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Alguns meses se passaram, e Sarah já havia dado à luz ao fruto do seu amor proibido, a quem deu o nome de Alice. Uma menina adorável cujo os  cabelos eram castanhos e olhos esverdeados, sua beleza encantou a todos à sua volta. Exceto Kevin.

—– Quer segurá-la? —  Sarah perguntou para ele, que parecia apreensivo ao olhar aquele pequeno bebê.

Ele assentiu e estendeu os braços.

—– Não, é melhor eu segurá-la, Kevin ainda é muito pequeno para segurar uma criança, ele pode deixá-la cair —  David interviu inseguro fazendo Kevin olhar para ele furioso.

Ele foi um dos primeiros a enxergar que tinha algo errado na forma como Kevin se expressava, e não era como um garoto comum de oito anos. Então ele sabia que seu dever como pai era proteger sua garotinha a todo custo.

—– Ah, amor, não seja tão indelicado, Kevin só quer dar as boas vindas para a irmãzinha, não é querido? — Sarah disse gentilmente.


Kevin assentiu, mas olhou para David e sua expressão de alegria se transformou em medo, quando o mesmo o reprimiu com o olhar.

—– Kevin, pode nos dar licença, por favor? — David pediu ao garoto, que o encarou irritado e em seguida saiu do quarto.

David entregou a pequena Alice de volta para a esposa, e a encarou seriamente.

—– Você se lembra do que ele fez com o nosso cachorro, como pode confiar um bebê indefeso a ele.

—– Ele não fez por mal, ele é só um menino, não tem juizo.

—– O mesmo menino que empurrou uma criança na escola, que rasgou meus papéis, mesmo depois de eu ter dito que eram importantes, ele sabe que ia me chatear por isso ele fez..

—– Ainda está chateado com isso, deveria perdoá-lo, você o empurrou na piscina, ele achou no direito de revidar, só isso, criança copiam o que os pais fazem — Sarah falou enquanto balançando a criança.

—– Como pode defendê-lo assim?

—– Por que apesar de tudo, ele é o nosso filho, determinamos isso quando assinamos aqueles papéis, prometemos cuidar dele, e eu também já conversei com ele sobre as coisas que fez, e ele  prometeu que não ia fazer mais..

—– Ah claro, porque uma única conversa resolve tudo. Ele vive o tempo todo nos matos aqui ao redor, vai saber quantos animais já não matou...

—– Para com isso, ele se sente sozinho, ainda mais agora que Alice nasceu, então temos que ser atenciosos com ele também, e não procurar uma forma de tornar isso mais difícil, vai atrás dele e peça desculpas.

David pensou por alguns minutos e resolveu obedecer a esposa, e quando abriu a porta deu de cara com  Kevin com uma expressão assustadora.

—– Há quanto tempo está aí?

—– O suficiente para ouvir."vai atrás dele e peça desculpas". Estou esperando, papai — Cruzou os braços

David se estressou com aquela situação e agarrou o menino pelo braço, arrastando-o para o quarto ao lado.

—– Olha, eu tenho tentado ser um bom pai, mas você faz coisas que me tira do sério às vezes.

—– Eu prometo que não vou mais ficar atrás da porta.

—– Isso é o problema Kevin, você sempre promete, mas nunca cumpre as coisas que diz, e isso me deixa chateado, entende?

—– Você não gosta mais de mim?

—– Não diga isso, eu gosto de você, mas eu te conheço, e só estou tentando consertar as coisas, ok?

David não podia explicar os seus reais sentimentos perante ao garoto, porque temia que ele se apoderasse de suas fraquezas.

—– Te amo filho — Ele abraçou o garoto, que ficou estranhamente contente.

Mas David sabia do desafio que estaria esperando por ele.

O que movia a ira de Kevin, muitas vezes não era a forma como seu pai o tratava, e sim o ciúme que ele sentia de sua mãe com a sua irmã.  Ele era capaz de compreender que aquela estranha criaturinha havia se tornado o foco principal da sua casa e que ele era só um garoto arteiro que precisava de uma  disciplina severa.

Enquanto tudo era um jardim florido em plena primavera quando se tratava da irmã.

—– Hora de dormir, irmãzinha.

Ele aproveitou que sua mãe estava dormindo no outro quarto para entrar no quarto da irmã.  Ele acendeu a luz e caminhou até o berço onde supostamente a pequena estava dormindo. Ele a apanhou em seus braços e caminhou até a janela.

—– Kevin, o que está fazendo acordado? — Sarah perguntou


O garoto virou para trás e expôs a criança em seu colo. O que fez com que Sarah imediatamente entrasse em desespero, e em um súbito movimento tomasse a criança dele.

—– O que você ia fazer com ela?

Ela perguntou temendo a resposta do garoto, e então se lembrou imediatamente do que David havia te dito.

—– Me responde —  Ela insistiu em meio às lágrimas de desespero, imaginando o que poderia ter acontecido se ela não tivesse acordado a tempo.

—– Desculpa, mamãe — O garoto se agarrou nela e começou a chorar

—– Não, filho, está tudo bem — Ela o consolou, passando uma de suas mãos livres na cabeça dele — Eu só fiquei com medo, só isso, não precisa chorar.

Enquanto Sarah o consolava, notou uma diferença em seu crescimento, agora o garoto já não era mais aquele do qual ela havia se apaixonado quando o conheceu, e sim um completo estranho habitando a sua casa.

O Garoto do Lago ( Conto)Where stories live. Discover now