Capítulo Dezessete: "Meu caminho para casa é através de você".

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- Eu não faço ideia como essas três fazem essa comunicação dar certo – Jazzie comentou com Elena, ambas observando suas mães conversando com a senhora Jordan, recém chegada dos EUA, no jardim dos Poynter.
- Uma texana da gema, uma inglesa e uma brasileira unidas pelo amor por uma menininha – Len sorriu fraco olhando a filha correr atrás de Josh completamente alheia da tensão que cobria a casa – A senhora Hoult poderia estar aqui, participando disso, vendo como a Penn é feliz com a gente.
- A mãe do Nicholas era tão legal na época do colégio, não sei como se transformou assim – Jazzie jogou o disco de plástico para Spock pegar, sendo seguindo aos risos pelas crianças.
- Ela não se transformou, amiga, ela só está defendendo o filho dela. Eu faria qualquer coisa pela Penny, sei como ela se sente.
- Mas ela tinha que ver o lado da neta, né? Ela acha que a Penny será feliz sem você? Sem a gente? Morando com eles que ela acabou de conhecer?
- Sabe o que é mais complicado? Eu sinto que o Nick concorda com a gente, mas ele não vai contra a própria mãe.
- Pois deveria, pelo bem da filha dele – Jazzie abraçou a amiga pelos ombros antes de continuar – Você mudaria alguma coisa nessa historia toda?
- Se corresse qualquer risco de não ter ou perder a Penny? Não mudaria nada.
- Mesmo que você não fique com meu irmão?
- Mesmo que eu não fique com o seu irmão.



- Obrigada por ter vindo, Nicholas – Len aceitou o beijo na bochecha que o rapaz lhe deu ao entrar em seu apartamento.
- Acho que já passou da hora de conversarmos à sós – ele permaneceu sério ao acompanhar a moça até a sala e sentarem de frente um para o outro nos sofás.
- Eu quero muito entrar em acordo com você.
- Eu quero o que for melhor pra minha filha – as olheiras sob os olhos de Nick estavam ainda maiores do que Elena lembrava – Vou me esforçar para te ouvir, para tentar entender e para chegarmos num acordo visando o bem estar da Penny.
- É tudo o que eu quero – respirou fundo antes de começar – Primeiro de tudo, quero te pedir desculpa mais uma vez. Eu nunca planejei nada, não escondi a Penn de você para te machucar.
- O que houve, Len? Você sabe que poderia ter me contato desde o inicio... Por quê? Eu realmente achava que te conhecia, mas a Len que eu conheci na escola não faria isso.
- Ai, Nick. Preciso saber que você não vai usar as coisas que vou te contar contra mim. Posso confiar em você? – suspirou ao vê-lo concordar e colocou seu coração nas mãos do rapaz – Depois daquela noite que passamos juntos, o Doug terminou comigo e eu decidi aceitar a bolsa de estudos no Texas. Mas ai eu descobri que estava grávida e pelas contas não dava pra saber de quem o bebê era, você não faz ideia do desespero que senti. Que novela mexicana de quinta categoria eu havia me metido? Uma zé ninguém saída do Brasil sem saber se estava grávida de um músico famoso ou de um ator promissor. Quão ridículo era aquilo? Me sentia tão suja, tão errada. Eu não ia contar nada pra nenhum dos dois, estava com vergonha, as pessoas me chamariam de interesseira, de alpinista social, então decidi voltar pro Brasil e criar meu bebê perto da minha família. Só que o Doug pirou e me quis de volta mesmo depois da traição e eu não podia fazer aquilo com ele, tive que contar a verdade... E ele me quis, quis o bebê sem saber se era dele e eu o amava tanto, quis aquela família com ele.
- O que deu errado? – ele realmente parecia envolvido na história.
- Eu vi que me arrependeria de não correr atrás dos meus estudos, da minha carreira... Mas principalmente, eu senti que ela era sua. Alguma coisa me dizia que ela era sua filha e eu não podia fazer aquilo com o Doug, obriga-lo a criar um bebê que não era dele, ainda mais na época que a banda estava decolando, ai eu fui embora.
- Não teve contato com ele por quanto tempo?
- Mais de quatro anos.
- Caraca, tudo isso? Não pensou em voltar antes?
- Todos os dias, mas a vida era tão corrida que não tinha tempo pra me lamentar.
- Como foi estar sozinha num país novo criando um bebê?
- Eu tive muita sorte e aluguei uma casa de frente para um casal de idosos que me acolheu como se fosse da família, os Jordans – os olhos de Len brilharam ao contar essa parte – O senhor Jordan parecia que só estava esperando a Penn nascer para ir em paz, ele já era bem velhinho e não aguentou uma pneumonia e morreu quando ela completou cinco semanas de vida. A partir dai a senhora Jordan esteve presente em todos os nossos dias.
