Capítulo 13: O que os livros falam para você hoje, minha querida?

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Amor e mistério, essa combinação nunca foi tão perfeita. 

Boa leitura! 🥰🥰

***




A Leakey's Bookshop era mais um daqueles lugares mágicos em que Jamie gostava de me levar.

— É o lugar favorito de Jenny. ‒ Ele me disse mais de uma vez durante nossa caminhada.

Certamente se eu morasse em Inverness, seria o meu lugar favorito também. Um andar de prateleiras abarrotadas e um mezanino repleto de mais prateleiras e mais livros. Bem no centro, uma lareira prometia manter o clima aconchegante nas mentes vorazes dos amantes da leitura, e o teto azul simulava um céu pairando sonhador.

O cheiro do velho sempre me encantou, e me lembrei de tio Lamb no minuto exato em que coloquei meus pés ali. Ele amava livros velhos, aliás, ele amava tudo que tinha mais de duzentos anos.

Jamie segurou minha mão sorrindo e não pude deixar de sorrir junto.

— Esse lugar já foi a Igreja Gaélica de Santa Maria, construída no século dezessete, Sassenach.

— Dá para ver as estruturas históricas.

— Moderno é a escada que leva ao mezanino e a lareira, só.

— Mais um lugar incrível, Jamie. ‒ Eu queria abraçá-lo e beijá-lo, mas havia pessoas demais à nossa volta.

Fomos adentrando os corredores, meus dedos em contato com as lombadas dos livros e uma sensação familiar novamente crescendo dentro de mim. Os livros sempre me traziam memórias de infância.

— Em lugares como esse, eu tenho alguns flashes, pequenas memórias que vem em cores e ruídos e às vezes escuto a voz de minha mãe dizendo: Claire, querida. ‒ Jamie me puxou para perto e passou o braço pela minha cintura. — Ela lia para mim quando eu era criança e sei que costumávamos frequentar livrarias e bibliotecas.

— Você se conecta com ela quando vem a lugares como esse?

— Acho que de certa forma, sim, até consigo ouvi-la.

— Algumas músicas me fazem ouvir a voz de minha mãe também.

Trocamos um daqueles olhares intensos, onde várias palavras são ditas sem se fazer necessário exclamá-las. Jamie sabia do que eu estava falando e eu sabia da sinceridade nos olhos dele. Nós dois éramos iguais nessa, então ficava mais fácil compreender o outro.

— Por que você não me espera lá em cima? Vou pegar chá pra nós. ‒ Ele disse quase no pé do meu ouvido.

Subi a escada espiral e Jamie me acompanhou com os olhos como se não quisesse me perder de vista, depois sorriu e foi em direção ao atendente no balcão central.

Caminhava de uma prateleira a outra, concentrada em meus devaneios, quando uma voz doce me interrompeu.

— O que os livros falam para você hoje, minha querida?

Me assustei e deixei cair o livro que estava segurando, produzindo um som abafado no silêncio da livraria.

— Me desculpe. ‒ Minha voz soou ansiosa, por algum motivo.

— Desculpe eu, por te assustar, achei que tinha me visto me aproximar. ‒ Ela pegou o livro do chão, lendo disfarçadamente a capa.

— Estava completamente seduzida pelos livros e não...

— Eles são incríveis, não são? Eles falam conosco. ‒ Ela disse em tom de mistério e meus pelinhos da nuca se eriçaram imediatamente.

Me lembrei de Jamie e da bruxa citada por ele, devia ser essa figura encantadora. Uma senhora de uns setenta anos, mais baixa do que eu, com cabelos grisalhos e dona de um par de olhos verdes, quase tão hipnotizantes quanto os azuis de Jamie.

Além do tempo (parte I)Where stories live. Discover now