Capítulo Um: "Quatro anos, seis meses e dois dias".

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- Vou me despedir da senhora Jordan e já volto – Elena disse rapidamente e atravessou a rua praticamente deserta e bateu na porta da bela casa amarela. Esperou até uma adorável velhinha aparecesse já com os olhos verdes cheios de lágrimas.
- Se você veio fazer o que eu acho que veio fazer, pode ir embora – a senhora disse com a voz firme, mantendo a expressão severa – Eu não vou te dar adeus, sua ingrata.
- Não fala assim, senhora Jordan – Len choramingou fazendo biquinho – A senhora sabe que se fosse por mim, nunca nos mudaríamos daqui.
- Eu não acredito em você, garota sem coração – a velhinha limpou uma lágrima com as costas da mão – Como você ousa ir embora assim?
- Me desculpa – a garota passou os braços em torno da mulher, ambas deixando as lágrimas caírem livremente – Nós precisamos ir, vai ser melhor pra minha família.
- Eu sei, meu bem, eu sei – a senhora Jordan concordou, abraçando forte a menina – É que eu amo tanto vocês que não sei o que será de mim a partir de agora.
- Nós viremos te visitar, já prometi isso! – Len se afastou para olhar a senhora nos olhos – E a senhora vai passar as férias lá em casa, lembra?
- Eu vou sim! Já está na hora de arrumar outro marido! – ela disse bem humorada em meio às lágrimas.
- Sim, dizem que o terceiro é sempre melhor – Elena riu e abraçou a velhinha mais uma vez.
- Cadê aquela pestinha que não veio me dar um beijo? – a senhora olhou para os lados, procurando.
- Deve estar aprontando, como sempre – Len revirou os olhos rindo – Penn! Vem cá! Venha se despedir da senhora Jordan! Penny!
- Qual a senha mágica? – uma vozinha infantil foi ouvida por perto, fazendo as duas mulheres rirem.
- Unicórnio verde – disseram ao mesmo tempo e em menos de 2 segundos a garotinha surgiu entre os arbustos muitíssimo bem cuidados da senhora Jordan.
- Ai sua danadinha, como eu vou sentir saudade de você – a velhinha disse ao pegar a criança no colo e abraça-a apertado.
- Mas a senhora vai conhecer minha casa nova, né? – Penny perguntou segurando o rosto da senhora com as duas mãozinhas.
- Vou sim, meu bem, claro que vou... Não vou conseguir ficar longe das minhas meninas por muito tempo – ela olhou para Elena ao falar – Você sabe que eu amo vocês como se fossem da minha família, não é? Que desde a morte do Howard eu só tive alegria graças á essa pequenina aqui.
- A senhora é da família – Elena a abraçou de lado, sorrindo ao limpar uma lágrima do próprio rosto. As três se abraçaram uma ultima vez, então Len pegou a filha no colo e entrou no carro, saindo rapidamente do bairro que sempre estaria em seu coração.

