Brooklyn Baby

Alcohol and Cigarettes

Mads

A aula de História da Psicologia foi muito produtiva, e fiquei feliz por ter sido bem recebido pelos alunos, já que na grande parte dos casos, professores que lecionam em duas disciplinas diferentes não conseguem obter a atenção dos estudantes.

Quando todos já haviam saído da sala, notei uma figura solitária na segunda fileira. Madison Ross recolhia seu material apressada e desastrada. Soltei uma pequena risada que por sorte não chegou aos ouvidos da garota.

Pelas poucas vezes em que tive contato com a senhorita Ross, pude notar alguns aspectos de sua personalidade. Na boate, da primeira vez em que a vi, a impressão que ela me passou foi a de uma jovem determinada mas conflituosa, que poderia ter se livrado de Daniel com facilidade se não reprimisse sua força e sua fúria, contudo, quando ela entrou em minha sala no dia seguinte, agitada, confusa e sozinha, notei características de uma pessoa introvertida. Ela era o tipo de garota, que se pega de surpresa paralisava, se afastava, a fim de se recompor sozinha, e o olhar que tinha quando falava comigo, era o de alguém que lutava consigo mesmo por autoconfiança.

Madison era intensa e volátil, e de alguma forma me intrigava.

Depois que a chamei e ofereci uma vaga na minha turma de Fundamentos da Neuroanatomia, vesti o paletó, peguei minha pasta e guiei a última aluna em direção à porta. Descemos juntos os lances de escadas, em um silencio sepulcral que parecia incomoda-la, mas nada dissemos.

- Estou encerrando meu expediente e já vou para casa. - anunciei, tirado do bolso a chave do meu carro e apertando o segundo botão, fazendo o veículo emitir uma curta onda sonora e destravar. - Gostaria de uma carona para sua próxima aula?

Ross piscou algumas vezes e me olhou levemente confusa, como se minha pergunta a tivesse trazido de volta a realidade. Me pergunto em que ela pensava...

- Ah, não, não precisa. - ela sorriu e levou a mão a sua nuca, parecendo levemente desconfortável. - Combinei de almoçar com minha amiga, mas obrigada.

- De nada. - retribui o sorriso.

De repente me vi aliviado por não ter aceitado minha oferta, pois a última coisa que eu queria era que boatos se espalhassem se me vissem com uma aluna dentro do carro.

Ficamos parados por alguns segundos até que Madison se virou e foi embora sem dizer mais nada. Entrei no automóvel, me sentei no banco do motorista e dei partida, dirigindo em silêncio pelas ruas do campus em direção à portaria.

Eu morava a uns vinte minutos da Universidade da Califórnia, o que não era muito longe considerando o tamanho da cidade de Los Angeles. Enfrentei o trânsito do meio-dia, onde todos pareciam sair do trabalho para almoçar, e pouco tempo depois já me encontrava em frente da minha casa de aspecto vitoriano.

Quando coloquei a chave no buraco da fechadura, notei que a porta já estava destrancada. Só havia uma pessoa que poderia estar lá dentro sem ter arrombado a porta, no entanto, por precaução peguei a faca de caça que eu carregava em uma das repartições de minha pasta, e com a lâmina desembainhada, caminhei com atenção e calma até o cômodo que estava aceso. A cozinha.

Quando cheguei lá, o fogão estava aceso e haviam algumas panelas no fogo, e de costas para a porta, apoiada no balcão uma morena alta, de cabelos lisos e castanhos vestia apenas uma regata branca e calcinha. Ela parecia não ter notado minha chegada, então silenciosamente guardei a faca de volta na pasta e a soltei no chão, emitindo um barulho abafado. Fiz aquilo de propósito para chamar a atenção da mulher.

- Mads, chegou mais tarde. - ela se virou e me recebeu com um sorriso. Soltou a faca que segurava e a depositou em cima da superfície onde há poucos segundos fatiava um pimentão verde.