Tenho até que falar pra Lorena que encontrei o apartamento perfeito pra ela e pra cachorrinha, dois quartos, sem piso laminado, bastante espaço, cozinha americana e um valor de venda muito bom.

Envio primeiro as fotos e depois as explicações sobre o apartamento, e o por ultimo o pedido da confirmação de sabado. Passo pro grupo dos meus amigos, vendo eles se questionarem se transei com a Lorena de novo, ja que agora a mulher é minha cliente.

"Bando de Inutil
              Caio: Cinquentinha que ele já transou.
                Kevin: Sacanegm
                          O cara é super serio no trabalho e vocês achando que ele transou de novo                                                                                                               com a cliente.  
                          Cinquentinha que ele não pegou ela.
                Pedro: Se pegou, pelo menos não foi no escritório.
                            Graças a deus, eu não ia conseguir trabalhar lá
                Caio: Cade ele pra falar se transou ou não? 
                Rafael: Ja sei como chamar a atenção dele.
                            Vocês não sabem do que rolou com uma das professoras aqui da escola
                            Meu irmão..."

Filhos da puta. Eles acham que eu não sei o minimo de etica no trabalho e saio transando por ai com qualquer cliente gostosa, a questão é que eles não acham que eu saio transando por ai com qualquer cliente gostosa, eles acham que eu só fodo com uma cliente gostosa, a Lorena. 

A vontade de rir é grande, mas a de mandar tomar no cu é maior.

Quando começo a digitar um bem delicado "vão todos pra casa do caralho", uma notificação com imagem da conversa de Lorena aparece, ue, por que ela me mandou uma foto? Abro a conversa dela e vejo a foto, apenas ela com cara de surpresa.

"Lorena G.
        Amei o apartamento, parece ótimo
        Ansiosa pra ver ele
        Muito lindo mesmo
        Não entendi muito bem a ultima foto, mas já que enviou...
        Com mais iluminação e mais tempo pra analisar, é uma rola bonita."

Eu não posso ter feito isso. 

Abro o grupo de fotos igual o flash, verificando uma por uma, até chegar na ultima, onde vejo o mesmo pau que eu vejo todos os dias no banho, dessa vez duro, com as veias saltadas e a cabeça rosada. Eu mandei um nude pra minha cliente. 

PUTA QUE PARIU. COMO QUE EU VOU OLHAR PRA ELA NO SABADO?

O que eu respondo pra essa mulher agora? Que foi sem querer? Misericordia, o que eu fiz? O nivel de desatenção meu pai. Eu to fodido.

A vontade de rir é grande, mas a de enfiar a cabeça em baixo da terra e fingir que nada aconteceu é maior. 

EU MANDEI UM NUDE ANTIGO PRA UMA CLIENTEEEEEE. ALGUEM APAGA ESSE MOMENTO PELO AMOR DE DEUS, SENHOR FAZ ESSA MULHER ESQUECER QUE VIU MEU PAU SEM TER PEDIDO PRA VER.

Eu vou precisar ser tão profissional quanto eu ja sou e torcer pra ela não tocar nesse assunto. 

Pra tudo tem uma explicação, mas infelizmente pra essa eu não vou ter nada além de vergonha alheia pra te oferecer.

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