Capítulo 25: Despedida

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Olá, querida leitora, 

Esse é o fim da primeira parte dessa linda história. Se você chegou até aqui e é dessas que dá estrelinha e comenta cada capítulo, saiba que a sua participação é que me mantém postando e te agradeço imensamente por alimentar meu entusiasmo. 

Boa leitura e por favor, leia a nota que está no próximo capítulo.

***




Negação, raiva, barganha, depressão e aceitação, o clássico modelo Kübler-Ross. Há ainda o fenômeno flutuação entre estágios, que é quando as fases ocorrem simultaneamente ou se alternam. Mas tudo é processo ‒ diz a maldita psicologia.

A negação foi rápida, porque eu não neguei de fato, eu sabia que meu tio estava morto e ponto, mas senti a tal bolha e tive a sensação da falta de sentido nas coisas e no mundo. As pessoas deixaram de existir pra mim por alguns dias, eu não as ouvia falar e nem conseguia entender o sentimento delas para comigo. Estava anestesiada e desconexa de tudo.

A raiva veio em formato de muita dor e mais choro do que eu pude lidar, mas foi importante para que eu conseguisse restabelecer conexão com quem só tentava me ajudar. Joe dizia que eu estava para desidratar de tanto chorar, e gritar com ele sobre o porquê do universo me tirar tudo e todos, foi uma forma de botar pra fora e canalizar as frustrações.

Acho que a barganha aconteceu junto da negação e da raiva. Eu ficava simulando cenários na tentativa de amenizar meu sentimento de culpa e diminuir a dor que eu sentia. Ela acabou quando comecei meus planos de mudança.

Primeiro dei entrada na papelada de transferência para a Cleveland Clinic, depois escolhi um novo lar naquele continente e decidi o que fazer com a casa de tio Lamb. Depois disso as coisas se redirecionaram, e o torpor da depressão foi leve, como se a aceitação fosse tão necessária a ponto de acelerar o processo. Eu ansiava por perspectivas de futuro e mudança.

Três meses se passaram e todo esse luto foi se desfazendo em partes menores e mais palatáveis. Eu visitava tio Lamb e meus pais com certa frequência, a ponto de fazer amizade com os funcionários do cemitério, e me sentia cada vez mais confortável em estar lá, entre os mortos conhecidos e desconhecidos. E havia o fato de que eu me ausentaria por tempo indeterminado, Londres já não me cabia mais, e por isso, a cada ida aos túmulos, eu me despregava do passado e me reconectava comigo mesma e com meus planos de futuro. Era contraditório, mas foi assim que passou a fazer sentido.

Estava sentada na grama, num trecho entre meu tio e meu pai, conversando com eles a respeito da minha escolha de ir para América, quando a voz de minha mãe irrompeu o ar parado:

Você precisa fazer o que é melhor para você, minha querida.

— Mas como eu vou saber realmente o que é melhor para mim, mamãe? ‒ Minha voz nem vacilou quando falei sozinha.

A gente sempre sabe, Claire. Siga seus instintos.

— Vocês dois tem algo a acrescentar? ‒ Olhei meu pai e meu tio, as letras bonitas gravadas na pedra. O nome, o nascimento, a morte.

Não hesite, Claire.

Tio Lamb tomou a frente, e eu quase pude sentir sua mão tomando a minha.

Os levaria comigo pra onde quer que eu fosse. Eu já sentia meu pai ao meu lado nos momentos em que eu ensinava ou auxiliava, herdei dele a virtude de aprender e compartilhar conhecimento, já minha mãe, estava sempre junta de mim quando eu cuidava ou era afetuosa, ela dizia que carinho é um gesto afetivo que pode salvar uma vida. Tio Lamb escreveu isso sobre ela em um de seus diários. Passei muitos dias lendo e relendo cada um deles e pude pegar nuances sobre mim mesma através de meus pais, dos meus avós paternos, e claro, do meu amado tio. Misterioso tio. Eu vinha descobrindo mais do que apenas sua orientação sexual. Ele guardou segredos que eu tentava remontar e entender.

Além do tempo (parte I)Where stories live. Discover now