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Sarah que antes era feliz e cheia de planos para o futuro. Agora estava se tornando uma pessoa irreconhecível, paranóica e viciada em remédios. Ela ficava o tempo todo em casa remoendo feridas, e com a cabeça cheia de memórias do seu marido morto. Volta e meia ela até se deparava com ele em algum cômodo da casa e se esforçava para acreditar que aquilo não era real , mas por outro lado ela acabava abraçando aquela ilusão afim de sentir de volta o calor do corpo dele, de ouvir o belo som de sua risada ecoar pela a casa, e sua boca salivava de vontade de tomar o café que só ele sabia preparar.


Ela sempre acordava com Kevin parado na porta do seu quarto, a observando e nunca entendia o porquê. Ela às vezes acordava em horários diferentes do habitual. Ela tomava os remédios, mas se esquecia de ter tomado, e tomava de novo, e isso gerava alucinações, ilusões bizarras do próprio filho se materializando em um ser horrendo, que ameaçava a vida dela e da sua filha que dormia sempre ao seu lado. Era a única consciência que ela tinha, proteger sua filha a qualquer custo.

A garotinha sempre estava com ela, até mesmo para ir ao banheiro.

Por um momento, ela até acreditou que merecia isso, que era como uma maldição. O que ela fez com David foi imperdoável, e como aqui se faz aqui se paga, ela acreditava que essa era a sua sentença a ser cumprida.

-- Débora, eu preciso da sua ajuda, por favor, você tem que me ajudar -Ela disse parada na porta da amiga com sua filha em seus braços.

Débora olhou para a aparência horrível da amiga e se assustou completamente

Sarah estava descabelada e descalça, e olhava o tempo todo para trás como se estivesse sendo perseguida.

Ela sentiu pena, porém o seu orgulho era maior do que sua compaixão, e ela bateu a porta na cara de Sarah. E ficou ouvindo os seus gritos abafados do outro lado até ela parar.

E essa não era a primeira vez que Sarah a procurava, e todas as vezes Débora deixava a raiva e o rancor falar mais alto que sua compaixão.

Sarah só viu uma melhora nas crises depois que parou de tomar os remédios, e assim recuperou um pouco da sua sanidade. Mas ainda tinha medo da versão que conheceu do filho enquanto estava fora de si, ela acreditava que aquela criatura monstruosa ainda estava por aí em algum lugar.

-- Você está muito bonita, mamãe - Kevin disse durante o café da manhã

-- Obrigado - Ela evitou olhar para ele.

-- Você vai me levar pra escola, hoje? - Ele perguntou empolgado

-- Não depende mais de mim para te levar à escola, você é bem grandinho, conhece o caminho - Ela falou sem emoção na voz

-- Mas eu gosto da sua companhia.

-- Você tem a minha companhia o tempo todo, Kevin, eu vou estar aqui quando você voltar - Ela falou impaciente

Ela foi até o armário, pegou a mamadeira da filha e a encheu de leite.

-- Está bem - Kevin bufou, pegando a mochila.


Depois que o garoto saiu, Sarah respirou aliviada. Mas se sentiu culpada por julgar um garoto de apenas oito anos, baseado em suas paranóias. Talvez aquela imagem nem tenha sido real.

-- Kevin, espere - Ele chamou.

O garoto voltou para a cozinha.

-- Espere a sua irmã terminar de tomar o leite que eu te levo - Ela disse forçando um sorriso.

Mais tarde, ela estava com a filha fazendo seus afazeres domésticos, e feliz por ver que sua vida estava voltando para os eixos.

Depois que terminou, ela se dirigiu até a filha que estava sentada no sofá, assistindo.

-- Hora do banho - Ela disse com uma voz animada, em seguida a pegou em seu colo

Enquanto colocava a filha para dormir. Ela espiou pela janela, e olhou para a casa da frente, tentando adivinhar como Lian estava se sentindo com tudo o que aconteceu.

Será que ele estava arrependido? Sofrendo ou vivendo a sua vida normalmente?

Era difícil saber, e ela também não iria até lá perguntar, ela prometeu para si mesma que nunca mais pisaria os pés naquela casa mesmo o amando muito.

O Garoto do Lago ( Conto)Where stories live. Discover now