O Garoto do Lago ( Conto)

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—– Não consigo mais fazer isso — Disse Sarah assim que Lian abriu a porta

Ela passou por ele e colocou a sua filha no sofá, em seguida ligou a tv em um desenho aleatório pra ela poder assistir.

—– Isso o quê? — Lian perguntou, indo atrás dela.

—– Isso, nós, essa situação, eu não consigo mais, me sinto muito culpada, por ter mentido para o David, por estar aqui com você...por tudo — Lamentou aos plantos.

—– Ele desconfia de alguma coisa? — Lian perguntou friamente, ignorando o desespero da mulher.

—– Não, mas ontem ele chegou alterado e parecia triste, e isso doeu no meu coração, tenho que contar a verdade para ele e pro Kevin antes que seja tarde demais

—– Depois de eu ter ameaçado a Débora, você quer contar a verdade.

—–  Você ameaçou a Débora? Por que diabos fez isso? —  Sarah se irritou.

—– Você disse que ela estava te incomodando, eu só achei que dando um susto nela, ela iria te deixar em paz.

—– Não deveria ter feito isso.

—– Era isso ou ela contar para o seu marido sobre a gente.

Sarah passou a mão no cabelo, atordoada.

—– Já sei, vamos fugir, eu, você, a Alice e o kevin, para um lugar bem longe. Lian se animou.

—– Você está se escutando?

Lian se aproximou e agarrou o rosto de Sarah.

—– Estou falando sério, não tem nada que prenda a gente aqui, vamos para Londres, Chicago, qualquer outro lugar...

—– Não vou deixar o David — Sarah apelou

—– Ah claro, porque trata ele como um dos seus filhos, porque como marido ele não tem servido de nada...

Sarah deu um tapa no rosto de Lian movida pela raiva.

—– Nunca mais diga isso.

—– Nem pra fazer um filho ele presta, se não fosse por mim, você nem iria ser mãe...

De repente, David arrombou a porta e entrou na casa com o rosto encharcado de lágrimas, porém repleto de ódio.

—– David? — Sarah disse completamente assustada.

Ele, sem pensar duas vezes, partiu pra cima de Lian, o derrubando no chão, e ambos começaram uma briga corporal, enquanto Sarah gritava e tentava separá-los.

Em paralelo a isso,  Alice dava risadas do desenho, apontando para a tela.

—– Desgraçado — David cuspiu enquanto socava a cara de Lian diversas vezes, o impossibilitando de se defender.

—– David, para, por favor —  Sarah gritou, puxando-o pela camisa.

—– Para? — Ele parou e olhou furioso para Sarah que se encolheu diante da sua ira — Como pôde fazer isso comigo...me enganar esse tempo todo, dizendo que a garota era a minha filha, brincando com os meus sentimentos, eu confiei em você.

David segurou o peito como se não conseguisse suportar a dor que estava sentindo.

—– Você me fez amá-la como se fosse a minha filha — Ele soluçou arrasado.

—– Me perdoe, por favor, eu não queria que as coisas chegassem a esse ponto —  Sarah disse aos plantos, tentando abraçar o marido, mas ele se afastou e olhou para Alice que por coincidência olhou para ele também e sorriu.

—–  Olha papai — Ela disse apontando para o desenho — E a expressão no rosto de David foi de imensa dor.

Ele voltou os olhos para Lian, que estava com o rosto lavado em sangue e depois para Sarah que se espremia para conter o seu desespero, e sorriu.

—– Sempre tentamos ter um filho, era nosso sonho, só nosso, eu te apoiei em todas as suas perdas, se você não estava feliz era só ter me dito, e não...feito isso...você partiu o meu coração em inúmeros pedaços

—– Amor, as coisas fugiram do controle.

—– Ah, fugiram, não é?

David se aproximou de Sarah, agarrou o pescoço dela e a pressionou na parede.

—– Eu poderia te matar agora, mas isso não iria me beneficiar em nada. Então desejo que os dois sejam muito felizes.

—– Não — Sarah tentou parar o marido numa tentativa frustrada de segurar o braço dele, mas foi inútil

David estava descontrolado pela raiva e a sua força era dez vezes maior que a dela.

E sua única atitude foi sair por aquela porta e se jogar no primeiro carro que aparecesse.

—– Não — Sarah correu desesperada para socorrer o marido

Mas sua morte foi instantânea, não rendendo a ele sequer um suspiro.

Porém Sarah não estava certa disso, ela estava em choque. Balançando o corpo sem vida do marido em seus braços como se fosse um bebê.

—– Calma, meu amor, vai ficar tudo bem — Alisou o rosto dele

Em questão de minutos todos da vizinhança ficaram sabendo sobre o suposto caso dos dois. E Débora, observava toda aquela tragédia a distância, aliviada, por não ter feito parte daquilo.

Mesmo em choque e abalada, Sarah se preocupou em buscar o filho na escola. Mas ao chegar lá notou indiferença do garoto ao correr na sua frente.

Kevin costumava pressentir as coisas, e ele não parecia nada contente ao ver a mãe.

Por descuido, ele deixou cair um papel no chão que Sarah apanhou, em seguida tampou a boca horrorizada.

Ao ver que ele tinha desenhado uma mulher no meio da rua, segurando um homem morto em seus braços. Enquanto era velada pela multidão à sua volta.

Ele descreveu perfeitamente a tragédia que acabara de acontecer.