Capítulo 24: O funeral

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Olá, querida leitora.

A primeira parte da fic está quase chegando ao fim, espero não te decepcionar e nem te desolar. 

Fique com o penúltimo capítulo!!

Bom sábado...

***




Quem amamos vai embora e vida nenhuma dura para sempre. Mas quando há amor, existe lembrança e saudade, há um resto de felicidade, carinho eterno e também um pouco de vida. Tio Lamb sempre estaria vivo para mim, me encarregaria de mantê-lo presente.

Despertei de um longo sono sem sonho. Foi como apagar por um período e acordar sem memória do tempo permanecido no vazio. Nada além do sentimento oco de que em certo espaço das horas, eu sequer existi. Era o que eu precisava e provavelmente repetiria a dose.

Joe estava comigo, cochilando na poltrona ao meu lado. Me movi silenciosamente e desci da maca, calçando os sapatos. Não sabia exatamente o que fazer dali em diante, mas precisava rever algumas coisas e tomar decisões.

Desci a passos lentos a rampa até o necrotério, me preparando para ver meu tio pela última vez, mas agora sem ouvir sua voz ou observar seus gestos com as mãos elegantes. Meu coração batia na boca e me sufocava como se o ar a minha volta parecesse espesso demais para passar pela traqueia e chegar aos meus pulmões. Pela primeira vez, o hospital parecia me reprimir.

Tio Lamb foi a minha referência de pessoa, de pai, de mãe, de melhor amigo, de professor, e foi meu confidente na maior parte do tempo. A partida dele me deixou com um amargo de derrota.

Quando entrei, pareceu que já esperavam por mim. Havia uma cadeira ao lado da maca e o lençol que o cobria estava dobrado nos ombros, revelando a cabeça e os cabelos grisalhos. Tio Lamb estava tranquilo. Os olhos fechados por pálpebras azuladas, a boca não tinha nenhuma cor e a pele começava a destacar a falta de vida. Mas ainda era ele, ou não era. Minha cabeça ficou muito confusa.

Eu já havia estado nessa sala antes, auxiliando médicos legistas e aprendendo o máximo que pude sobre a morte, sobre como o corpo se comporta no post mortem. Meu próprio corpo tremeu, engoli em seco e lágrimas escorreram livres. Toquei o ombro frágil e desabei em choro, sem conseguir me controlar por um momento. Foi como se eu estivesse dentro de um vórtex de emoções, que iam de raiva e ódio, a completo amor e carinho por aquele ser inanimado, deitado, pálido e inexpressivo.

— Não o culpo por ser negligente consigo mesmo, nunca o culpei, mas isso não me impede de ter raiva da sua imprudência. Vou sentir tanta falta do senhor, da presença e do seu calor humano. Não vou saber lidar com o fato de que não vou te abraçar ou te ouvir me chamando de querida. Não vamos mais tomar chá juntos aos domingos... Mas eu vou ficar bem em algum momento, vou colocá-lo junto com papai e mamãe, naquele lugar que criamos dentro do coração e da memória, e você será eterno como eles.

Lágrimas grossas escorriam pelo meu rosto. Me senti amparada, e um segundo depois, estava chorando nos braços de Joe, que surgiu do nada atrás de mim.

— Ele está morto. ‒ Consegui falar depois de alguns minutos.

— Ele está, minha querida. Eu sinto muito. ‒ Joe tentava me acalmar novamente.

Continuei dentro daquele abraço por muito tempo e quando me soltei de Joe, percebi que as demais pessoas na sala, haviam saído vagarosamente.

— Ele estava orgulhoso de você, me disse sentir que a Claire estava de volta.

Além do tempo (parte I)Where stories live. Discover now