Capítulo 05

57 15 8
                                    

Flor finalmente havia conseguido alugar uma pequena casa. Cinco dias haviam se passado desde que Diego saíra do apartamento gritando e esbravejando acusações absurdas. Flor olhou com saudade os cômodos em que vivera tão feliz por um curto período de tempo. Ela já devia estar acostumada que em sua vida nada era permanente. Suspirou resignada por constatar que não poderia se lamentar por tudo que vivera.

Havia conhecido Diego no último ano da faculdade. Ela estava atrasada para uma palestra que teria no auditório do Campus com um importante advogado sobre o direito empresarial e suas vertentes. Ao entrar na sala abarrotada de gente pensando em passar despercebida, ela acabou tropeçando no tapete e esbarrando na cadeira que virou e seguiu derrubando objetos num trágico efeito dominó. A sala ficou silenciosa e todos olharam na direção da entrada fazendo-a congelar embaraçada.

-Des... desculpem... me. Gaguejou sentindo o rosto arder de vergonha. O palestrante lindo de tirar o fôlego a encarou com ironia e perguntou se ela sabia o significado da palavra discrição e respeito. Flor olhou ao redor e percebeu que todos no auditório aguardavam uma resposta dela com risinhos contidos.

-Eu deveria responder? Indagou ofendida. Ele ergueu uma sobrancelha com sarcasmo e encarou a turma com ar superior.

-Parece que ela está realmente perdida. Ele colocou as mãos nos bolsos da calça a encarando com arrogância. -Qual o seu curso moça?

-Pedagogia. Respondeu entredentes.

-E por que está aqui?

-Para conseguir pontuação extra. Disse sem pensar. -Quer dizer...

-Ah, entendi! Ele sorriu com frieza e voltou sua atenção para a turma. -Mais alguém está aqui apenas por causa de pontuação extra na grade curricular?

-Não! Responderam em uníssono. -Claro que não. Afirmaram entre risos.

-Então o que vai ser..., moça? Vai continuar impedindo a passagem, desistir de uma vez ou permitir que eu continue com a programação?

Flor fechou os olhos desejando que o chão se abrisse sob seus pés, no entanto não daria o gostinho para aquele insolente de vê-la ir embora envergonhada, por isso ergueu a cabeça o desafiando a mandá-la embora e procurou com olhar uma cadeira onde pudesse se acomodar. -Mas, se eu soubesse que seria crucificada não teria comparecido a essa palestra idiota. Resmungou furiosa por ele chamar sua atenção na frente de tantas pessoas. E mais uma vez se colocara numa posição humilhante, pois a acústica do auditório era muito boa e o palestrante tinha excelente audição.

-Percebi pela maneira, hã..., discreta com que quis entrar nessa sala. Disse fazendo todos gargalharem, o que deixava tudo pior por ser dentro de um auditório. Flor baixou os olhos se arrependendo de não ter desistido antes daquela palestra ridícula que a sua amiga havia insistido em inscrevê-las, e no final a deixado ir sozinha.

-Nã... não foi minha intenção! Murmurou trincando os dentes de raiva enquanto buscava um lugar para sentar. -Idiota!

-Muito bem..., acho que todos já se divertiram o bastante por hoje, não? O homem falou com ironia. -Vamos continuar com a programação. Completou encarando Flor com desprezo.

Ela realmente não queria aprovar nada que viesse daquele homem, mas minutos mais tarde se pegou apreciando o som da sua voz e em como ele transmitia o tema da apresentação com desenvoltura e charme, proporcionando fácil entendimento de assuntos normalmente tão entediantes como legislação e código civil. Ele não a olhou mais nem uma única vez durante a apresentação, e Flor de Liz se recriminou por se incomodar com o fato, por isso virou-se com um largo sorriso nos lábios para o garoto sentado na poltrona ao seu lado pedindo para que repetisse o que havia sussurrado em seu ouvido.

Esperança RoubadaWhere stories live. Discover now