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Era o primeiro dia de aula de Kevin, e tanto Sarah como David estavam animados com isso.

—– Pegou a mochila, querida? —  Perguntou David, ansioso.

—– Sim,  amor — Sarah respondeu, enquanto penteava o cabelo de Kevin,  animada.

—– Não quero ir — Disse o garoto, irritado.

—– Filho é o seu primeiro dia, na verdade é o seu primeiro dia em uma escola de verdade — Ela disse ajeitando o uniforme do garoto

Mal sabia Sarah, que Kevin sabia muito bem o que era uma escola e como era estudar com outras crianças.

—– Eu odeio estudar.

—– Como pode odiar algo que nunca experimentou.

Sarah se levantou, e Kevin a acompanhou com os olhos até ela não estar mais a altura dele.

—– Pronto, está perfeito, um lindo rapazinho —  Elogiou — Nem acredito que estou vivendo pra ver o meu garotinho entrar na escola.

—– Pois é,  parece até um sonho —  David, disse parado ao lado dela—  Querem carona? eu deixo vocês lá.

—– Sim, querido.

Durante o trajeto, Kevin olhava pela janela, com a cara emburrada e os braços cruzados. Ele estava bravo  por não conseguir convencer os pais de que a escola não era um  lugar para alguém como ele.

—– Querido, são só algumas horas, depois a mamãe vai buscar você, e olha que legal, é só algumas quadras daqui, vai poder vim sozinho quando ficar maior...

—– É Kevin, e seus coleguinhas são da vizinhança, o que significa que vai poder se encontrar com eles mais vezes — Acrescentou David.

Kevin ignorou os pais totalmente e continuou olhando fixamente para janela.

Assim que o carro parou, ele se recusou a sair, e foi preciso David intervir.

—– Desculpe,  ele não está acostumado com escola, sabe? — Ele disse para uma professora enquanto tentava acalmar Kevin que se debatia em seu colo.

—– Ei, Kevin,  não precisa agir dessa forma —  A professora tentou conversar com o garoto que gritava no colo do pai.

—– Não adianta, vamos ter que esperar até ele se cansar  — David disse confiante.

Depois de perceber que seu apelo não estava funcionando, o menino simplesmente parou de gritar e entrou na sala se juntando as outras crianças.

—– Viu?

—– Impressionante.

—– Essa não é a primeira vez que ele faz birra.

David voltou para o carro onde sua esposa estava esperando aflita por ele.

—– E aí como foi? —  Ela perguntou com as unhas na boca.

—– Tenso, mas eu fui paciente — Ele sorriu.

—– Não pode deixar ele gritar até parar, eu ouvi os gritos daqui

—– Bom, crianças fazem isso o tempo todo, e Kevin faz por prazer, porque ele gosta de testar a nossa paciência,olha só o que ele fez com a minha roupa de trabalho.

Sarah não conseguiu segurar o riso, ao ver o marido todo atrapalhado tentando se limpar.

—– Ah, agora você rir.

—– Nunca pensei que chegaríamos a esse ponto, olha só para nós,  somos pais, e estamos tão confusos, bate até um certo desespero.

—– Acho que estamos indo bem.

—– Tomara que sim.

Os dois deram risadas da sua falta de experiência. Enquanto isso na escola, Kevin se recusava a fazer qualquer tipo de atividade que envolvia outras crianças. E passou o recreio inteiro dentro da sala, rabiscando e olhando para o relógio, calculando a hora  que os  seus pais chegariam para  tirá-lo de lá.

Em casa, Sarah se divertia no seu momento de mãe que acabara de deixar o filho na escola,  apesar de sentir falta da presença quase imperceptível de Kevin,  já que ele passava o dia no quarto ou no jardim desenterrando as plantas, tipo de atividade incomum para uma criança da idade dele.


Mas Sarah, apesar de tudo, gostava das esquisitices do filho, ela gostava dessa sensação deliciosa de ter que cuidar de uma criança, ela amava lavar as roupinhas dele,  cozinhar coisas que ele particularmente gostava de comer, em fim, era uma experiência incrível que ela estava vivendo.


Ela julgava a dificuldade de criar o filho como sendo normal, já que todas as mães passam por isso.  O que impedia que ela percebesse algumas manias estranhas do garoto.

Quando ela estava arrumando o quarto dele, decidiu dar uma olhada nos desenhos que ele havia escondido embaixo do colchão, e se assustou completamente com os desenhos bizarros do menino, algo como monstros, uma mulher de cabelos compridos e rosto pálido, com olhos parados como se a observasse, rapidamente ela largou as folhas onde estava e saiu para tomar um ar e se livrar daquela sensação horripilante.

—– Ah, isso é normal, eles são cheios de imaginação, desenham tudo o que vem na cabeça deles — Disse Débora, sua melhor amiga e vizinha.

Débora era a única naquela vizinhança que sabia dos segredos de Sarah.

—– Mas eram desenhos horríveis, tinham até pessoas sem cabeça — Sarah disse espantada ao lembrar.

—– Ai Sarah, que besteira, olha o Henrique tem doze anos, e acredite tem coisas que encontrei dele,que não gosto nem de lembrar — Débora debochou enquanto olhava o filho com a mangueira lavar o carro do pai. Espera até começarem a namorar.

—– Ok, era tudo o que eu precisava ouvir — Sarah disse mais tranquila e entretida.

—– Pelo menos é uma boa desculpa para vim até minha casa, depois de passar uma década longe.

—– Desculpa, amiga, eu estava numa correria com a adoção que nem tive tempo de ver você, aliás como você está?

—– Levando a vida — Ela suspirou

—– Que bom, amiga.

—– Por que você não entra? vou preparar um café pra gente...

—– Não posso, prometi ao kevin que estaria lá quando ele saísse, não quero acabar me atrasando

—– Sei como é, a fase das promessas —  Débora riu.

—– Sim — Sarah riu — Foi bom rever você.

—– Foi bom rever você também, se cuida — Débora se despediu da amiga com um abraço.

—– Pode deixar.

Assim que a amiga entrou em casa,  Sarah tirou do bolso um desenho particular que não quis mostrar para  Débora por insegurança.  Onde havia uma mulher jovem de cabelos compridos e um olhar marcante que ela cismou ser alguém ligada emocionalmente a Kevin, já que a maioria dos desenhos dele eram sobre ela.

O Garoto do Lago ( Conto)Where stories live. Discover now