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Da janela do seu quarto, Kevin observava algumas crianças sendo levadas pelos seus novos pais, e isso  fazia ele lembrar da escola. Quando ele aguardava ansiosamente a sua mãe ir buscá-lo, mas ela nem sempre aparecia, e isso o deixava triste e frustrado.

—– Kevin?

Ele olhou para trás e viu a doçura nos olhos de Diana, em seguida ele desceu os olhos para a mão dela que estava levemente estendida em sua direção.

—– Venha comigo, tem alguém que quero que você conheça — Ela fala com um sorriso meigo e convidativo.

Kevin só gostava dela, porque ela lembrava um pouco á  sua mãe, por conta dos cabelos negros e compridos. E isso dava a ele um certo conforto, e aquele lugar não parecia ser tão solitário e assustador com ela presente.

Mas apesar disso, ele não gostava da maneira gentil que ela se mostrava , toda vez que queria se livrar dele.

Por um instante, Kevin pensou que sua mãe havia se arrependido e voltado para busca-lo. O sonho que teve na noite anterior o convencera disso, mas quando chegou na sala foi uma mulher diferente que ele viu.

Ela era ruiva, alta e tinha olhos verdes e arregalados, além de varias sardas espalhadas pelo seu rosto, que Kevin demostrou curiosidade ao perceber.

A mulher era tão diferente das outras que vieram. Na cabeça dele,  ela tinha mais cores que as demais. Pois ela estava vestida com um vestido azul marinho, e nos pés, calçava uma fina sandália branca que destacava bem seus dedos compridos e unhas pintadas de renda.

A mulher estranha o encarou sorridente e ansiosa, em seguida o cumprimentou gentilmente, estendendo a mão.

—– Olá, Kevin.

Seu silêncio mostrava a decepção que ele havia sentido ao perceber que seu fim seria como o das outras crianças, a adoção. Todos os dias ele assistia frustrado, as crianças entrarem e saírem daquele lugar, desaparecendo completamente e a dúvida o aborrecida constantemente, assim também como o enorme vazio que sua mãe havia deixado em seu coração.

—– Kevin, essa é a judith, ela quem vai adotar você — Diana adiantou-se enquanto ajeitava o colarinho do pequeno garoto como se o preparasse para o seu destino inevitável.

Mas ele olhou para a mulher e raiva logo o consumiu , deixando transparecer algo sombrio para ela, algo que a impactou tão negativamente que fez com que ela repensasse a sua escolha, já que ele estava longe de ser a criança de suas espectativas. Então ela não quis se dar o trabalho e desistiu de adota-lo.

No corredor Diana arrastava Kevin pelo braço até o quarto, e era visível a indignação que ela estava sentindo por ele ter se comportado mal, como da outra vez que ele arrancou os cabelos de uma mulher, só pelo fato da mesma querer acariciá-lo.

—– Se continuar assim, vai apodrecer nesse orfanato e acredite quando você ficar grandinho demais, ninguém vai te querer, escuta o que eu estou dizendo -  Ela o empurrou para o quarto em seguida bateu a porta com força não conseguindo conter sua raiva

E isso deixou o garoto perplexo e ofegante. Apesar daquilo não o assombrar tanto, já que nem sua mãe o queria.

Irritado, ele começou a gritar, descontando sua raiva nas folhas alvas de um caderno que ele usava para rabiscar a face triste da sua mãe, a única expressão da qual ele se lembra.

E depois que terminou, ele deitou no chão, exausto, e encarou o teto,  perdido nas poucas memórias que tinha da mãe.

No quarto ao lado, Diana se sentia mal e envergonhada por ter dito aquelas palavras para ele, embora ele nem parecesse se importar, mas ela reconhecia que estava ali para dar conforto e amor, e não para destruir as esperanças daquelas frágeis crianças que não pediram para estar ali.

Se arrependeu amargamente de ter descontado suas frustrações no garoto, e tentou se redimir por isso, mas quando ela fora no quarto dele naquela noite, achou ele envolto no seu sono profundo. Então suspirou profundamente, foi até ele e o envolveu com um cobertor quente e macio, depositando logo em seguida um beijo em seu rosto. Como um pedido de desculpas por ter deixado ele ir dormir com aquelas palavras tão cruéis.

..............

Do outro lado da cidade, Lian tinha dificuldades para dormir, pensando e sonhando com aquela mulher, da qual ele se lembrava perfeitamente do rosto. Ele se perguntava o porquê de tanta crueldade. Kevin só tinha cinco anos, era incapaz de se defender..Ele pensou que se não fosse ele ali para salva-lo, no dia seguinte seu rosto estaria estampado nas manchetes do jornal como criança desaparecida. E depois como um pobre garotinho que foi encontrado boiando nu em um lago, vítima da crueldade humana.

Embora outros já estivessem responsáveis por esse caso, e contando que ele era apenas um policial aposentado. Ele decidiu fazer sua própria investigação. Afinal, ele também era parte da história, e interessava tanto ele como aos detetives descobrir o que de fato havia acontecido naquela manhã fria de sábado.

Em paralelo a ele.

Kevin se esforçava para ser uma criança normal, mas era impossível, já que a criação que recebeu fora totalmente equivocada. Ele não queria estar ali, mas também não queria ir para outro lugar que não fosse para sua casa, para os braços inseguros de sua mãe.

E todas as pessoas ali, conheciam bem as  suas dificuldades e lutavam juntos com ele para poder enfrentá-las. Especialmente Maria, que nunca havia cuidado de uma criança com tantos problemas como Kevin. O silêncio mortal dele a assustava, pois era difícil saber o que ele estava sentindo, e muito menos o que se passava em sua cabeça, mas ela não desistia e sempre procurava entendê-lo pelos mínimos detalhes. Como pelo seu olhar vago e confuso.

Ela pensava:

"Como uma criança tão pequena, pode ter tantos segredos"

O Garoto do Lago ( Conto)Wo Geschichten leben. Entdecke jetzt