Capítulo 02: Sassenach

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Olá, querida leitora, como vai?

Um capítulo com um nome desses, heim, quem será?  👀👀

Ótima leitura!

***




O dono de uma das lojinhas de miudezas que eu havia estado mais cedo, me falou da Glen Ord Distillery, então resolvi visitá-la. Mal entrei na recepção e percebi o alvoroço das pessoas, todos se movendo rapidamente indicando que algo estava errado.

— Ligue para a ambulância. ‒ Disse um homem baixinho com um sotaque forte, se dirigindo à recepcionista.

Num impulso de me fazer útil, me aproximei do balcão.

— Olá, meu nome é Claire Beauchamp, sou médica, vocês precisam de ajuda? ‒ A moça pareceu um pouco assustada com minha abordagem, mas segurou meu cartão e o leu com atenção.

— Houve um acidente nas instalações lá dos fundos, temos um ferido.

— Há fogo? A fumaça pode intoxicar e prejudicar órgãos internos.

— O fogo já foi controlado, moça... ‒ O homem me avaliou por mais alguns segundos. — Vou levá-la até o rapaz, ele está com dor e a ambulância pode demorar a chegar.

Ele deu instruções à recepcionista e depois fez mesura para que eu o acompanhasse pelos corredores antigos de pedra, que me deixaram um pouco sufocada, como em um labirinto. Seria impossível sair sozinha dali caso eu precisasse. O cheiro da fumaça foi se intensificando, assim como a sensação intoxicante que fazia meus olhos lacrimejarem, mas bastou mais alguns passos e saímos num pátio ao ar livre, todo gramado e com algumas árvores aparentemente frutíferas. Embaixo de uma delas se encontrava cinco homens em pé, rodeando um sexto, este, deitado, segurando o braço direito junto do corpo.

Me aproximei devagar e todos olharam com certa desconfiança.

— Quem é essa, Murtagh? ‒ Um deles perguntou meio ríspido.

— Ela é médica e se ofereceu para dar uma olhada no rapaz. Achei melhor trazê-la!

— Olá, posso me aproximar? ‒ Falei de maneira firme para cessar a intimidação masculina. Eles abriram caminho sem demora.

O rapaz devia ter no mínimo um metro e noventa de altura, deitado esticado no chão. No topo da cabeça uma cabeleira encaracolada e escandalosamente ruiva e os olhos quase ocultos num rosto assombrado pela dor.

— Meu nome é Claire. ‒ Disse antes de tocá-lo. — Posso examinar você?

— James, mas me chame de Jamie. ‒ Sua voz saiu grave e vibrante.

— Sinto muito pelo ocorrido. Vou fazer o que eu puder para amenizar a sua dor. ‒ Ele apenas fez um som nasal e piscou mexendo a cabeça em confirmação.

Toquei seu pescoço a fim de verificar a pulsação e ele abriu os imensos olhos azuis que me fitaram intensos. Por um segundo esqueci o que tinha que fazer primeiro. Sua respiração estava irregular, havia suor frio em seu pescoço, a frente da camiseta branca estava suja como se arrastada pelo chão. Não havia queimaduras ou contusões visíveis além do ombro deslocado, que seria simples de resolver, voltando a junta na posição correta e então imobilizando-o. À medida que me movimentava examinando, seus olhos se moviam comigo, me observando curiosos.

— Siga meu dedo somente com os olhos, sem mover a cabeça, por favor! ‒ Ele obedeceu.

— Meu ombro?

Além do tempo (parte I)Onde histórias criam vida. Descubra agora