Capítulo 11

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No inicio da noite, Flor de Liz caminhava perdida em pensamentos caóticos. Ela repentinamente ouviu passos apressados que a seguiam. Sentiu um calafrio na espinha e apertou o passo. A área onde morava atualmente era um bairro com pouca movimentação de pessoas nas ruas e iluminação escassa. Já ouvira de vizinhos que ocorria muitos assaltos naquela região e por isso estava se preparando para correr quando ouviu chamar seu nome.

-Flor! Com isso, ela parou olhando para trás reconhecendo a vizinha que corria em sua direção. Suspirou aliviada e sorriu a guisa de cumprimento.

-Tudo bem dona Celeste?

-Quase..., não te alcanço. Informou a mulher tentando recuperar o fôlego. -Você anda muito rápido!

-Desculpa, é porque é muito perigoso por aqui e achei que era alguém mal intencionado.

-Tudo bem querida, eu entendo. A mulher agitou as mãos impaciente. -Mas, mudando de assunto..., está sabendo que a escolinha do lar infantil vai ser demolida?

-Como assim, do que está falando mulher? Indagou como se já não houvesse ouvido comentários sobre o assunto.

-Isso mesmo! Afirmou com veemência. –Será preciso desocupar o local o quanto antes..., é o que estão dizendo.

-E não poderemos fazer nada para mudar isso?

-O terreno foi vendido para uma grande empresa e eles querem construir um resort no local. Disse com expressão de inveja. - Isso aqui vai ficar muito valorizado depois que acabarem com tudo aquilo. Continuou em tom de desprezo.

Flor de Liz sabia que muitos moradores do bairro não aprovavam a existência de um abrigo para menor tão próximo as suas casas. Desde criança quando fora trazida para o Lar infantil Nuvem de Esperança ouvia as pessoas comentarem que era local de futuros delinquentes. Aquilo costumava deixá-la arrasada e cada vez mais introspectiva, por isso geralmente mentia sobre onde morava. No entanto, dona Esperança, a mulher que fundara o pequeno abrigo a fizera entender que as pessoas são naturalmente críticas em relação ao que desconhecem. Era preciso ter paciência com elas e perdoar sua ignorância, pois não sabiam que muitas daquelas crianças estavam assustadas e incertas de seu futuro.

Ela tinha razão sobre alguns aspectos! Porém, por outro lado, aquelas pessoas não precisavam ser tão cruéis..., eram somente crianças indefesas.

-Não podem fazer isso! Flor de Liz falou revoltada. -São muitas crianças que precisam daquele lugar! Por favor..., precisamos fazer algo.

-Não querida Flor! Eu perguntei na direção do abrigo e falaram que a escola está ilegal. A mulher informou com um sorriso satisfeito. -Eles possuem todos os documentos!

-Eles? Quem são eles? Questionou impaciente. -Podemos nos reunir e falar com o responsável.

-Eu, na verdade, não sei dizer. Respondeu a mulher com um dar de ombros. –Mas, no abrigo devem saber de algo.

-Tem razão dona Celeste. Flor de Liz parou em frente à porta da quitinete que alugara buscando a chave da porta dentro da bolsa. -Amanhã irei definitivamente conversar com a diretora para saber sobre esse assunto.

-Eu imaginei que você soubesse de alguma coisa, já que está sempre por lá. Comentou a vizinha desconfiada.

Flor de Liz balbuciou uma despedida rápida e entrou em casa. Ela precisava resolver aquela situação preocupante, por outro lado, ao menos tinha algo para ocupar a mente e evitar pensar no quanto seu coração estava machucado.

***

No dia seguinte a primeira coisa que fez foi seguir rapidamente ao Lar infantil Nuvem de Esperança procurar Carla Moreira, a diretora.

-Bom dia, Rose! Cumprimentou ao abrir a porta e avistar a secretária organizando papéis na mesa da diretora. –Carla já chegou?

-Bom dia Flor! Ela não virá pela manhã, pois está resolvendo algumas pendências relacionadas ao lar infantil.

-É sobre essa desapropriação que estão comentando? Perguntou ansiosa.

-Oi?...O-o quê?

-Você sabe o que está acontecendo, não é? Flor encarou a secretária que desviou nervosa o olhar.

-Sobre o quê?

-O que são esses comentários que estão sendo ditos sobre a desapropriação da nossa escola?

-Não se preocupe! Rose se afastou apressada. – Carla já está resolvendo esse assunto.

-Nós também precisamos fazer alguma coisa! Disse com veemência.

-Ora Flor, o que podemos fazer? Rose pigarreou desconfortável.

-Onde estão os papéis da intimação? Indagou abrindo as gavetas dos armários, onde sabia que a diretora arquivava os documentos importantes. –Quero ver o que diz exatamente!

Rose correu para impedi-la de abrir os armários.

-São muitos termos jurídicos...

-Esqueceu que meu noivo..., quer dizer, eu entendo um pouco sobre leis. Interrompeu pigarreando nervosa ao lembrar que não havia mais noivado.

-Mas, Carla não vai gostar de saber...

-Onde está? Indagou chateada.

-Flor, a diretora não vai gostar de saber que alguém está bisbilhotando nas coisas dela. Choramingou a secretária.

-Rose, mulher! Flor colocou as mãos nos ombros da outra a mirando com um olhar intenso. –Podemos até tentar falar com meu... , digo, ex-namorado para nos ajudar a resolver isso.

-Só que...

-Rose, eu não posso ficar parada de braços cruzados esperando que a situação se resolva. Disse enquanto pegava uma pasta e folheava rapidamente o que continha dentro.

-No entanto, isso não é...

-O que significa isso? Ela havia encontrado a cópia do documento sobre a Ação de desocupação que procurava. Era uma proposta do escritório de advocacia Alcântara e Alencar. –Não pode ser! Murmurou ao descer os olhos rapidamente pelas páginas e ver de quem era a assinatura rabiscada no final do documento que tinha em mãos.

- O q-quê?

-Você sabia disso? Perguntou furiosa agitando as folhas no ar. – O que Diego tem a ver com esse escritório?

-Eh..., não sei!

Flor de Liz começou a ler e foi ficando cada vez mais entorpecida de raiva. Ele não pode ser tão mesquinho assim. Pensou. – Ah, mas ele vai me ouvir! Esbravejou enfurecida.

-Oh, mas professora parece que eles...

-Isso não vai ficar assim. Flor resmungou arrumando a bolsa no ombro. -Quem ele pensa que é?

-Professora...!Flor de Liz...!Não é o que está pensando...

Esperança RoubadaWhere stories live. Discover now