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O comportamento de Kevin ficava cada vez mais difícil de entender,  havia momentos que ele era silencioso e carente,  e outros que ele se comportava de maneira fria e agressiva. E Sarah era quem mais  sofria por não conseguir decifra- lo.

—– Talvez ele tenha desenvolvido algum tipo de sentimento pelas crianças ou as cuidadoras do orfanato, e só está com saudades —  David tentou encontrar uma resposta para acalmar os ânimos da esposa que andava de um lado para o outro.

—– Não, não acho que seja isso, as crianças geralmente sabem qual será o destino delas, elas são preparadas para isso, Kevin sabe porque está aqui, ele entende, embora ainda seja muito pequeno.

—– Querida, ele só está assustado, precisa ter paciência, ele vai se adaptar.

—– Eu sei, mas já tem semanas, desde que ele chegou, não me deixa toca- lo, ele se afasta quando chego perto dele, eu não entendo —  Sarah explode arrasada

—– Talvez,  ele só precise de mais tempo, algumas crianças levam mais tempo do que outras para se adaptarem à nova vida,  você não precisa ficar assim — David fala com um tom calma e sereno, enquanto massageia os ombros tensos da esposa.

—– Será que estou sendo uma péssima mãe — Ela olhou pra ele

—– Claro que não meu amor, de onde você tirou isso?  — Ele  a abraçou — Você é uma ótima mãe, não é culpa sua.

Enquanto David consolava Sarah. Kevin ouvia tudo do outro lado e não tinha expressão nenhuma em seu rosto, ele não parecia compreender porque dois estranhos estavam abraçados e ressentidos por causa dele.


Ele olhou para as marcas em seu braço e se lembrou da última vez que se comportou mal. E lembrou do olhar frio e sombrio de sua mãe, e isso provocou pânico dentro dele fazendo com que o líquido amarelado descesse pelas suas pernas.


Inocentemente ele saiu pela porta e parou diante dos pais adotivos e começou chorar.


—– Desculpa, eu não vou fazer de novo,  eu prometo.

Sarah enxugou as lágrimas dos olhos e o encarou confusa.  David tentou lembrar da última vez que isso aconteceu.

Kevin estendeu as mãos para Sarah, esperando que fosse punido pelo seu comportamento indecente.

—– Por favor, por favor, não me coloque pra dormir no berço.

Kevin sabia que era incapaz de esticar as pernas, estando em um espaço tão pequeno, e por isso acordava com muita dor no dia seguinte e mal conseguia andar.

Esse era o castigo que a sua mãe infligia a ele, toda vez que ele fazia xixi na cama.

Segunda ela, só bebês fazem isso. E o berço era pra convencer a Kevin de que ele não era mais um bebê.

—– Berço? — David perguntou, confuso.

—– Claro que não, meu amor — Sarah tomou as dores do garoto e se aproximou para abraça-lo,  e ficou feliz por ele não ter se afastado — Vamos,vou arrumar outra calça pra você.

Ela o colocou no colo e seguiu para o quarto, enquanto David tentava assimilar o que acabara de acontecer.

Sarah trocou a roupa do menino, e o colocou para dormir em sua cama grande e confortável, e isso deu um instante de paz para o seu coração.

—– Ele falou berço? —  David cochichou desconfiado, enquanto Sarah  fechava a porta.

—– Ele deve ter se confundido ou ouvido alguma história no orfanato,  você sabe, aquela para crianças que se comportam mal — Sarah disse animada.

Mas David ainda tinha as suas dúvidas. E percebeu que a esposa estava feliz demais pra raciocinar.

—– Então não acha estranho ele fazer xixi na roupa de propósito, porque ele sabe que isso é errado.

David insistiu, enquanto Sarah recolhia os brinquedos de Kevin, espalhados pela casa.

—– David não foi de propósito, ele deve ter se esquecido —  Ela fala caminhando até o cesto — Não se esqueça que ele é apenas uma criança

David decidiu não discutir aquele assunto com a esposa, embora ele achasse muito estranho o comportamento de Kevin.

... 

No dia seguinte ele se assustou com a presença repentina do garoto na cozinha.

—– Você me assustou, rapazinho, por que acordou tão cedo?

Ele disse indo em sua direção.

Kevin permaneceu calado, incomodando David com o seu olhar misterioso.

—– Ok, não quer falar, ótimo —  Resmungou

Ele seguiu até a geladeira e procurou uma caixa de leite.

—– Eu levantei cedo,  porque tenho que  trabalhar,  eu sempre trabalho nesse horário, um dia te levo na empresa para você ver como é legal.

David sorriu, mas logo ficou sem graça por não ver nenhuma reação da parte do  garoto, exceto quando viu Sarah, que seu semblante clareou e os seus lábios se curvaram em um largo sorriso.

—– Bom dia, amores da minha vida —  Ela deu um beijo na testa de cada um, em seguida se sentou à mesa — Vejo que acordaram cedo.

—– Bom, Kevin, acordou primeiro que eu hoje — Ele olhou estranho para o garoto, visto que ele estava bastante animado com a presença da mãe enquanto que com ele, agiu com indiferença.

—– Isso é verdade, Kevin?

Ele sorriu e balançou a cabeça. David ficou olhando para aqueles dois estranhamente,  tentando entender.

—– Bom, vou trabalhar, já deu a minha hora — Disse seco

—– Vai lá querido, bom trabalho — Sarah inclinou a cabeça pra trás para receber o  beijo dele.

David se despediu dos dois e saiu pela porta, mas não deixou de dar uma última olhada em Kevin que ainda o encarava com um olhar fixo e sombrio 

O Garoto do Lago ( Conto)Where stories live. Discover now