Capítulo Dezoito: "O que vem depois da tempestade".

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- Amiga, aqui entre nós – Jazzie comentou ao entrar no ateliê de Elena, deixando Penny numa chamada de vídeo com Sean na sala – Depois que tudo se acalmar, será que o Hoult não me apresentaria para o James McAvoy?
- Nem vem, se alguém vai ser apresentada ao James, serei eu! – Len riu fraco da cara que a amiga fez – Você tem o Luca!
- E você tem meu irmão! – Jazzie franziu o rosto ao perceber o que tinha dito – Me desculpa, saiu sem querer. Sem falar que eu tenho certeza que vocês voltam.
- A gente não se fala há meses, Jazz – ela então voltou o olhar para o sapato que finalizava na mesa de seu ateliê – O lado positivo, é que caso ele decida ficar de vez em Los Angeles estará perto quando a Penn for morar com o Nick.
- Elena, para com isso, a guarda será sua ou compartilhada! Deixa de ser pessimista.
- Você só viu a audiência na qual foi testemunhar, amiga, não sabe como foram as outras... Eles estão acabando comigo, não tem qualquer chance do juiz me conceder essa guarda na quinta-feira, não depois de tantas batalhas perdidas.
- Mesmo com todos os nossos testemunhos? Meu, da minha mãe, a senhora Jordan que esteve com você desde que a Penny nasceu e veio lá do Texas só pra isso, sua mãe com tradutor e tudo, o Sean por videoconferência, até a Cathie! Que deixou claro que vocês não são mais amigas, mas disse como você é uma mãe exemplar... Será que nada disso adiantou?
- Em contra partida eles montaram todo um caso sobre eu não saber quem era o pai, sobre eu ter 'seduzido' dois caras famosos, sobre eu ter fugido com medo de ser desmascarada por quase fazer o Doug criar um bebê que não era dele – Elena ainda olhava o sapato, mas sem fazer nada, apenas para evitar olhar Jazzie ao resumir todo o tormento e humilhação que vinha passando nos últimos seis meses – Eles acharam a documentação hospitalar de quando a Penn caiu do balanço e quebrou o braço aos dois anos, colocaram como negligencia só porque na época eu deixava ela algumas horas com a senhora Jordan, já não conseguia chegar a tempo de pega-la na creche.
- O que? Porque você não contou essas coisas pra gente?
- Porque já basta ter que ouvi-las nas audiências, não vai fazer diferença nenhuma ficar remoendo ao contar pra vocês.
- Mas são mentiras, Len!
- E só pioram... Falaram sobre o Sean ficar sozinho com ela, questionaram o que ele poderia fazer com ela, Jazzie! – ela bateu o sapato na mesa e olhou a amiga, que viu a mágoa, frustração e raiva que queimavam ali – Eles chegaram ao ponto de falar do acidente de carro que matou a Sophie, que eu já era irresponsável quando adolescente e só piorei nos últimos dez anos.
- Que absurdo, Elena!
- Mas sabe o que me deixa mais revoltada? É que o Nicholas claramente não me vê assim! Ele fica de cabeça baixa e nem consegue me olhar nas audiências em que o advogado dele faz essas coisas.
- É aquela mãe dele!
- Eu sei e conversei com ele na semana passada, fluiu bem, fui bem sincera... Espero que tenha efeito, porque eu não sei o que faço sem ela, Jazz, eu não sei o que será de mim sem a minha menina todos os dias por perto.
- Isso não vai acontecer, Len! Daqui exatos seis dias você terá a guarda total da Penny e estaremos comemorando.
- Caso isso não aconteça, eu vou me mudar pra perto dela, isso já está decidido.
- Não será preciso, amiga, eu tenho esperança que não – Jazzie levantou da poltrona que ficava ao lado da mesa do ateliê para trocarem um abraçar apertado.

