Capítulo Seis: "Pegue a capa, use a capa, voe".

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- Len? Oi, é a Cathie... Tô ligando pra avisar que o Doug teve que ir pra uma reunião com a gravadora e não vai conseguir chegar a tempo pra ver a apresentação da Penny... Sinto muito... Ok, filma tudo pra gente... Beijo – Elena quase pulou de alegria ao ouvir a mensagem de voz da amiga, mas logo sentiu o sentimento murchar, afinal, como explicaria para a filha a ausência de Dougie?

- Mamãe! Porque você tá chorando?
- Ai meu Deus! – Elena praticamente gritou e pegou a filha no colo – Você é coisa mais linda que eu já vi na vida!
- Eu não tô entendo nada – Penny disse rindo ao ser agarrada por Elena.
- A doida da sua mamãe está chorando de felicidade, gatinha! – a garota pegou o celular e começou a tirar fotos de sua pequena bailarina – Você está muito linda!
- Já tá na hora de ir pra escola? – ao ser colocada no chão, Penn começou a fazer caretas para a câmera da mãe – O tio Doug vai com a gente?
- Hum... Gatinha, eu não sei se o tio Dougie vai chegar a tempo... Ele está trabalhando... Mas prometeu assistir o vídeo com você e a vovó no fim de semana.
- Mas, mas... – o bico foi se formando – Ele prometeu ir... Ele...
- Meu amor, lembra que a mamãe disse sobre gente grande ter obrigações? O tio Doug tem que trabalhar...
- MAS ELE PROMETEU! – as primeiras lágrimas já caiam dos olhos azuis da pequena.
- A culpa não é dele por não poder ir, Penny... E se você continuar chorando, estará com o rostinho todo inchado na hora do ballet... Você quer que a vovó e o vovô do Brasil te vejam assim no vídeo que a mamãe vai gravar pra eles?
- Nã-não... – falar sobre a família no Brasil geralmente resolvia o assunto: Penn tinha um amor incomparável pelos parentes que ela via apenas algumas vezes ao ano, porém falava constantemente por Skype.
- Ok, então chega de choro e vamos pra escola! Estou doida pra ver minha bailarina em ação! – Elena disse sorridente, mesmo que por dentro doesse ver sua menininha limpar as lagrimas e fungar, ainda triste por não ter Doug num dia tão especial.

- Oi Penelope, você está linda! A senhora Danes vai te levar até a sua turma... Senhorita Alvarez, como vai? – a bonita professora de Penny a cumprimentou sorridente assim que a pequena seguiu a senhora Danes até um dos camarins improvisados na escola.
- Senhorita Waldorf, muito bem e você?
- Tudo ótimo! Ainda mais por saber que o pai da Penelope conseguiu uma brecha na agenda e poderá vir! – a jovem professora de Penn parecia de fato radiante com a notícia.
- P-pai dela? – a imagem de Nick se formou rapidamente em sua mente, fazendo seu coração disparar.
- É! A Penelope não para de falar sobre ele! As outras crianças elas adoraram a ideia do pai de uma amiguinha ter uma banda!
- Banda? – a voz de Elena saiu esganiçada, fazendo a professora franzir as sobrancelhas.
- Senhorita Alvarez, está tudo bem?
- Desculpe, está tudo bem... Só foi uma semana cansativa – Elena forçou um sorriso e agradeceu mentalmente quando outros pais chegaram com suas miniaturas de bailarinas e a professora teve que recebê-los.
Elena foi até a sala onde viu Penelope entrar e parou na porta quando viu a filha interagir com as amiguinhas... Seu sorriso murchou instantaneamente ao ouvir o teor da conversa das crianças.
- É mentira! – uma garotinha ruiva, que Elena reconheceu como sendo Annabelle, acusou com sua vozinha aguda.
- Não é mentira! O meu papai vinha sim me ver dançar! Mas ele teve que trabalhar e... – Penny retrucou levantando as sobrancelhas.
- Você não tem papai, mentirosa! – quando Elena estava prestes á interferir, ouviu a filha responder de um jeito assustadoramente parecido com o seu jeito de falar:
- Eu não posso fazer nada se você não acredita em mim!
Ao ouvir a frase tão madura da sua filha de quatro anos, Elena percebeu que era hora de engolir o orgulho e fazer uma ligação.