***

- Chega de choro, por favor? – Len fez bico para o garoto sentado ao seu lado, enquanto Penny rabiscava uma revistinha de colorir no chão do aeroporto.
- Você é quem está chorando, querida, não eu – ele respondeu sorrindo de lado.
- Grosso pra caramba – a garota fez um bico maior ainda ao responder manhosa, fazendo o garoto rir e abraça-la pelos ombros.
- É brincadeira, linda, todo mundo sabe que o bunda mole aqui sou eu – ele disse rindo e beijou a bochecha de Elena demoradamente.
- Isso eu não posso negar, eu sou o homem da história – ela riu também, porém os olhos ainda ameaçavam marejar.
- Penn levanta desse chão imundo – ele imitou a voz de Len, fazendo a garotinha gargalhar.
- O tio Sean tem voz de mulherzinha – ela disse rindo, fazendo a mãe acompanhá-la.
- Ei, mais respeito, sua anãzinha – Sean se fez de bravo, o que só serviu para fazer Penny rir ainda mais.
- Me desculpe, gigantão – ela forçando a voz para parecer mais grossa, fazendo a alegria dos adultos.
- Ai meu Deus, preciso morder essa minha filha – Elena a pegou do chão e a encheu de beijos após morder sua bochecha rosada enquanto essa esperneava e ria. A criança então passou para o colo do rapaz e o olhou séria, ainda mantendo a voz grossa quando disse.
- Porque você não quer ir com a gente, tio Sean?
- Porque eu não posso – ele respondeu do mesmo jeito.
- Pode me contar – ela disse baixinho – A sua namorada, a moça peladona, não quer deixar, né?
- Penny! Que historia é essa? – Elena olhou espantada para Sean, que tentava tampar a boca da menininha que fazia careta.
- Eu vi uma moça pelada na casa do tio Sean! – ela disse alto tentando fugir da mão do rapaz.
- Sua traidora! – ele fingiu chorar, logo sendo abraçado pela garotinha – Não, me larga... Eu vou morrer de tristeza.
- Me desculpa, tio – Penn rodeou a cabeça do rapaz com seus bracinhos e distribuía beijos pelo cabelo dele, virando uma perfeita cópia da mãe ao falar – Não chora, eu te amo.
- Ah, eu também te amo, gatinha – Sean levantou a cabeça rapidamente, arrancando um gritinho da menina, e a abraçou apertado antes de falar sério – Você sabe que se o tio Sean pudesse, ele ia pra Londres com vocês, não é? – ele então olhou para Elena, que assistia toda a cena com um sorriso bobo nos lábios e lágrimas nos olhos, e completou – Se eu pudesse escolher, eu não deixaria que vocês saíssem de Austin.
- Mas nós precisamos... – Len suspirou e amarrou o cadarço do tênis de Penny, como pretexto para desviar o olhar penetrante de Sean – Não se recusa uma proposta dessas.
- Eu entendo, linda, não aceito, mas entendo – ele se inclinou e beijou sua cabeça. Os três então brincaram de diversas coisas até o voo das meninas ser chamado para embarque.
- Promete que não vai viver de comida congelada – Len disse com a voz embargada, já de pé na fila. Sean assentiu tristonho, com Penny sonolenta em seu colo.
- Promete que vai filmar tudo o que a pequenininha fizer de novo lá na Inglaterra – ele ajeitou a criança em seu colo e a apertou levemente em seus braços.
- Promete que não vai deixar que cada modelo que durma na sua casa leve uma camisa sua embora – Len disse rindo em meio às primeiras lágrimas que caiam de seus olhos – Eu não estarei por perto pra te arranjar as que sobram das sessões de fotos.
- Promete que não vai me esquecer... – ele disse sério, a abraçando de lado – Promete?
- Só se você prometer que não vai esquecer sua melhor amiga que te ama tanto – Elena chorou pra valer ao ver os olhos verdes do amigo se encheram de lágrimas ao concordar.
- Vou sentir falta das minhas meninas – Sean disse baixinho, abraçando apertado as duas. Elena então se afastou e mexeu nos cabelos da filha que cochilava com o rostinho apoiado no ombro de Sean.
- Penny? Filha, acorda – ela disse baixinho, limpando algumas lágrimas que ainda caiam por suas bochechas – Princesa, acorda pra dar tchau pro tio Sean.
- Gatinha? – o rapaz sussurrou quando a pequena tirou a cabeça de seu ombro – Me dá um abraço?
- Eu não quero ir – sentindo que aquela realmente era a despedida dos dois, a menininha começou a chorar agarrada ao pescoço de Sean – Quero ficar com você.
- Mas você vai deixar sua mãe sozinha na Inglaterra?
- A tia Jazzie tá lá – o sono ajudava a deixar Penny ainda mais manhosa.
- Você vai morar comigo? E quando eu estiver tirando fotos? Quem vai cuidar de você? – o rapaz falava calmamente, mexendo nos cabelos da criança.
- A senhora Jordan!
- Mas ela é velhinha, Penn! E sua mãe vai morrer se saudade de você... Vamos combinar assim... Olha pro tio – ele fez com que ela o olhasse nos olhos e disse – Eu prometo ir te ver no primeiro dia de neve, o que acha?
- Pro nosso ritual? – a menininha fez bico, ficando a cópia fiel de Elena.
- Pro nosso ritual – Sean concordou e a abraçou apertado, passando a barba por fazer no pescoço dela, fazendo a criança rir alto – Te vejo em Londres logo logo, gatinha.

A Garota da Porta Vermelha 2Where stories live. Discover now