- Agora faz sentido o amor que ela sente por vocês.
- O que? Como você sabe dela?
- Eu só aceitei vir conversar com você porque ela me convenceu – contou dando de ombros – A senhora Poynter me ligou ontem e disse que alguém precisava falar comigo, em menos de cinco minutos eu me vi aceitando ir conversar com ela.
- Ela é assim! E por isso sumiu ontem a tarde.
- Me encontrei com ela num restaurante e Len, ela é apaixonada por vocês. Não vou entrar em detalhes, mas o discurso dela fez com que eu me sentisse um bosta por ter entrado com esse processo, mas você me entende, né? É minha filha. Consegue imaginar como me senti ao saber que uma parte de mim esteve por ai por anos sem eu saber? E depois de conhece-la, Len, essa menina se transformou no centro do meu universo em segundos depois de colocar meus olhos nela.
- Mas você não precisa da guarda total, Nick – ela sentou na beirada da poltrona e se inclinou para segurar a mão dele – Por favor, retira o pedido. Eu juro que você fará parte da vida dela de forma ativa, por favor.
- Eu não sei de posso confiar em você, Len – disse calmo, sem soltar a mão – Não sei se acredito no que você diz, não depois de tudo isso. Eu entendi seus motivos, claro que entendi, mas ela também é minha.
- E ela sempre será sua! Nick, por favor!
- Eu preciso pensar, Len. Eu ouvi tudo o que você me contou hoje, ouvi de verdade e vou levar em consideração. Me deixa pensar, por favor.
- Pensa na nossa menina, no que é melhor pra ela – apertou a mão dele entre as suas e ele concordou com a cabeça.



- Desculpa o atraso – Doug ofereceu a mão em cumprimento antes de sentar na poltrona indicada – Vim direto do aeroporto.
- Tudo bem, achei que você nem viria – Nick apertou a mão estendida e sentou de frente para o outro no escritório da casa de seus pais – Confesso que fiquei surpreso por você me atender quando liguei.
- Voltei antes da audiência para conversar com você, então caso não me ligasse, eu ligaria pra você – tomou um gole da água que fora servida na mesinha de centro e foi direto ao ponto – Soube pela minha mãe que você conversou com a Elena há algumas semanas sobre a guarda total.
- Sim, estou considerando seguir com a compartilhada.
- O que te faz ter tanta certeza que o juiz te daria a total?
- Elena tomou muitas decisões equivocadas nos últimos anos... Minha mãe e nosso advogado tem usado um dossiê contra ela em cada audiência, ela tem sido massacrada por eles e eu não concordo com isso, não queria que chegasse a esse ponto. A Penny não vai me perdoar quando tiver idade pra entender isso.
- Que bom que você pensa assim, afinal, todos queremos o bem da Penelope – ainda era difícil para ambos controlarem o ciúme e protecionismo que sentiam em relação à criança – Soube também que você tem passado bastante tempo com ela... Ela já te chama de pai?
- Às vezes, mas ainda não é natural... Ela me perguntou esses dias se você não ficaria chateado por isso e eu garanti que não, que você era um cara legal e nunca ficaria chateado com ela – viu Doug arquear a sobrancelha e esclareceu – Nunca tive problemas com você, Poynter.
- É, eu teoricamente também não tinha nenhum com você – o encarou ao continuar - nós éramos dois adolescentes idiotas competindo pela atenção da Elena, mas isso não justifica você ter tentado ficar com ela bêbada naquele ano novo – falou calmo e completou quando o outro fez menção de responder – Eu sei que você também estava bêbado, como estavam na noite em que fizeram a Penelope.
- Elena nunca ficaria comigo sóbria e nós sabemos disso, ela sempre gostou de você, eu só era carente demais para ver isso na época – a confissão surpreendeu Doug que assentiu com a cabeça – Confesso que também não lembro muita coisa daquela noite, só entendi o que tinha acontecido quando acordei com ela chorando quando te viu no dia seguinte.
- Você teria ficado com ela se ela quisesse?
- Claro que teria e isso teria sido a pior decisão pra nós dois – Doug franziu a testa e ele explicou – Ela obviamente não gostava de mim e eu percebi depois de um tempo que eu não era apaixonado por ela, era apaixonado pela ideia de ficar com ela, de tê-la na minha vida... Não me passou pela cabeça que se eu tivesse investido apenas na amizade a teria pra sempre.
- Então você não está apaixonado por ela agora? – quis confirmar.
- Não, na verdade eu tenho uma namorada – sorriu para o espanto de Dougie.
