Brooklyn Baby

Kiss Me On The Mouth

Madison

Duas semanas se passaram sem que eu tivesse um único sinal de Daniel. O universo parecia enfim estar conspirando para que minha vida voltasse aos trilhos, e mesmo assim, eu vivenciava um constante estado de medo e ansiedade. Eram raras as noites em que eu conseguia dormir, pois tinha medo que ao acordar na manhã seguinte Dan teria concretizado suas ameaças. Quando enfim conseguia cochilar, tinha pesadelos com Mads, onde meus pais recebiam mensagens e fotos que comprovassem nosso envolvimento.

As bolsas debaixo dos meus olhos já estavam maiores do que minha mochila, e todas as manhãs eu levantava e ia às aulas feito um zumbi. Nunca fui muito fã de café, mas como era uma das poucas coisas que eu conseguia ingerir devido ao meu alto nível de estresse, eu o bebia todos os dias para aguentar as horas em sala de aula. Se eu me alimentava duas vezes ao dia era muito, e em grande parte das vezes eu vomitava após engolir qualquer alimento sólido.

Lembrei-me que da primeira vez em que transei com Mikkelsen não estávamos usando camisinha, logo, cheguei até mesmo a cogitar uma gravidez. Suspirei aliviada quando ambos os testes, o de farmácia e o de sangue, deram negativo. Pelo menos eu não teria que contar ao psiquiatra que eu estava carregando o filho dele.

Lindsay foi uma parte muito importante e esteve presente em todos os momentos da minha crise. Ela que me acordava para ir às aulas, me incentivava a comer e até mesmo me levava ao banheiro e me dava banho quando eu não tinha forças para levantar da cama. A garota me escutava com paciência mesmo que eu já tivesse falado um milhão de vezes sobre determinado assunto, e sorria a qualquer demonstração de animação da minha parte. Lindy esteve ao meu lado nos melhores momentos da minha vida, e agora que minha existência parecia estar ruindo, a garota permanecia presente, pronta para ajudar a me reconstruir. Tijolo por tijolo.

Se dependesse apenas de Mads ele também estaria ao meu lado me dando suporte, me amparando, contudo, sua rotina de trabalho e a minha de estudos dificultava nossa convivência. Fora as mensagens que trocávamos com frequência, eram poucas as vezes em que conseguíamos nos encontrar durante a semana. Vez ou outra ele me levava para jantar depois da aula, hora em algum restaurante, hora em sua casa. Nos finais de semana ele se dedicava a me apresentar a cidade de Los Angeles, me levando para conhecer lugares como Hollywood Museum, Beverly Hills e a calçada da fama, e nesses momentos em que estávamos juntos eu podia enfim me esquecer de Daniel e tudo o que ele sabia e representava.

Minha família e eu jantávamos juntos uma vez por semana, e vez ou outra acabavam indo me visitar no apartamento. Nesses breves encontros, eu evitava ao máximo tocar no assunto do novo emprego de Gregory, com medo de que ao adentrarmos aquele terreno perigoso eu acabasse deixando escapar algo que me prejudicasse. Ainda não tinha caído a ficha que meu pai era o reitor da universidade, então era mais fácil fingir que aquilo era uma espécie de delírio coletivo.

Naquela tarde em especial eu me sentia mais calma. Era um sábado, por volta das duas da tarde quando o estrangeiro e eu nos encontramos em um parque. Quando nossos olhares se cruzaram um sorriso instintivo rasgou nossas faces, deixando transparecer o contentamento que sentíamos ao estar na presença um do outro.

- Boa tarde, professor. - o cumprimentei fingindo formalidade.

- Boa tarde, Senhorita Ross. Mas que bela surpresa. - ele respondeu, brincando com as coincidências que viviam nos rondando. - Você está muito bonita. - Mads me elogiou de repente, me lançando breves olhares enquanto abria a tradicional cesta de piquenique e de dentro dela retirava uma toalha quadriculada.

Sentamo-nos debaixo de uma árvore que produzia sombra o suficiente para que pudéssemos nos abrigar do sol. A meia-calça preta e a blusa leve de mangas longas que eu usava por debaixo do vestido jeans me protegiam da brisa gelada do outono, que soprava folhas amareladas pelo ar e brincava com os meus fios de cabelo.