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Kevin por outro lado, não expressava nenhuma reação diante do corpo sem vida do pai. Ninguém sabia o que ele estava sentindo, muitos argumentos eram sobre o fato dele está em choque com tudo que estava acontecendo, e isso fazia com que todos sentisse pena dele.

Mas ele via além das pessoas, conseguia ver seus reais sentimentos perante o ocorrido, haviam pessoas que estavam ali por está, por pura curiosidade, outras estavam ressentidas, mas não conheciam o David, algumas choravam, outras riam da tristeza de Sarah como se aquilo fosse um castigo dado a ela. Todos esses sentimentos se misturavam com os dele, transformando aquela situação em algo insuportável para uma criança de apenas nove anos suportar.


Kevin sabia que tinha algo de muito errado com ele, porém não conseguia entender o que era.

Nem ele mesmo entendia como fazia essas coisas, ele apenas se sentia diferente de todo mundo, como se não pertencesse aquele lugar de fato.


Depois da morte de David. Sarah se viu no fundo do poço, ela que antes recorria a remédios para regular o sono, agora precisava de um incentivo a mais para continuar vivendo, um remédio que tirasse ela daquela cena terrível, onde presenciou a pessoa com quem passou os últimos seis anos da sua vida morrer em seus braços, e tudo por sua culpa.

Ela voltou a tomar os remédios que antes acalentavam as suas crises de ansiedade, para poder suportar os dias, e também cuidar dos seus filhos, que dependiam dela, e eram a única coisa que a mantinha acordada. Mas a vida dela agora parecia não fazer o menor sentido.

Na memória, o rosto do marido se revelava, trazendo dor e angústia para Sarah, que se espremia entre o travesseiro a noite sem conseguir dormir.


Para Alice era fácil mentir porque ela é inocente demais para entender certo tipo de situações, mas para Kevin que viu o pai no caixão era impossível mentir. Era perturbador pra ela, ter lidar com as perguntas dele, diariamente.

-- Melhor você comer, se não vai esfriar - Ela alertou a ele, depois de vê- lo mergulhar várias vezes a colher na sopa.

Ele colocou a colher na boca, fitando-a com um olhar frio.

-- Não adianta me olhar assim.

-- Posso ir na casa do Lian, hoje?

-- Não, não pode?

Ela levantou da cadeira e começou a recolher os pratos da mesa. Mas antes de chegar até a pia, ela derrubou tudo no chão.

A risada assustadora de Kevin se estendeu pela casa, chamando a sua atenção.

-- Já chega, vai para o seu quarto.

Quando ela olhou para o garoto, viu que ele olhava para ela, sério e confuso.

-- Por que, o que foi que eu fiz?

Ela então percebeu que os remédios já estavam tendo seus efeitos colaterais.

Pois o prato estava intacto em sua mão e seu filho sequer tinha expressão de quem estava debochando de si.


Ela passou a mão na testa e viu que estava com febre, além dos calafrios que sentia cada vez que dava um passo.

-- Nada, você não fez nada, mas ainda sim quero que vá para o seu quarto - Ela se virou e colocou o prato na pia, demorando para assimilar o que acabara de acontecer


Mais tarde ela resolveu ir ao parque com os seus filhos para espairecer um pouco, mas notou que sua presença ali era um tanto desagradável, já que as mães resolveram tirar as suas crianças de perto das dela.

Como se seus filhos tivessem culpa pelos erros que ela cometeu.

Isso a deixou extremamente incomodada, então ela decidiu voltar pra casa.

-- Mãe, por que estamos indo embora? Eu nem brinquei direito - Kevin resmungou enquanto era puxado pelo braço.

Mas Sarah estava tão abalada que o ignorou completamente.

A situação de Sarah se dificultava, ela sabia que uma hora a reserva de dinheiro deixada pelo marido iria acabar, e ela teria que trabalhar o dobro para poder se manter, e manter os seus filhos. Sem contar a casa. E só de pensar nisso, já era motivo suficiente para ela se entupir de remédios, chegando até mistura-los com bebida.

O Garoto do Lago ( Conto)Where stories live. Discover now