- Desculpa vir tão tarde – Nicholas disse ao entrar no apartamento – Obrigado por me deixar subir.
- Imagina, mas a Penny já tá dormindo – Elena o olhava em expectativa – Aconteceu alguma coisa?
- Aconteceu e eu achei melhor te contar imediatamente.
- O que houve?
- Eu desisti da guarda total – ele disse de uma vez e viu a expressão de Elena permanecer neutra por instantes até se transformar em confusão.
- O que você disse? Eu acho que não ouvi direito – colocou a mão no peito e se afastou um pouco de onde ele estava parado.
- Eu desisti de todo o processo de guarda, até da compartilhada, avisei o advogado da minha mãe antes de vir pra cá – repetiu e viu o exato momento em que a informação foi registrada por Elena.
- O que? – ela perguntou de novo, só que a voz já falhando e os olhos enchendo de lágrimas – Não brinca com uma coisa dessas, Nicholas.
- Não é brincadeira, Len, a guarda total é sua – reafirmou e foi o suficiente para a moça desabar de joelhos e cobrir o rosto com as mãos ao chorar alto.
- Ai, meu Deus! Ah, obrigada Deus! – ela repetia sem parar em meio a soluços. O rapaz ficou sem saber o que fazer por alguns instantes até decidir se ajoelhar também e abraça-la, que logo retribuiu e escondeu o rosto em seu peito – Nick, obrigada! Muito obrigada!
- Não precisa me agradecer, Len, tô fazendo isso pela nossa menina – ele também sentiu os olhos marejados ao embalar o choro de Elena por muitos minutos até ela finalmente se acalmar, sair do abraço e encara-lo, ambos ainda de joelhos.
- Eu juro pela vida da Penny, que é tudo de mais precioso que eu tenho e jamais terei, que você falará com ela todos os dias, que ela vai te visitar sempre que possível, quando você estiver aqui em Londres pode ter certeza que ela vai ficar na sua casa, eu vou te manter informado de tudo, mandar fotos, vídeos, informações sobre saúde, coisas da escola...
- Len, calma, respira – a segurou pelos ombros e fez com que o imitasse respirando fundo – Eu pensei muito antes de tomar essa decisão, mesmo indo contra a vontade da minha mãe, então eu sei que você fará tudo isso. Claro que teremos um acordo jurídico, mas eu estou disposto a confiar em vocês mesmo sem ele.
- Vocês?
- Você e o Dougie.
- Você não precisa se preocupar com ele – era visível como falar dele a machucava profundamente - Nick, você é o pai dela, ninguém vai tirar seu papel da vida dela... O D-Doug e eu não nos falamos há meses, você pode ficar tranquilo quanto...
- Ei, respira fundo de novo – pediu sorrindo fraco e ela obedeceu – Por favor, me perdoe por isso. Levei bastante tempo para entender o quanto a Penny precisa dele, o quanto eles se amam... Por isso já combinei com ele como seguiremos daqui pra frente.
- Combinou com ele? Você falou com ele sobre isso?
- Quem você acha que me ajudou a decidir abrir mão da guarda?
- Foi ele? – novas lágrimas se formaram nos olhos de Elena e seu lábio inferior tremeu ao falar – Combinaram o que?
- Deixa que ele te conta – Nicholas sorriu e apertou carinhosamente os ombros de Len antes de ajuda-la a levantar – Bom, é isso, notícia boa tem que chegar rápido também, por isso quis vir hoje mesmo.
- Muito obrigada, Nick, muito obrigada, do fundo do meu coração.
- Já disse que não tem o que agradecer, tudo isso é em nome do amor das nossas vidas... Falando nela, posso ir lá dar um beijo mesmo que ela esteja dormindo?
- Claro que pode, vai lá e eu vou aproveitar pra assoar o nariz – respondeu fungando e ambos riram. Dentro do banheiro, Elena deixou mais algumas lágrimas de alívio e felicidade caírem antes de lavar o rosto e limpar o nariz, então parou e ficou se olhando no espelho por algum tempo, sem acreditar no que havia acontecido nos últimos minutos. Ao sair encontrou Nicholas fechando cuidadosamente a porta do quarto de Penny.
- Vamos marcar um horário essa semana para acertamos o acordo? O advogado da minha mãe vai fazer um rascunho e enviar para o seu amanhã.
- Combinado, perfeito – ao chegarem até a sala, Len pareceu sem jeito antes de perguntar – Porque você fala 'advogado da minha mãe' e não seu?
- Porque ele sempre representou a família, então quase não perguntava nada pra mim, alinhava tudo com ela – respondeu com uma careta – Eu não concordava com a maioria das coisas que ele fazia com você. Nem sei se tenho a cara de pau de te pedir perdão por aquele show de horrores que ele montou.
- E não precisa, eu sempre percebi que não tinha participação sua – sorriu francamente e ele retribuiu – Sua mãe já sabe que você retirou o pedido?
- Sabe e está furiosa, mas ela vai se acalmar e entender que foi para o melhor.
- E seu pai?
- Ele sempre foi muito tranquilo, então foi o primeiro a ver que o que estava em jogo era a felicidade da Penny, comecei a abrir os olhos depois de uma conversa com ele, ai veio a senhora Jordan e depois o Dougie – deu de ombros e Elena sorriu fraco ao ouvir o nome dele – Por favor, se acertem. Vocês nasceram para ficar juntos, para dar a família que a Penn merece... Mas não vou falar mais nada, como disse, você conversa com ele depois.
- Posso te abraçar? – ela perguntou de repente, ainda muito emocionada.
- Vem cá – a puxou para seus braços e a abraçou forte – Obrigado por me dar o melhor presente do mundo.
- Obrigada por me dar o real significado de amor incondicional.

Minutos depois de Nicholas ir embora, o interfone tocou novamente, fazendo Elena ir até a cozinha atende-lo.
- Alô?
- Boa noite, senhorita Alvarez, aqui é o Barrow. O senhor Hoult, que acabou de deixar seu apartamento, pediu para subir novamente com um acompanhante. Posso libera-los?
- Oi Barrow, pode sim, por favor. Inclusive preciso lembrar de mandar uma autorização permanente pra central de segurança, ele é o pai da minha filha.
- Perfeitamente, senhorita, vou colocar essa observação no sistema e o líder da segurança entrará em contato amanhã de manhã para formalização.
- Muitíssimo obrigada, Barrow – após desligar foi até a geladeira pegar uma garrafa d'agua e após alguns goles ouviu batidas na porta da sala e caminhou até lá sorrindo agradecida por Nick não tocar a campainha e acordar Penny – Ainda bem que você não tocou a...
- Oi, baby – Doug disse sorrindo hesitante.

A Garota da Porta Vermelha 2Where stories live. Discover now