Capítulo 15

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-O quê? Indagou confusa.

Diego a encarava com expressão magoada. Caminhou lentamente até a janela envidraçada e riu com humor sombrio. Flor esperou no silêncio que poderia ser cortado com uma lâmina afiada.

-Você está tão certa de que menti para você sobre tudo. Ele falou estoico. –Mas, a verdade é que realmente nunca te falei sobre meu passado, porque não importava. No entanto, sempre fui sincero em tudo sobre você. Ele disse contido. -E mesmo assim, chegamos a esse ponto.

-Do que está falando?

-Porque mentiu para mim? Ele murmurou angustiado pegando-a pelos ombros mergulhando dentro de seus olhos.

-O quê? Flor se afastou dele encarando-o confusa. -Quando menti para você?

-Mentiu sobre a gravidez.

-Do que está falando?

-O médico no hospital, disse que você não estava grávida. Ele acusou após alguns segundos de um incômodo silêncio.

-E agora te interessa? Ela debochou.

-Porque mentiu? Ele insistiu aborrecido.

-Não menti. Ela falou. -Os testes foram trocados.

-Como assim? Diego a encarou surpreso e ansioso.

-No dia da coleta do exame, de alguma forma, eu e a Bianca trocamos nossas identificações. Explicou indiferente. -Quem estava grávida era ela e não eu.

Flor o encarava tentando decifrar as emoções escondidas por trás da insistente pergunta e entender o súbito interesse dele naquele assunto.

-E porque não me contou?

-Eu tentei. Mas, caso tenha esquecido, você estava ocupado com alguém no apartamento e não te interessava o que eu tinha para falar.

-Então você...

-Porém, isso é passado. Ela interrompeu rígida. -Já não importa mais.

-Flor eu...

-Eu preciso ir agora. Flor colocou a mão na maçaneta da porta. -Desculpe ter tomado o seu tempo. E agradeço o que está fazendo pelas crianças do lar infantil.

-Flor, me escute, por favor! Diego suplicou ansioso. -Preciso explicar...

-E porque eu deveria? Ela interrompeu petulante.

Diego afrouxou o nó da gravata que usava e se aproximou invadindo seu espaço pessoal. Ele estava tão perto que Flor sentia o calor de sua respiração na pele e isso a estava deixando embriagada.

-Eu sinto muito por tudo o que houve, mas acho que devemos...

-Eu acho que não temos nada para falar um com o outro. Flor deu um passo atrás fugindo da teia de emoções que se formava em volta dela. Precisava manter-se irredutível contra o charme sedutor daquele homem.

-Flor, eu não posso ter filhos. Diego disse deixando-a perplexa. -Eu tive leucemia aos dezoito anos.

Flor de Liz abriu e fechou a boca sem conseguir que saísse nenhum som dado aquele momento perturbador.

-Aos dezoito anos tive uma grave doença que precisei me ausentar da minha vida social para fazer tratamento. Diego pigarreou encarando-a ansioso. Flor sentia suas pernas trêmulas e se arrastou até a cadeira mais próxima sentando-se pesadamente. -Essa notícia foi abafada pela família e eu fui para os Estados Unidos me tratar. Estudava com um tutor particular para não perder o ano, e a mídia ou amigos não ficaram sabendo a causa do meu afastamento do mundo. Ele continuou. -Havia uma menina com quem eu estava envolvido na época, a qual, eu pedi para darmos um tempo sem explicar que precisava ficar internado no hospital. Diego esboçou um sorriso triste.

Flor sentiu um aperto no peito ao imaginar a dor e solidão que ele precisou passar sozinho naqueles momentos.

-Ela concordou em esperar o meu retorno apesar da minha recusa em aceitar. -Não queria alguém preso a mim sem saber se ficaria curado.

Diego estava visivelmente desconfortável em falar sobre o assunto, porém respirou profundamente e continuou divagando.

-Então, fiquei afastado por dois anos para ter certeza da eficácia do tratamento antes de ter alta. Quando retornei a cidade, ela estava me esperando como prometeu que faria e eu realmente fiquei feliz por isso. Ele a encarou profundamente para então desviar o olhar levantando-se da poltrona em que estava acomodado. -Mas, olha a minha surpresa quando duas semanas depois ela me apresentou o resultado positivo de um teste de gravidez. Diego gargalhou sem humor. - Ela queria que nos casássemos antes que a barriga aparecesse, já que era de família tradicional e não queria manchar sua reputação..., quanta ironia.

Flor de Liz arregalou os olhos genuinamente espantados. Diego calou-se por um momento deslizando a mão perdida pelos cabelos.

-Quando a criança nascesse ela me diria ser prematura. Ele esboçou um leve sorriso cínico encarando o vazio à sua frente. -Enquanto eu agonizava numa cama e queria uma morte rápida por não suportar a dor do tratamento..., ela se divertia com o primeiro que aparecia na frente dela. Diego tinha uma expressão severa e feroz no seu rosto bem desenhado ao lembrar o passado doloroso. -Fiquei amortecido. Eu não a amava, mas acreditei que ela nutria sentimentos por mim e estava disposto a oficializar a relação por causa da dedicação que ela demonstrou. Continuou impassível. -Se ela tivesse sido honesta comigo e admitido sua fraqueza, eu não a teria culpado, afinal foram dois anos. Mas, ela preferiu mentir e me impor uma criança de outro. Eu nunca serei pai. Por causa da minha condição de saúde fiquei estéril.

-E por causa de uma mulher que nem conheço, você me acusou, julgou e sentenciou. Flor disse com dureza fazendo-o encará-la surpreendido por sua reação. -Nunca me deu o beneficio da dúvida.

-Tente me entender...

-Porque eu deveria? Ela murmurou rouca pela voz embargada de emoções contidas. -Eu confiava em você, Diego! Mas você mentia para mim o tempo todo!

-Flor eu nunca menti para você sobre isso!

-Mentiras..., omissões..., tanto faz! Acusou com voz trêmula. -Para mim é a mesma coisa. Você me enganava o tempo todo, enquanto eu estava cega de amor por você! Mas isso acabou!

-Flor, por favor!

-Eu te amava Diego! Gritou alterada. -Confiava que nosso amor era mais forte e inabalável do que qualquer coisa. Continuou arfando. -Eu sonhava em ter uma família com você...

-Eu ainda quero uma família com você! Diego interrompeu ansioso.

-No entanto..., eu não quero mais. Concluiu com dureza. -Sabe que essa situação me fez tirar a venda cor de rosa que eu tinha em relação a você? Enquanto eu te beijava fazendo planos de ser mãe, você me abraçava sem remorso de me iludir com algo que sabia jamais ser possível.

-Não fala assim..., nunca foi minha intenção! Eu não planejei tudo isso...

Flor sentia dor pelo que Diego havia passado, mas ela também estava quebrada e não tinha intenção de perdoá-lo naquele momento. Suas emoções estavam tão afloradas que ela sentia a necessidade de fugir dali antes que resolvesse envolvê-lo em seus braços e implorar por mais uma chance com ele. Por isso, abriu subitamente a porta da sala e saiu cega pelo desespero colocando o máximo de distância entre os dois. E assim, ela não viu quando Diego desabou seu corpo pesadamente em uma cadeira cobrindo o rosto com as mãos em óbvio estado de angústia e amargura.

Esperança RoubadaWhere stories live. Discover now