Capítulo 20

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Alguns dias após o acidente automobilístico sofrido por Diego, Flor de Liz estava na sala dos professores corrigindo trabalhos escolares quando Marcos, o professor de educação física entrou e se sentou ao seu lado. Ele era um cara bonito, alto, magro e com uma personalidade carismática. Todas as alunas e algumas jovens professoras suspiravam sempre que ele as cumprimentava.

-O que está fazendo?

-Corrigindo algumas atividades das crianças.

-Pensei que você estava no hospital com seu namorado.

-Ele não é..., mais o meu namorado!

-Que bom...

-O quê?

-Quis dizer..., que bom que está aqui, porque estava precisando conversar com você. Ele disse encabulado. –Podemos sair para comer alguma coisa?

-Estou sem fome e com muita coisa para fazer. Ela disse voltando a atenção ao que estava fazendo. – Como eu estava indo para o hospital, acabou que fiquei muito atrasada com as correções dos trabalhos escolares.

-Oh..., então você ainda estava cuidando dele...

-Pelo menos até a mãe e a noiva aparecerem reivindicando seus respectivos direitos. Respondeu com sarcasmo.

-Nossa..., e você?

-Diego já não me aceitava por lá, então eu meio que ficava nos bastidores. Apesar de tudo, eu ainda me preocupo muito e não suporto ficar em casa sem saber o que está acontecendo com ele. Então fico longe apenas o suficiente para não agitá-lo tanto.

-Ele não queria ver você, mas aceitava ver a suposta noiva?

-Eu não sei..., só soube que ela esteve por lá algumas vezes, mas nunca a vi.

-Espera..., não entendi. Marcos a olhou com ar interrogativo. -Eu achei que fosse você, a noiva.

-É uma longa história, estimado colega! Flor de Liz sorriu triste.

-Então, quando ele terá alta hospitalar?

-Amanhã Diego estará indo para casa, pois está reagindo bem ao tratamento desde que não o forcem demais.

-Quem bom né?

Flor de Liz anuiu após um longo suspiro. Desde a discussão que tivera com Diego no hospital, ela havia evitado deixá-lo vê-la quando ia visitá-lo. E como sabia que ele não gostava da comida do hospital, ela mesma cozinhava e deixava a marmita com uma enfermeira. Estava feliz que pelo menos ele estava se alimentando direito e logo poderia sair do hospital.

-Soube que ele fraturou a perna e bateu a cabeça. Marcos comentou tirando-a do seu devaneio.

-E esqueceu dois anos da vida dele. Ela completou abatida.

-Deve ser difícil para você...

-Vou superar. Ela falou confiante. –Então..., o que você queria conversar comigo?

-Ah..., bom..., é que soube que você dá aulas no orfanato e gostaria de saber como faço pra ajudar também. Ele falou de modo tímido.

-Ah Marcos, que bom! Flor comemorou. –Estamos sempre precisando de ajuda. Amanhã à tarde estarei indo dar aulas, se quiser pode ir comigo conhecer o projeto e também as crianças.

-Aceito! Marcos falou eufórico. –Pode me passar seu contato para combinar melhor o horário?

-Claro. Ela respondeu procurando o smartphone dentro da bolsa do outro lado da mesa em que trabalhava. –Deixe-me verificar aqui na minha agenda, pois nunca lembro qual o número.

-De que estão falando tão animados? Bianca perguntou entrando repentina na sala de professores.

-Marcos disse...

-Nada demais! Ele falou ao mesmo tempo em que Flor de Liz. Bianca os encarou com ar desconfiado.

-Me desculpem, não quis ser intrometida.

-Oh não se preocupe, nós apenas...

-Tudo bem Bianca, precisa de alguma coisa? Marcos interrompeu com frieza.

-Eu só vim pegar os livros, minha aula já vai começar. Bianca disse com voz trêmula.

-Bianca! Flor chamou, mas a professora saiu apressada sem lhes dá atenção. –Por que você falou assim com ela?

-O que eu disse?

-Deixa pra lá. Flor suspirou arrumando o material em que trabalhava. –Preciso ir agora, amanhã combinamos o horário de nos encontrarmos no lar infantil.

-Ou podemos marcar um local e iremos juntos. Marcos sugeriu ansioso. -Posso te dar carona.

-Claro! Flor sorriu concordando. –Então te mando mensagem com a localização.

Marcos assentiu e saiu deixando-a sozinha. Naquele momento, ela recebeu uma mensagem via wattsApp de Solange avisando que Diego estava recebendo alta hospitalar e estava indo para casa com a mãe dele e a filha do governador.

"Eu pensei que seria somente amanhã." Flor comentou na mensagem.

"A mãe dele estava causando problemas à equipe de enfermagem, então o médico disse que poderia antecipar a alta, visto que Diego está progredindo bem."

"Ele ainda não lembra nada?"

"Não. Porém acho que ele vai sentir falta da comida, pois soube por uma enfermeira que a namorada estava mimando-o todos os dias." Solange alfinetou enviando vários ícones de emoji sarcasmo.

Flor respondeu com um emoji piscando com a língua para fora.

Será que ele vai sentir mesmo falta da minha comida? Ela pensou esperançosa. –Ah Flor, deixa de ser boba! Resmungou revoltada consigo mesma. –Por que ele sentiria minha falta se tem a estúpida noiva do lado dele?

Flor guardou os materiais escolares em que trabalhava e correu apressada para o ponto de ônibus. Chegou a sua casa cansada e triste, pois a partir de agora não teria mais como visitar Diego em segredo e saber como ele estava progredindo no tratamento. Só dependeria agora de alguma informação de seus amigos quando fosse visitá-lo.

-Pelo menos sei que fiz o que pude por ele. Murmurou deprimida. Sentia tanta saudade que chegava a doer fisicamente e aquela distância estava machucando-a mais do que poderia ter imaginado. Flor afastou os pensamentos depressivos que ameaçavam acometê-la e se concentrou em cansar seu corpo e mente fazendo faxina na casa para poder dormir aquela noite.

Na manhã seguinte correu apressada para o ponto de ônibus, porém se lembrou que não tinha aulas naquele horário na escola. Então desviou para o lar infantil Nuvem de Esperança fazendo todo o percurso a pé numa longa e exaustiva caminhada. Antes de chegar à frente do portão no lar infantil tropeçou enganchando o pé em uma raiz de árvore fazendo-a perder o equilíbrio e quase chegar ao chão não fosse a mão de um anjo salvador que a segurou forte pela cintura.

Flor sentiu seu coração quase sair pela boca quando estava caindo de cara no chão, mas ao invés disso ficou de cara com um peito largo e aconchegante. Sua pulsação foi a mil quando a mão dele deslizou suavemente pelo seu braço descoberto.

Esperança RoubadaWhere stories live. Discover now