- Alô?
- O-oi Doug.
- Oi Len.
- Oi... É... Eu sei que você está trabalhando, mas...               
- Eu não estou trabalhando!
- Você não esta na gravadora?
- O que? Não! Porque você me desconvida e agora diz que eu tô trabalhando?
- Te des... Que barulho é esse? Onde você está?
- Aqui – essa palavra foi pronunciada atrás da garota, fazendo-a soltar um gritinho e assim chamando atenção da filha, que teve o rostinho iluminado ao ver Doug parado ao lado da mãe em frente à sala.
- Você veio! Você veio! – Penny foi correndo para os braços do garoto, sorrindo de um jeito que deixou Elena com ciúmes.
- Claro que eu vim! – Doug sorria abertamente ao abraçar a pequena em seu colo – Até parece que eu perderia a chance de te ver parecendo uma princesa de verdade e dançando!
- Mas a mamãe disse que você tinha obrigações de gente grande!
- Claro que a sua mamãe disse isso... – o rapaz olhou feio para Elena, que ainda observava tudo boquiaberta.
- Eu tenho que ensaiar... – Penn desceu do colo de Doug e o olhou com aquela carinha de ansiedade – Promete que não vai embora?
- Claro que prometo, linda – assim que a pequena saiu correndo de volta para a sala, Doug virou para a mãe dela – Ok, hora de se explicar.
- Me explicar? Eu não tenho nada pra explicar – Elena saiu andando pelo corredor, tentando evitar contar a verdade.
- Não se faz de louca, Alvarez – ele puxou a garota pelo braço, obrigando Elena a encara-lo – Porque você disse pra Cathie que a apresentação tinha sido cancelada?
- E-eu não...
- Se não fosse pela minha mãe ligar para pedir que eu sentasse o mais perto do palco possível para conseguir o melhor vídeo possível... Eu nunca teria chego aqui a tempo!
- Doug, eu...
- Porque você está gaguejando? O que você está escondendo?
- Porque você acha que eu tô escondendo alguma coisa?
- Você está com aquela cara suspeita... O que aconteceu?
- Nada! Você é paranoico!
- Elena, é sério. Se você não... – a frase de Doug foi interrompida por um grito infantil seguido por um choro.
- Penelope – os dois disseram juntos e saíram apressados até a sala onde encontraram a pequena e Annabelle chorando. Dougie se apressou pegando Penny no colo e tirando-a da sala.
- Oi princesa, o que foi? – ele ficou de costas para as outras pessoas no final do corredor, não deixando que mais ninguém visse as lágrimas de Penny.
- Eu não mais quero d-dançar – a menininha disse aos soluços, abraçando Doug pelo pescoço com os dois bracinhos.
- Mas você tava tão animada... O que aconteceu? – o rapaz falava baixinho, observando seu reflexo no espelho á direita. Era incrível como a menina parecia sua... Vestindo a roupinha cor de rosa da apresentação de ballet, o cabelo preso por uma fita colorida...
- A Annabelle disse que eu a-atrapalho tudo, que eu só erro... Mas eu sei esse passo, e-eu ensaiei – Penny o olhou nos olhos, fazendo biquinho, para logo sussurrar – E ela ri de mim por não ter papai.
- Ah, meu amor – o garoto a abraçou, sentindo o coração apertado ao ouvir aquela confissão de uma criança – O tio Doug vai resolver isso, combinado? Mas você precisa prometer parar de chorar e dançar do jeitinho que você me mostrou na casa da vovó, okay?
- Okay.
- Agora vamos secar essas lágrimas – ele limpou o rostinho da menina com o polegar e beijou sua bochecha – Agora me mostra quem é a Annabelle.
- É aquela ali, com cara de malvada – Doug teve que morder o lábio para não rir e assim parecer que era certo o que a garotinha havia dito.
- Olá, os senhores devem ser os pais da Annabelle, certo? – ele se aproximou do casal, ambos na casa dos 30 anos, e sorriu.
- Sim, essa é minha esposa Hilarie e sou Anton Charleston... Você é algum tio da Penelope?
- Tio? Porque o senhor acha que eu sou tio dela?
- Annabelle disse que Penelope não tem pai, então eu presumi...
- O senhor, como a sua filha, presumiu errado – Doug deu um sorriso largo e beijou a cabeça de Penn, que estava apoiada em seu ombro – Eu sou o pai da Penelope.
- Peço desculpas pelo equivoco, senhor...
- Poynter, Dougie Poynter – ele estendeu a mão e cumprimentou o casal, ainda sorrindo – Olá Annabelle, minha filha disse que você a ajudou a aprender a dança que vão apresentar. Muito obrigado por isso.
- E-eu... De nada – a garotinha ficou da cor de seus cabelos, ainda boquiaberta diante do pai de Penn.
- Bom, foi um prazer conhecê-los... Acredito que nos veremos mais vezes – a vontade de rir só aumentava, ainda mais ao ver a cara de Elena observando a cena.
- Claro, claro – o senhor Charleston sorriu e parecia de fato ter gostado do rapaz – Devemos também marcar um almoço entre nossas famílias.

