Capítulo 13

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Dias atuais...

Flor de Liz acordou de seu devaneio quando o ônibus deu uma freada brusca. Olhou ao redor e percebeu que já deveria descer, pois havia chegado ao seu destino.

Reuniu toda a sua coragem e com a respiração entrecortada ela adentrou o imponente prédio a passos largos e decididos. Era uma mulher com uma missão e estava pronta para o combate. Ao sair do elevador olhou ao redor e seguiu pelo longo corredor até encontrar uma elegante recepção. Ficou momentaneamente confusa sobre para onde deveria seguir, até que avistou uma antiga conhecida e a chamou.

-Lívia! Lembra de mim?

-Hã..., e...eu...

-Sou eu, Flor de Liz. Da Faculdade Augusto ribeiro e amiga de Maria Luiza! É que cortei e tingi o meu cabelo. Disse ao vê-la encarando-a com desconfiança.

-Ah, aquela do curso de Pedagogia que andava com a Malu, lembro sim! Respondeu com um sorriso largo. –O que está fazendo por aqui?

-Preciso falar com uma pessoa que trabalha em um desses escritórios, mas não sei em qual. Você pode me ajudar?

-Se eu conhecer o nome. Disse constrangida. Flor de Liz anuiu compreensiva, pois sabia que a antiga colega era incapaz de reconhecer rostos, doença que desenvolveu após sofrer um acidente de carro. –Estou trabalhando aqui há pouco tempo e não conheço muitas pessoas. Explicou tímida.

-Entendo...

-O que está fazendo aqui?

Flor de Liz sentiu um calafrio percorrer sua espinha ao ouvir aquela voz grave e hipnotizante. Sentiu raiva de si mesma por conseguir ser afetada tão facilmente. Virou-se lentamente e o encarou com rancor. Diego tinha uma expressão contida e indecifrável quando seus olhares se encontraram. Flor engoliu em seco e se recompôs.

-Eu poderia te perguntar o mesmo. Respondeu contendo a raiva que ameaçava explodir.

-O que quer dizer?

-Veja por si mesmo! Flor pegou a pasta de documentos que carregava e empurrou na direção dele sustentando seu olhar confuso.

-O que você está fazendo com isso? Ele indagou ao abrir a pasta e verificar o que continha.

-Não acha que me deve uma explicação?

Diego olhou ao redor e quando notou a curiosidade das pessoas que circulavam no hall do prédio segurou o braço de Flor de Liz carregando-a em direção ao elevador.

-O que pensa que está fazendo? Irritou-se tentado se libertar.

-A não ser que queira discutir o assunto com uma platéia, acho melhor vir comigo! Disse ele.

Flor o acompanhou a contragosto em silêncio.

Realmente parece que Diego possuía uma vida secreta. Flor constatou aborrecida. Ela o havia conhecido como um advogado recentemente formado tentando ainda se firmar como profissional, aceitando todo tipo de trabalho que pudesse enriquecer o currículo dele e por quase dois anos haviam vivido juntos sem que ela percebesse que ele possuía outra vida. Mas, a realidade dele era outra, diferente da que ela costumava conhecer. Pensou olhando ao redor com curiosidade mal contida. Tudo ao seu redor eram requintado e luxuoso naquele lugar e Diego aparentava fazer parte daquele mundo.

-Após ter me formado eu trabalhei por um tempo nos escritórios de minha família. Ele disse repentino ao perceber seu olhar de curiosidade. –Mas, não era o que eu queria. Muitas pessoas se aproximavam de mim tentando conseguir algum benefício. Eu estava cansado de ser usado e manipulado pelas pessoas que eu amava ou aquelas em que havia acabado de conhecer. Diego continuou rígido. -Por isso, fiz um acordo com minha mãe. Eu deveria viver por conta própria sem usar o nome da família e quando estivesse pronto voltaria e casaria com quem ela quisesse. Ele disse ao vê-la olhar ao redor desinteressada. -Só que a realidade foi outra. Eu me apaixonei e não tinha mais interesse nas imposições de minha mãe. Por isso, eu nunca falei nada..., eu queria que ela te aceitasse primeiro antes de colocá-las uma de frente para a outra.

-Eu não acredito em você. Flor disse enquanto saiam do elevador.

-Sinto muito. Eu não...

-Eu não estou aqui para você justificar suas mentiras. Ela cortou brava. –Não estou interessada em quem é você ou sua família! Ao que parecia Diego nunca havia confiado nela. Pensou ressentida. Para começar ela nunca sequer desconfiou que ele fizesse parte de um escritório de advocacia tão grande e influente como o Alcântara e Alencar.

Não devo me preocupar. Flor pensou tentando evitar ficar tocada pelas palavras ditas anteriormente. Preciso seguir em frente.

-Entendo. Ele resmungou carrancudo. Diego colocou as mãos nos bolsos e seguiu pelo luxuoso corredor até uma ampla porta de madeira brilhante. Uma elegante mulher que digitava freneticamente em seu computador sob uma mesa de mogno, os encarou com curiosidade. –Segure todas as ligações por quinze minutos. Ele ordenou abrindo a porta e sinalizando a entrada de Flor de Liz.

-E então, vai me explicar sobre o que você está fazendo? Indagou irritada assim que ele fechou a porta.

-Não sei do que está falando. Diego respondeu com indiferença.

-A escola onde sou voluntária! Gritou sem conseguir conter-se. -É por minha causa?

-Não se dê tanta importância. Ele debochou com um sorriso frio. -Porque eu faria algo por sua causa?

-Você mandou demolir! Acusou apontando o dedo em seu peito. -Você sabe o quanto amo aquelas crianças e por isso quer machucá-las para me ferir. Flor estava tão exaltada que estava se tornando irracional ao desejar esbofeteá-lo. -Será que tem tanta raiva de mim que prefere agir desse modo?

-Não me importo com você!

-Então o que é? Indagou com os olhos rasos de lágrimas contidas a todo custo. -Porque de repente resolveu destruir todos os meus sonhos?

-Você acha que é o centro do meu universo? Ele indagou gélido. -Que sou totalmente irracional e inescrupuloso?

-Claro que não! Respondeu desviando o olhar sentindo-se envergonhada por suas tolas esperanças. –Só que você está chateado comigo e por isso...

-E por isso, achou que eu seria capaz de prejudicar pessoas inocentes para atingi-la. Ele completou sombrio.

-Talvez eu tenha exagerado um pouco. Ela disse arrependida de sua explosão emocional. -Porém, isso não exclui o fato de que a escola está sendo demolida e que você é o responsável.

Diego a olhou longamente e suspirou.

-Reformada.

-O quê?

-A escola está sendo reformada junto com os dormitórios. Diego explicou indiferente. - Nosso escritório comprou o espaço a fim de regularizar a doação e está reformando e ampliando tudo que é possível.

-É sério?Flor cobriu a boca o encarando emocionada.

-Eu achei que você me conhecia melhor. Diego resmungou virando-lhes as costas. –Não era minha intenção que você descobrisse dessa maneira.

-Fico feliz por você estar fazendo uma boa ação para aquelas crianças. Flor disse com um sorriso agradecido. –Apesar das nossas desavenças.

-Flor, eu...

Esperança RoubadaOnde histórias criam vida. Descubra agora