- Sério? Como ninguém sabe disso? Eu não fazia ideia.
- Ela é tipo, muito famosa – confidenciou – Por isso tomamos cuidado pra não ser de conhecimento do público.
- E porque você tá me contando?
- Pra você ter a plena certeza de que nada que eu tô fazendo é por causa da Elena ou de qualquer sentimento que possa ter por ela – Doug balançou a cabeça – Eu só quero a garantia de que meus direitos como pai serão levados em consideração, entende?
- E para isso você precisou me tirar da jogada? – a mágoa na voz de Dougie foi notada por Nick de imediato.
- Eu nem pensei em você, cara, sendo bem honesto, só queria atingir a Elena – mais uma vez surpreendeu com a honestidade – Mas eu não sabia o quão apegada a Penny era a você. Odeio ver minha filha sofrer... Não teve um único dia nesses últimos meses em que você esteve longe que ela não tenha falado seu nome.
- Eu tentei me afastar, mas senti muito a falta dela, mesmo com todas as chamadas de vídeo – confessou e Nicholas sorriu – Eu te entendo, cara, mas não concordo com suas decisões, tudo parece muito emocional e pouco racional.
- Engraçado você dizer isso hoje, quando meu pai disse a mesma coisa ontem – Doug franziu a testa mais uma vez e ele logo completou – A Penny estava aqui e desde que chegou estava bem manhosa, chorando por qualquer coisa, só queria ficar no meu colo, nem quis papo com os meus pais.
- O que houve? Ela não é assim.
- Eu sei, a conheci bem nesses últimos seis meses, parei minha vida profissional pra isso – falou como se o outro tivesse ofendido sua postura de pai – Por isso sabia que algo estava errado, ela realmente não é assim... Levei a tarde toda para entender o que era. Era saudade de você.
- O que?
- Já tinha tentado de tudo, mas foi só quando fiz um sanduiche que ela abriu o berreiro e disse que 'não era assim que o tio Doug fazia'. Partiu meu coração ver aquela carinha lavada de lágrimas e saber que era culpa minha, foi ai que decidi te ligar, achei que ainda estivesse na Califórnia.
- Voltei para a audiência final da guarda, mesmo sem poder ficar ao lado da Len, queria estar por perto.
- Que bom, assim pudemos ter essa conversa pessoalmente e eu te falar o que preciso dizer – Doug poderia jurar ter sentido a voz de Hoult falhar ao continuar – Não posso mais fazer isso com a nossa menina.
- Nossa?
- Nossa, a Penny é de nós três, por mais que eu tentasse te excluir da equação, você faz parte dela e eu não posso fazer minha filha sofrer assim, não posso deixar esse medo de ser substituído falar mais alto.
- O jeitinho que ela fala de você quando eu ligo... – sua própria voz falhou e ele pigarreou – A Penelope te ama, cara. Eu nunca usurparia sua posição como pai agora que você está na vida dela. Eu vim aqui hoje te fazer um pedido.
- Qual?
- Não me afasta dela, por favor, aquele coraçãozinho maravilhoso cabe nós dois, a gente não precisa dividi-lo.
- Eu ia falar algo parecido – Nicholas riu fraco e Doug o acompanhou – Qual o sentido de brigar sendo que nós três queremos a mesma coisa, que é a felicidade da Penny? Por isso te chamei aqui, pra te fazer uma proposta.
- Qual?
- Minha vida é nos Estados Unidos, então preciso da sua ajuda para sermos os pais que ela precisa e merece aqui todos os dias – ambos sorriram concordando – Posso contar com você?
- É claro que sim – Doug ofereceu a mão e foi cumprimentado com força ao completar – Arrisco dizer que podemos tentar até uma amizade, seria tão benéfico para a Penelope.
- Eu acho válida a tentativa – Nick sorriu ainda apertando a mão do outro.
- Isso quer dizer que você vai desistir da guarda total?
- Sim... Ver a Penny chorando por sua causa, mas querendo meu colo foi um divisor de águas pra mim e nossa conversa de agora serviu pra me fazer ter certeza que a melhor coisa pra ela é que eu compartilhe a guarda com a Elena.
- Cara – Doug pigarreou de novo tentando aliviar o nó de emoção da garganta – Obrigado, sério, obrigado.
- Não tem o que agradecer – a voz de Nick não estava muito diferente.
- Mas então, agora tenho uma pergunta importante... Ela vai poder me chamar de pai? Tenho medo de ser confuso.
- Já pensei nisso – Nicholas esboçou um sorriso – Pelo o que a Penny fala você manda muito melhor no português que eu, então o que acha de eu continuar sendo daddy e você ser papai?
- A ideia não poderia ser melhor.

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