The heartbroken club

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Madison

Eu me perguntava se algum dia eu poderia acordar e sair tranquilamente da cama sem me preocupar com alguma revelação me atingindo como um meteoro de problemas. Porque parecia que quando eu encontrava a solução para algum obstáculo, outros dois surgiam no lugar. E depois quatro. E depois oito. Como uma maldita Hidra.

Por que tudo tinha que ser tão complicado? Por que minha mãe não enterrou o que sabia e deixou o passado no passado? Queria que ela não tivesse me contado, no entanto, desejar ignorância diante dos fatos seria o mesmo que aceitar ter sido enganada.

Eu nunca me senti tão traída em toda a minha vida.

Subi as escadas correndo, avançando de dois em dois degraus. O oxigênio ardia em meus pulmões e queimava minha garganta quando eu tentava inalá-lo, porém não me importei. Ignorei a falta de ar, a visão turva e a boca seca, apenas desacelerando quando cheguei no último andar.

Por ser um sábado, haviam alunos ocupando os corredores, bebendo com seus apartamentos abertos e misturando as músicas que tocavam em seus interiores. Logo, o corredor onde ficava o meu quarto era uma misto de batidas desritmadas e jovens chapados demais para saberem quem são ou quem passa por eles.

Abri caminho por entre um grupo de rapazes de cabelos longos e roupas escuras e pesadas, em seguida driblei uma garota de cabelos vermelhos que se atracava com uma mulher de vinte e poucos anos trajando látex. Senti alívio quando cheguei no final do corredor e notei que não havia ninguém por lá, como se a algazarra houvesse ficado muitas portas atrás. Ofegante e suada, girei a maçaneta, para então constatar que o apartamento estava trancado. Pressionei a bochecha na madeira e apurei a audição, tentando isolar os ruídos das músicas, e estava quase batendo na porta quando consegui distinguir os sons vindos do interior. Pelo pouco que ouvi, percebi que Lindy não estava sozinha. Alana estava lá, e eu tinha certeza de que elas não estavam apenas conversando.

- Ótimo. Parece que Lindsay e eu estamos sendo fodidas hoje. - reclamei, me afastando até a outra parede e deslizando por ela em direção ao chão, completamente frustrada.

Eu podia ter ligado para minha amiga e explicado que eu estava do lado de fora, sem chave e completamente apavorada e confusa, no entanto, o que me impediu foi o pensamento de que, ao menos alguém estava tendo uma noite agradável. Eu podia não ser a Madre Tereza, mas com certeza não era egoísta o bastante para chutar a Professora Bloom para então poder chorar no colo da minha melhor amiga.

Engoli em seco. Meu estômago revirava. Peguei o celular para mandar uma mensagem para Mads e percebi que ele já havia me antecipado. Claro. Surpresa nenhuma. Respondi seu texto preocupado dizendo que estava tudo bem quanto ao ocorrido, que minha mãe havia reagido melhor do que o esperado e seria melhor conversarmos uma outra hora.

Eu ainda não estava pronta para ficarmos cara a cara, olhar em seus olhos e imaginar um milhão de coisas desagradáveis, pois eu sabia que ao fazer isso, estaria me sujeitando a enfrentar os fantasmas de seu passado. Estremeci, afugentando aqueles pensamentos com lençóis brancos e arrastando correntes.

O aparelho em minha mão vibrou mais uma vez, chamando minha atenção para a nova mensagem, que dizia que Mads estava vindo para conversarmos. "NÃO. NÃO VENHA!" digitei freneticamente, como se a minha vida dependesse daquilo. "Alana está aqui com Lindy e não quero que as coisas fiquem estranhas. Preciso digerir algumas coisas. Depois conversamos." Teclo e aperto enviar, e assim que o faço, bloqueio o aparelho e abraço minhas pernas, encolhendo-me em uma bola de sofrimentos e angústias.

Não dava para ter certeza, no entanto, minha parte irracional e ansiosa sentia, ou o melhor, se martirizava por pensar que eu nunca conseguiria superar aquilo. Talvez Mads e eu tenhamos sido apenas uma paixão avassaladora de outono, mas que morreu com o passar da estação. Os meses que passei com ele foram sem dúvidas os melhores da minha vida, porque mesmo com todo o estresse provocado por Daniel, em meu âmago eu sabia que não existiam barreiras intransponíveis quando o assunto era a companhia do dinamarquês. Meu professor de Psicopatologia. Mas agora, sentada sozinha de frente para o meu apartamento, eu sabia que nada mais seria como antes.

Brooklyn BabyOnde as histórias ganham vida. Descobre agora