A apresentação de ballet da turma da senhora Waldorf foi a mais aplaudida do dia. Ou pelo menos foi isso que Elena e Dougie acharam. Ambos sorriam feito bobos enquanto tiravam fotos e filmavam a dança de Penny.
Quando acabou, todos os pais foram convidados a tirar fotos oficiais para o mural da escola.
- Vem, tira foto com a gente! – Penny puxava Doug com toda sua força pela mão, fazendo o rapaz sorrir sem jeito e ir para o lado da mãe da garotinha.
- Desculpe por isso – Len sussurrou de bochechas coradas.
- Sem problema – Doug disse sem graça, logo pegando Penn no colo e parando por um momento, sem ter certeza de deveria colocar o braço em volta da cintura de Elena, como assistiu os outros pais fazendo com as mães no momento da fotografia.
- Abraça a mamãe assim ó! – disse Penelope, com seu incrível dom de constranger os dois adultos ainda mais, se contorceu no colo de Doug até alcançar seu braço e coloca-lo em volta de Elena.
- Vamos lá, família! Sorrindo pra senhor Winthrop – a organizadora do evento gritou, apontando para o fotógrafo – Digam "cheese"... 1,2,3 e...
- Queijo! – as meninas disseram juntas em português no momento do flash, deixando tanto o fotografo quanto a organizadora confusos, enquanto Doug ria ao virar para Elena.
- Não vale! Vocês falam 2 línguas e eu não! – os dois riam se olhando, sem perceber que o senhor Winthrop tirava outra foto do momento, com Penny fazendo uma careta vesga.
- Essa foto merece uma moldura – a organizadora disse sorrindo – Parabéns pela linda família!

- Onde está seu carro? – Doug perguntou assim que saíram da escola, no começo da noite.
- Está na oficina, nós viemos de táxi – Elena mantinha sua concentração em Penny rodopiando na calçada á sua frente, adorando ver o vestido girar.
- Vamos, eu levo vocês pra casa.
- Não precisa, nós... – Elena foi deixada falando sozinha quando Doug pegou Penn pela mão e começou a correr, rindo, em direção ao seu carro – Ei, voltem aqui!
- Corre, Penn, corre! – Doug gritava, fazendo a criança gargalhar.
- Ah eu vou pegar você, sua traidora! – Elena também já ria enquanto tentava não cair de seus saltos – Largando a mamãe sozinha pra fugir com o tio Doug!
- Vamos, vamos! A mamãe tá chegando!
Algumas pessoas na rua não podiam evitar sorrir para a cena: um rapaz de jeans e camisa preta correndo de mãos dadas com uma menininha de tutu cor de rosa, sendo perseguidos por uma moça de vestido azul marinho e sapatos vermelhos. Os três gargalhando.
- Não! Nós vamos pegar a mamãe! – Doug, de repente, parou de correr e virou, assustando Elena, que não conseguiu parar a tempo e acabou esbarrando no rapaz, logo sendo envolvida por seus braços – Vem, Penn! Faz cócegas nela, eu a seguro pra você! Vem!
- Isso não vale! Aaaah socorro! – Elena fingia tentar escapar de Doug enquanto a pequena erguia as mãozinhas e ria.
- Cosquinhas na mamãe! Ela vai fugir, ela vai fugir – Penn gritava às gargalhadas – Abraça ela direto, papai.

A Garota da Porta Vermelha 2Where stories live. Discover now