Capítulo 14.

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POV Bianca Andrade

Café.

Uma palavra pequena que nomeia a bebida quente responsável por me colocar de pé todos os dias.

Estava fazendo panquecas — não tão boas quanto as de Marcela — enquanto o líquido escuro escorria para dentro da garrafa térmica.

O cheiro do café trazido pela fumacinha que saía do coador me fez sorrir.

É engraçado como até mesmo o simples cheiro de uma bebida se torna atrativo depois de sofrer um acidente.

Nós estamos tão ligados no automático que não percebemos e desfrutamos daquilo que está ao nosso redor diariamente e, somente a partir do momento em que somos privados disso, nos damos conta de que não aproveitamos a vida como deveríamos.

Alguns flashes daquela noite me invadiram.

As lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

A seta do velocímetro digital no painel do carro indicando a alta velocidade com que eu dirigia.

A vontade de sumir.

O grito preso na garganta.

E por fim,

O silêncio sendo substituído pelo som do impacto contra o tronco da árvore.

Fechei os olhos e me permiti respirar fundo. Bem fundo.

Eu poderia ter morrido. Poderia ter ido embora sem ao menos ter a chance de me despedir.

Mas... Eu teria ido em paz?

Teria feito, em vida, tudo aquilo que eu tive vontade de fazer?

Ali, parada em frente a pia de pedra maciça, vestida em meu mais quente e confortável pijama, eu prometi a mim mesma:

Faça o que tiver vontade. Não tenha medo.

Aproveite sua vida, Bianca.

Viva!

— Amor? — a voz masculina perguntou.

Recobrando os sentidos, direcionei meu olhar para a direção da voz e encontrei Bruno parado a poucos centímetros de mim, sem camisa e com seu shorts de dormir.

— Desculpe, estava um pouco distraída. — sorri forçado.

Ele se aproximou de mim, encaixando-se por trás do meu corpo, beijando meu pescoço.

— Tudo bem. Bom dia! Está preparando nosso café?

— Estou sim. Me ajuda a colocar as coisas na mesa enquanto termino aqui? — perguntei.

— Ajudo. — ele respondeu e começou a levar os talheres, xícaras e pratos até a mesa da sala.

[...]

— Seus pais chegaram bem? — perguntei, puxando assunto.

Os pais de Bruno haviam ido embora ontem logo depois de eu chegar em casa, o que foi um alívio, porque além de não ter lugar adequado para hospedá-los confortavelmente, eu não estava no clima para receber visitas em casa.

— Chegaram sim, minha mãe me enviou mensagem.

— Que bom!

— Você não vai trabalhar hoje, vai? — ele perguntou.

— Não. — menti. — Estou com atestado.

— Ótimo. Eu tenho uma reunião importante hoje e como não sei que horas tudo vai acabar, não tenho horário para chegar em casa. — ele respondeu levando a xícara à boca.

A CHUVAWhere stories live. Discover now