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Madison

 Durante algum tempo, o único som que podia ser ouvido era o tilintar do talheres que ressoava pelas paredes da sala de jantar do médico. As paredes azuis escuras não contrastavam com a enorme mesa negra quase tão densa quanto um céu sem estrelas, e sim, colaborava por criar um clima de requinte, denunciando o bom gosto do morador da casa. Quadros emoldurados por grossas  faixas douradas pendiam ao nosso lado, logo acima do suntuoso aparador adornado com arranjos disformes de flores exóticas e galhos retorcidos.

 Levei o garfo aos lábios e saboreei a junção de sabores que a linguiça assada e os legumes proporcionavam. Havia ali um leve toque cítrico e picante que me lembrava limão e talvez curry. Era impossível não reconhecer o talento que Mads tinha na cozinha, e quem o visse cozinhando certamente enxergaria sua paixão pela culinária.

 Vez ou outra eu o flagrava passeando sorrateiramente os olhos pela mesa, buscando nas expressões das pessoas ali sentadas uma espécie de aprovação, e quando ele enfim a obtinha, estufava o peito e erguia os ombros. Seu gesto era sutil, e apenas um observador atento o pegaria. Mas eu o conhecia bem, e mais ainda, lutava contra o magnetismo de nossos olhares. Precisávamos ser discretos diante dos meus pais, ainda mais em sua casa.

 - Então, querida, você tem visto Daniel? - o silêncio cômodo foi quebrado pelo meu pai, que se remexeu na cadeira ao lado de Mikkelsen.

 - Não - menti, tentando parecer o mais calma possível. -  Por que? 

 - Bom, é que ele me pediu tanto para mexer uns pauzinhos para colocar ele dentro da UCLA e depois desapareceu de uma hora para outra. Achei no mínimo esquisito, ainda mais quando pensei que estavam se dando bem. Eu até comentei com a sua mãe que tinha esperança de que vocês se tornassem um casal. Não é, amor? 

 Mahara apenas arregalou os olhos e os revirou vagarosamente, comunicando sem usar as palavras que não compactuava com pensamentos do marido. Minha mãe e eu sempre fomos muito próximas, e mesmo com o distanciamento que veio como consequência de deixar o ninho, eu tinha certeza de que nosso elo não havia se rompido e continuávamos a compreender uma a outra.

 - Pai, o senhor sabe que ele tinha namorada, não é? 

 - Ah, é mesmo? - Greg indagou, ligeiramente desapontado.

 -  Pois é, inclusive fiquei sabendo que ele foi embora porque estava com outra garota. - engoli em seco e logo prossegui, tentando justificar a quantidade de informações que eu tinha. - Eu faço algumas matérias com a Delilah, ex dele. Ela me contou.

 - Nossa, agora fiquei mal por ter tentado juntar vocês. 

 - Querido, a Maddie não precisa da ajuda do pai para arrumar um namorado. - Mahara alfinetou. - Tenho certeza de que quando ela estiver pronta a pessoa certa vai cair do céu. Isso se já não apareceu... - estreitou os olhos.

 - Haha, muito engraçado, mãe. Mas no momento estou seguindo carreira solo.

 A mulher semicerrou os olhos uma outra vez, desconfiada com a minha resposta. Em contrapartida suei frio, receosa de que não estivesse conseguindo agir com naturalidade.

 Tentei encerrar aquele diálogo pavoroso com um sorriso amarelo, mas quem de fato me salvou foi o dinamarquês, que pigarreou logo após um longo gole do vinho tinto. Se não o conhecesse bem diria que ele estava com ciúmes, no entanto, eu poderia estar imaginando coisas.

 - Espero que estejam apreciando o jantar.

 - Está divino, Mads, como sempre. - minha mãe respondeu com educação, mostrando a classe que ela naturalmente exalava. 

Brooklyn BabyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora